ILHA NOVA:
Aquele pequenino pedaço de terra na entrada da Lagoa dos Patos escondia mistérios, lá onde o vento sul denominado Minuano batia forte e frio, nos meses de inverno, era o local da pesca do bagre.
A safra começava nos meados de maio e ia até agosto; era farta porem trabalhosa.
A pequena ilha nova como era chamada pelos pescadores que lá acampavam neste período de pescaria, era bastante inóspita, vegetação rala, sem proteção dos ventos fortes que costumavam atingir aquela região da grande Lagoa dos Patos, servia de ponto de partida dos pequenos barcos para a captura dos peixes com suas redes de espera conhecidas como feiticeiras, entre eles; o motivo do nome nunca chegaram a descobrir, pois mesmos os pescadores mais antigos nunca tiveram uma explicação para o estranho nome. Eram redes que colocavam em dois paus fincados no fundo do mar onde a profundidade era menor a qual era amarrada as redes que ficavam a espera do pescado que se prendia as suas malhas de tamanho apropriado para pegar apenas os peixes maiores deixando passar os menores.
Varias famílias de pescadores ali se estabeleciam precariamente, neste tempo de pesca abundante, vindos de vários lugares da região para dali tirarem o sustento de suas famílias.
Suas moradias eram na maioria das vezes de pau a pique como eram conhecidas; tabuas pregadas em escoras de madeira e cobertas com macega (um tipo de vegetação própria do lugar). Nestas condições aquele povo acostumado à lida em condições precárias ali permanecia pelo tempo necessário enquanto a pesca era farta.
Enquanto os homens passavam a noite a cuidar das redes que eram colocadas no final do dia, antes do sol se por e retiradas pela manhã após a coleta do pescado aprisionado durante a noite, as mulheres e seus filhos ficavam nos toscos casebres a cuidar das lidas domesticas; as crianças a brincar e ouvir historia contadas quase sempre pelas mulheres mais velhas, historias sempre relacionada com o dia a dia de suas vidas, sempre cheias de sonhos e criatividade, apesar da dureza da existência pobre e sem grandes perspectivas.
Dona Amélia, a mais antiga entre as mulheres do lugar era a mais respeitada e a que tinha o dom de encantar as crianças do lugar e até muitos adultos que se interessavam por suas historias cheias de mistérios e causos assustadores que inventava ou sabe-se lá se não os houvera vividos relmente.
Janaina, a doce e bela Janaina, devia ter uns treze anos, em plena puberdade era a mais sonhadora entre toda a criançada e também a mais velha, referencia para todos os outros Piazitos, meninos e meninas daquele lugar, cheios de encantamentos apesar da rudeza do clima; mas ali naquela pequena ilha onde todos eram como uma só família eles se sentiam seguros e livres igual os pássaros e aves que compartilhavam com eles aquela ilhota isolada no meio duma imensidão de águas límpidas que quando iluminadas pelo astro Rei causava um efeito deslumbrante a todos que tinham o privilégio de presenciar a pujança da natureza em sua plenitude e harmonia.
Os temporais naquela região da Lagoa era comum, o tempo mudava rapidamente e quando isso acontecia os homens ficavam em terra e não se aventuravam ao mar, pois suas frágeis embarcações não lhes proporcionava segurança contra as correntes e as ondas picadas comum nos mares de dentro, tão perigosos como os mares oceânicos, era um local onde comumente acontecia o fenômeno das trombas d’água, um ciclone comum nos grandes espaços da Lagoa dos Patos.
Foi uma historia de Tromba D’água, contada por D’ Amélia, que mais impressionava Janaina;
O acontecido se dera nos idos de sessenta; assim começava o relato da contadora de causos,
Jurema e Clodoaldo, recém-casados, ela linda morena, cabelos negros como a asa da graúna,
Ele forte que nem um Touro e destemido, não tinha medo de trabalho duro nem de tempestade, enfrentava qualquer tempo, mas seu proposito era ganhar o sustento na lida da pesca assim como fizeram suas gerações passadas, só que ele queria dar uma vida melhor para a sua Jurema, seu sonho era um dia poder comprar um barco a motor e ir para outros locais da Lagoa pescar camarões, linguados, peixes mais nobres e valorizados no mercado das cidades próximas e assim ter uma vida melhor junto a sua amada.
Os dois eram motivos de admiração entre os locais, cordatos, sempre solícitos a qualquer pedido de ajuda, realmente queridos na pequena comunidade.
Mas a tragédia se deu sem anuncio, naquela noite já cedo prenunciava uma tempestade no horizonte, os amigos mais experientes de Clodoaldo já haviam colocado seus pequenos barcos presos a terra e naquela noite ficariam em seus casebres junto às esposas e companheira e suas crias, na iriam se aventurar ao mar; mas Clodoaldo apesar de ser um bom homem nada temia, poderíamos dizer que era seu único pecado, vaidade e destemor exacerbado raiando a irresponsabilidade.
Jurema sempre acompanhava Clodoaldo até as redes de espera, para ajuda-lo na lida e porque preferia ficar do seu lado a esquentar a cama vazia sem a presença do seu homem, pois no pequeno barco entre uma olhada e recolha dos peixes da rede ficavam de chamego e se amavam sob as estrelas nos intervalos da lida, assim era as noites dos dois apaixonados.
Tudo foi muito rápido, a tempestade chegou trazendo ondas enormes e um uivar do vento indescritível, de terra o povaréu assustado tentava se proteger uns aos outros ficando juntos no grande barracão onde eram guardadas as redes e outros apetrechos de pesca, pois ali era uma construção mais segura e lhes tranquilizava a presença de todos no mesmo local.
Clodoaldo e Jurema não tiveram tempo de mais nada abraçados os dois foram engalfinhados pela Tromba D’água junto com o pequeno barco e sumiram por entre os clarões dos relâmpagos, deixando atônitos todos os que presenciaram o acontecido.
Após a tempestade acalmar e o dia raiar lindo e ensolarado, apenas com uma brisa fria a varrer aquele lugar tão especial, duas gaivotas pousaram no barraco de Clodoaldo e Jurema e ali ficaram a bicarem-se carinhosamente por longo tempo, chamando a atenção de todos os moradores. Aquela cena passou a repetir-se até os dias de hoje conta D’Amélia com um sorriso suave e misterioso em seu rosto que trazem as marcas de tanta vivência e histórias.
Janaina saiu dali pensativa e melancólica e sentou-se a beira da lagoa e lá ficou a admirar os mergulhos das Gaivotas e tentar identificar entre elas Clodoaldo e Janaina.
E em sua inocente meninice ficou a sonhar com um amor igual, mas querendo para Si um final mais feliz.
(Valmirolino).
valmirolino
Enviado por valmirolino em 17/03/2013
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