Nas ondas do ar.

Nem vasos gregos pintados podem descrever a vida de humanos empoeirados. O corpo queima e lembranças permanecem pelo ar. Seus restos mortais ficam, se aquietam e se juntam no fundo de um pote. Histórias são contadas, rezam lendas, mitos surgem; contudo pessoa alguma pode detalhar bocas que olham minunciosamente, olhos que saboreiam o aroma doce e pulmões que escutam o ritmo do mundo.

Bocas que quando molhadas percebem a sutileza do ar e ao inspirar enxergam a vida renascendo a cada respirar. Lábios que quando secos olham a dor de não ter o que beber e a cor que percebem é o preto do fechar dos olhos.

Olhos coloridos que sentem o sabor das cores, tocam o vazio e fungam um aroma azedo. Olhos redondos que enxergam o quadrado e descobrem o triângulo de uma maneira que somente ao piscar, o odor sobe e sentem o doce, o forte e o fraco.

Agora os pulmões que se mexem ao som do mundo em sua rotação, se agitam e se arrepiam jogando para fora todo ar que possuíam com somente um riso. Dançam e convidam o corpo para os acompanhar em um som que só os mais fortes podem ouvir - a vibração da terra.

Momentos são desperdiçados no vento e não podem ser guardados em pequenos potes e nem sentidos por palavras vazias. Palavra alguma pode descrever o que se passa na mente quando a mesma se junta ao coração.