A caçada final

O sol se pôs, a corrente fria de vento dominou o ambiente, o silêncio já estava presente como se jamais tivesse se ausentado. Os animais que Nur jamais pensou existir, agora começavam a sair de buracos, pedras sobrepostas em outras e até alguns camuflados que ele não imaginou resistirem à alta temperatura do dia. As areias que antes cegava os olhos, cortava a pele e irritava as articulações agora eram pesadas e mal saiam da altura de seu pé; ao menos nessas circunstâncias, o único problema seria a locomoção haja vista dificuldade em se mover por aquela areia quase movediça. Sua caverna apesar de pouco úmida, o protegia das altas temperaturas diárias e queimaduras que poderiam chegar a matá-lo naquele inferno. Uma pena que ali não era o inferno, aliás queria Nur achar um demônio para que pode-se dialogar com ele.. talvez isso fosse perigoso; falar poderia tirar a pouca saliva que restava entre sua língua e o céu-da-boca. A salvo das altas temperaturas Nur retirou o tecido que cobria seu rosto e deixou seus longos cabelos negros caírem por suas costas, afinal eram esses cabelos escuros e volumosos que iriam protegê-lo das baixas temperaturas encontradas nessa área pela noite. Recolheu os mantimentos, sua espada, que ao receber a pouca luz da lua que atravessava a fresta de entrada de seu esconderijo refletia na lâmina, quase não vista de tão fina, uma luz serena, calma e suficiente para ofuscar a visão de um inimigo próximo. Saindo da caverna, com esforço para passar pela saída tão pequena, saída essa que poderia ser entrada para predadores se de maior extensão, pode ver o luar em si, belo e aterrorizante ao mesmo tempo; era lua cheia. Imediatamente após lembrar-se da fase perigosa da lua buscou seu meio de locomoção, Atif, seu camelo, que permanecia sentado meio que em repouso próximo a entrada de sua caverna.

- Atif, vamos. O camelo de olhos fechados, de cabeça erguida, levantava-se como se estivesse dormindo mas já disposto a levar seu senhor onde quer que ele deseje. Logo após prender os mantimentos e demais equipamentos na cela de seu camelo, subiu a ele e em velocidade fugiu dali. Já fazia 2 anos que Nur desbravava-se por aquelas terras atrás daquele lobinho, 2 anos de vitórias e derrotas, 2 anos de golpes certeiros e que quase possibilitaram a captura da besta, mas também 2 anos de cicatrizes como a de seu olho esquerdo, agora sem a capacidade de proporcioná-lo uma boa visão. Apesar da vantagem que Nur levava sobre a maioria dos animais que era pago para caçar, lua cheia não era momento para se brincar com um lobisomem, principalmente quando esse lobisomem está dominado por uma ira de saber que Nur foi o responsável por dizimar toda sua tribo. Lua crescente, o lobisomem que Nur buscava, era mesmo em sua forma humana um homem bastante alto, de cabelos longos loiros e muito vigorosos como seu corpo. Seus braços, pernas, cintura, peitoral e demais partes do corpo eram bem mais grossas como se mesmo em estado humanóide ele conseguisse manter sua força e agilidade em fase bestial. De repente, um uivo separou o medo e o azar de Nur, ele não sabia se iria morrer ao ter o azar de encontrar-se diretamente com Lua crescente, ou se o medo de morrer na mão de uma das criaturas que mais buscou em sua vida de caçadas iria fazê-lo fugir dali.

- Atif, vamos!

Gritos e ataques de seu calcanhar a parte lateral da barriga do animal fizeram com que ele apresasse o passo, apesar de Lua crescente poder correr de 3 a 5 vezes mais que um camelo em boas condições. Momentos após o início da retirada, Nur pode ouvir, sentir.. pressentir.. Passos largos, fortes e geradores de estrondos quando batidos na areia se aproximavam por suas costas, e mesmo sabendo que seria difícil sobreviver a uma investida de Lua crescente, era melhor pegá-lo ao menos de surpresa com um golpe certeiro do que decidir virar-se e lutar de igual para igual. Cada salto da criatura que se aproximava por trás de seu camelo eram cerca de 20 palpitadas de seu coração, quando a respiração da besta pode denunciar sua presençar, Nur não perdeu tempo e se virou cortando o peitoral do animal com sua espada. Com a velocidade com que Lua Crescente havia pulado a espada de Nur atravessou uma de suas costelas porém ambos continuaram na direção do salto da besta caindo alguns metros depois do camelo. Nur sabia que apesar de sua desvantagem, estando por baixo da besta, tinha que sair daquela posição virando-se momentos antes da queda por trás da besta e golpeando a parte traseira do crânio da criatura com uma de suas adagas. Caindo, sem o menor jeito, Nur levantou-se esperando uma investida de Lua crescente quando notou duas coisas muito esquisitas. Inicialmente a criatura havia morrido. Ela estava estática no chão, jorrando sangue de suas costas, pela espada trespassada em uma das costelas, mais sangue ainda de seu crânio, pela pressão certeira da adaga e o pior.. esse lupino não era Lua crescente.