As Crônicas da China Antiga - Prólogo

As paredes de pedra do feudo tremiam violentamente a cada investida. O Exército de Ferro atacava as paredes de doze metros de espessura com toda a força que possuía. Tentavam destruir o Feudo Vermelho não importa como.

- Ataquem a muralha norte! – Gritou Liang Ho, o Cavaleiro de Ferro, sobre o seu cavalo de batalha.

Os exércitos de Hu Yong, do Feudo Vermelho, avançaram contra os invasores como mães tentando proteger as filhas de alguma peste. Os senhores olhavam furiosos um para o outro.

- Destruam os invasores! – Lorde Hu Yong ergueu sua espada e avançou contra os invasores. – Abram o Portão da Alvorada!

O enorme portão vermelho foi aberto em um crack. Um segundo depois, Lorde Hu Yong e Lorde Liang Ho estavam frente a frente em seus corcéis de batalha. Com espadas em mãos e olhando um para o outro.

- Vejo que conseguiu mais um cento de espadas Lorde Ho – disse Yong, olhando para alguns homens que invadiam o seu feudo. Não possuía nenhum fio de medo na voz. Nada. Ele realmente era um Guerreiro do Sol. – Mas precisará de mais do que isso para derrubar a mim e ao Feudo Vermelho.

Lorde Ho soltou uma gargalhada nervosa.

- Não acho que eu precise de tantos homens para derrubar isso que o senhor chama de casa! Tenho os deuses comigo e eles são os únicos homens de que preciso.

Os tilintar das espadas chocando-se umas nas outras não chamou a atenção de nenhum dos dois lordes que estavam lutando com os olhos. Lorde Hu era um homem gordo, olhos puxados e barba cinza que descia até o peito; usava um velho quimono com um símbolo bordado ao peito, o símbolo do seu Clã. Uma mulher banhando-se ao Sol.

Lorde Ho tinha olhos puxados, tinha um cabelo negro como a noite que caia pelo ombro; usava um quimono com o símbolo do seu Clã pintado nas costas. A espada enfiada na terra.

- Não tenho medo dos seus deuses, mi Lorde – a voz de Hu parecia um pouco tênue, mas a manteve firme.

- Não estou dizendo que tem medo... apenas que não preciso de nada mais do que eles para acabar com o senhor.

As armaduras dos homens do Exército de Ferro e do Exército Vermelho estavam cintilando com o brilho do fogo azul-alaranjado que lambia o céu escuro. Uma noite sem lua, mas com milhões de estrelas que pareciam olhos vendo a batalha transcorrer.

- Esperava que o senhor já tivesse avançado...

Lorde Hu foi interrompido por uma gigantesca sombra que passou pelo céu com uma velocidade impressionante. Tremera tanto que deixou a espada cair. Os guerreiros também pareciam não entender nada do que acontecia.

- Esse é um dos meus deuses – lhe disse Lorde Ho, apontando para o céu. – Curve-se diante do seu novo Imperador e pouparei a sua vida.

Lorde Hu Yong soltou uma gargalhada alta que ecoou até chegar aos ouvidos de Ho.

- Não me curvarei diante de você, meu caro – lançou um olhar desafiador para Lorde Ho. – Meus homens também não.

- É o que veremos depois da batalha!

O corcel negro de Ho ficou em duas patas e relinchou alto. A sombra ainda percorria por todo o campo de batalha manchado pelo fogo no feudo e rugiu. Alto e estridente. E o deus desceu do céu, aterrissando perto dos homens batalhando.

- Um dragão? – disse Ho Yong, parecendo sem palavras diante da magnífica criatura.

Escamas cobriam o seu corpo de mais de cinquenta metros, uma enorme cabeça e dentes tão afiados quanto katanas. Asas de cor verde-escura abriram-se e cobriram quase todo o tamanho da enorme e bela criatura. Os homens começaram a correr.

- Seus homens não são tão corajosos como pensei que fosse – zombou Liang Ho. – Pensei que tentariam atacar o dragão.

- Eles não são tão idiotas a esse ponto – retrucou Hu Yong, puxando uma espada presa às costas. – Eles nunca atacariam um dragão, sabem o que ele pode fazer.

- É verdade – Liang respondeu -, não os acho tão idiotas a esse ponto.

Os homens comandados por Liang, agora tomavam o Feudo Vermelho e o estava defendendo e quem tentasse entrar.

- Rende-se? – perguntou Liang, pela última vez.

- NUNCA! – respondeu Yong com um súbito ar de fúria.

- Então, que venha à guerra!

Yong avançou como uma flecha contra Lorde Liang. O dragão verde-escuro soltou um rugido que fez os campos estremecerem com o forte vento que saiu de sua enorme boca dentada.

Lorde Liang permaneceu parado, olhando o avanço rápido de Yong. Olhava para a espada em suas mãos, a Fio da Aurora. Ela brilhava com o oscilar do fogo no feudo, parecia uma espada mágica. Algo que ela não é, pensou, mas se conteve em não dizer.

E a Fio da Aurora estava se aproximando... mas foi derrubada pela calda do dragão. Ele se aproximou e o corcel ao qual Lorde Hu Yong ergueu-se e derrubou o homem no chão com um forte baque.

- Como eu disse Lorde Hu – disse Liang, descendo do cavalo e indo em direção ao homem caído de bunda no chão. – Não precisaria mais de homens do que dos meus deuses e veja: - apontou para o feudo queimando e para os homens matando uns aos outros – eu tomei o grande Feudo Vermelho! E irei marchar contra Enlai e acabar com o Imperador e subir ao meu trono!

- As tropas do Imperador Cheng Bao não permitiram que você e esse seu Exército de Ferro derrubem aqueles portões, os portões que rodeiam Enlai! – exclamou Hu, erguendo-se do chão...

...e a espada de Lorde Liang Ho atravessou a garganta do homem, silenciando-o.

- Não pedi a sua opinião sobre o que Lorde Cheng Bao irá fazer – ele é um lorde e não um imperador, ele usurpou o meu trono. Virou-se para o feudo e gritou: - Lorde Hu Yong está morto, curvem-se diante de mim e eu os manterei vivos!

Os homens que restaram do Exército Vermelho lançaram as suas armas ao chão e se curvaram, em uma reverência para o novo senhor.

- Ótimo! – ele disse e olhou para o seu dragão. – Venha Mu Ai! – o enorme dragão bateu asas e se aproximou. – Quero que se recuperem o máximo que puderem e nós iremos marchar contra Enlai.

Alguns generais o olharam com desdém. Tinham medo do dragão, Liang sabia, mas gostava de ver o medo nos olhos daqueles homens. E subiu em Mu Ai, o dragão levantou vôo.

- Espero todos vocês em Fortaleza do Rochedo... Vamos Mu Ai!

O dragão e seu montador desapareceram pelo céu escuro enquanto o fogo ainda crepitava e queimava palhas e colheitas dentro do que restara de Feudo Vermelho.

Cheng Bao irá cair, jurou para si, e cairá perante as minhas mãos como um traidor do Imperador Real...

Bruno Sheen
Enviado por Bruno Sheen em 28/05/2013
Código do texto: T4313566
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