O Conto Das Pétalas E Um Menino

Em um dia nublado em que o sol e a lua se encontravam, três flores nasceram em uma colina. A primeira de cor rosa, a segunda de cor branca. Elas brilhavam intensamente, e não era só com os raios do sol, ao luar tinham luzes próprias, algo que alguns homens haviam visto mas nunca haviam compartilhado pois todos que chegaram naquela colina nunca mais voltaram. Talvez tivessem morrido...

Sim amigos, morreram, pois a terceira flor era diferente de todas as outras e muito perigosa também. Tinha um tom negro, mas um negro cintilante que aos que olhavam, sentiam uma mistura de sentimentos incrível...é complicado de se explicar, só quem viveu isso poderia dizer exatamente. É como se um medo reconfortante tomasse conta do corpo de quem a visse, e nenhum dos que estiveram na presença dela a olharam sem que protegessem seus olhos a primeira vista [ como quando olhamos o sol ]...Sentiam-se seguros mas uma adrenalina imensa percorria pelo seu corpo os deixando num alerta extremo.

Poderiam ter sobrevivido, mas a natureza gananciosa do homem sempre falou mais alto. Todos tentaram levar aquele tesouro desconhecido e isso foi um grande erro, um gravíssimo erro.

Era muito mais do que aparentava ser, não era apenas uma flor que fazia parte da colina, mas sim era quase a colina inteira, como se a grama, as outras arvores, a terra e até mesmo o vento que percorria por ali, fosse a extensão de suas raízes. Vocês devem estar se perguntando, como isso é possível, se a rosa nasceu da colina e não a colina nasceu da rosa, mas, como o amor, nunca puderam explicar em palavras, apenas sentir a ideia daquilo. E Aqueles que explicam o amor não entendem o que é amar, assim como a flor na colina.

Aqueles que tocavam a flor sabiam o que ela era, como se estivessem conversando e se conhecendo, mas ninguém, alem de um menino, a entendeu e, então, tentaram separa-la da colina, o que era impossível. Ao fazer isso, um tom vermelho escuro, muito forte e brilhante se formava no caule da flor passando para as gananciosas mãos e então indo pelo braço, chegando ao coração, deixando-o tão acelerado que, no final, fazia explodi-lo brutalmente.

Como maldição, a alma daqueles que morreram pela Flor Negra ficaram na colina coexistindo com a essência das três e, assim, deixando-as mais belas ainda.

Um certo dia um avião caíra próximo a colina. Nele estava um menino e seus pais. Na queda os dois morreram, mas o menino não, pois a parte em que estava sentado quase não sofrera dano, deixando apenas um corte nele, mas que infelizmente sangrava bastante. O menino saiu do avião, com a esperança de estar perto de alguma casa, ou cidade ou qualquer coisa que tivessem adultos para poder ajuda-lo. Pegou o telefone no bolso do pai (o que foi muito difícil, tendo que enfrentar o cadáver de quem amava tanto) mas estava todo quebrado, tudo estava quebrado, amassado e sem chance de concerto algum.

Não teve escolha, começou a caminhar e caminhar. Andou uns 800 metros mas estava sem forças. O Sol já estava abaixo do horizonte quando ele caiu no chão, vencido pela dor e a perda de pressão do seu corpo. Nesse momento, quando tudo estava escurecendo e a Lua começara a aparecer, ele viu a Flor branca...nunca havia imaginado algo tão bonito e estranho. Começava a pensar que estava louco pela falta de sangue, mas resolveu seguir em direção a mesma e aos poucos, a Flor rosa foi aparecendo com a curva da colina. Ficou mais encantado ainda e teve mais disposição para andar.

Só quando chegou próximo a elas, pode perceber a flor negra. Teve aquelas sensações estranhas que ela causa e ainda mais, sentiu forças de novo, como se não tivesse caído de um avião e levado um corte profundo no corpo. Ao toca-la, soube o que era aquela estranha flor...Mas ao invés de querer ter aquela coisa só pra si, o menino apenas deitou na colina e se entregou a ele, pois sabia, através da flor, que estivera em um lugar quase inacessível, sendo assim, quase impossível para sair de la naquelas condições. Ele pensava nos pais, nos tempos que passaram juntos, nos erros que os tornaram melhores e então fechou os olhos.

Então algo estranho aconteceu. As flores começaram a ficar mais brilhantes e dava pra se ouvir vozes, muito baixas e finas, saindo delas. O menino já não percebia o ambiente a sua volta e sua respiração havia parado. Quando sua alma se desprendia da matéria, uma pétala de cada Flor se soltou em um flash de luz intenso, que não produziu nenhum som, e pousou sobre o corpo do menino, uma em cada região diferente. Uma pétala negra sobre a cabeça, uma pétala branca sobre o coração e uma rosa sobre o corte.

Cada uma teve uma ação diferente sobre o corpo do menino. A pétala branca, trouxe sua alma de volta, a pétala negra trouxe sua consciência, suas memorias, seu amor...e a pétala rosa lhe trouxe a cura. O menino acordou depois de ter sonhado todo o acidente indo ao contrário (como numa fita cacete) e antes que acordasse, no final do sonho, via eles rindo planejando os planos futuros e coisas desse tipo.

O menino olhou pros lados sem saber onde estava, viu duas flores, mas elas não brilhavam como antes, era normais aos olhos dele, e a flor negra não conseguira enxergar pois estava de noite. Viu de longe o avião, saiu desesperado ao encontro do mesmo. Quando chegou, os destroços eram mais apavorantes ainda. Abriu a porta da cabine mas em vez de corpos havia pétalas jogadas no banco do avião. O menino nunca mais achou os pais, mas ao ver aquelas pétalas e tocar nelas, se sentiu consolado e seguro como nunca antes. Com o tempo ele soube da triste verdade, mas se sentia a pessoa mais sortuda do mundo, por alguma coisa que nunca conseguiu lembrar direito o que foi.

No ano de sua morte, semanas antes de sua partida, sua casa foi invadida por pétalas que eram parecidas a aquelas do avião. Elas o envolveram e trouxeram de volta suas memorias de como havia sobrevivido. O motivo de não ter lembrado era pela própria segurança das flores, pois a natureza gananciosa do homem sempre falou mais alto.

Da mesma forma que havia chegado la, o menino que agora era um velho um pouco caquético, pegou seu avião, que aprendera a pilotar com o pai, e foi ao encontro das flores. Chegando la, ele se ajoelhou no meio delas e então um forte vento pairou sobre a colina. Era um fim de tarde, o sol e a lua estavam de encontro um com o outro. Então as flores explodiram, num som seco e baixo, transformando-se em grandes bolas de luz, cada uma em sua cor, soltando todas as pétalas delas que recaíram sobre o velho-menino. Todas elas o envolveram, rodando e rodando cada vez mais rápido a sua volta. Ele pode ouvir as vozes de antes soar , que para ele eram desconhecidas, e então tudo foi se misturando nas cores daquelas pétalas.

De repente tudo parou, ele se sentiu leve e era como se não tivesse chão...quando abriu os olhos, ao invés de ver algo ele ouviu. Era as vozes de seus pais, que o levavam para encontro deles em algum lugar no país das almas livres.

João Matheus NS Pinto
Enviado por João Matheus NS Pinto em 01/06/2013
Reeditado em 25/06/2013
Código do texto: T4320352
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