O Acampamento

As sombras da noite avançavam rapidamente se acumulando em blocos nos pontos onde os galhos das árvores se tocavam no alto, formando um teto sobre a cabeça de Yago e Andressa, como a cúpula de uma catedral. O calor que tanto os tinha incomodado antes de chegar ao rio estava se esvaindo e em seu lugar vinha surgindo um frio penetrante que não em poucas ocasiões fez Andressa se encostar ao seu namorado à procura de aquecimento mútuo e de um apoio para seu corpo cansado.

- Acho que aqui está bom. Consegui ouvir a cachoeira? – Yago perguntou para Andressa que apurou a audição para tentar ouvir, mas a mata estava tão silenciosa naquela hora que não foi muito difícil de escutar a água corrente.

- Sim. Não nos distanciamos muito.

- Ótimo. Vamos acampar aqui mesmo – Yago se desvencilhou de Andressa que se agarrava ao seu braço e começou a tirar de sua mochila o material da barraca – Eu vou montando a barraca aqui. Você poderia pegar uns gravetos para a fogueira.

- Está bem.

- Só não vá se distanciar muito. Tente ficar no meu campo de visão.

- Quer parar de me tratar como uma criança? – Andressa disse, jogando sua mochila para Yago.

- Só quis dizer para não demorar muito. Já vai escurecer.

- Relaxe. Eu sei me cuidar – disse Andressa antes de se virar e sumir por entre os arbustos. Sozinho por alguns instantes, Yago deixou no chão, aos seus pés, o material com o qual montaria a barraca e se permitiu apreciar a paisagem por um momento. O vento soprando na copa das árvores e o som da cachoeira um pouco ao longe eram como uma música de fundo, muito sutil e suave para a calmaria do bosque. Retalhos de luz alaranjada do sol poente brincavam nos troncos grossos e no solo conforme a brisa vespertina balançava os galhos das árvores preguiçosamente, produzindo uma espécie de melodia de ninar que poderia deixar Yago uns minutos a mais admirando tudo aquilo, inebriado pelo clima sonolento do crepúsculo se não fosse por uma voz de mulher a lhe chamar o nome.

- Yago!

- Andressa? – ele disse, e depois mais alto – Andressa! – ele sai apressadamente na direção da voz da garota, afastando com as mãos as plantas no seu trajeto até quase se esbarrar em Andressa que vinha andando em direção contrária.

- Você está bem? – ele a pegou pelos ombros e a olhou de cima a baixo, como se para verificar se não faltava nada – O que aconteceu? Por que me chamou?

- Estou bem. Está tudo bem – Andressa disse com uma expressão que a deixava ao mesmo tempo maravilhada e confusa – Venha ver o que eu encontrei – ela pega na mão de Yago e o conduz com passos decididos até um determinado ponto da mata, onde existia uma clareira e mais além, algo que Yago sinceramente não esperava encontrar. As paredes de madeira com pequenas brechas nos cantos estavam sendo invadidas por trepadeiras que se ramificavam por elas em um abraço obstinado. Ao lado crescia muito perto um enorme carvalho, cujos galhos pendiam como uma ameaça sobre o telhado decadente. À frente da porta que tinha a superfície descascada pelas intempéries do tempo havia uma sacada de fachada cheia de ervas daninha que cresciam livremente ao seu redor. Tudo ali falava de abandono, de uma vida triste; não tinha nenhuma beleza esse lugar; mas Yago mesmo assim estava embasbacado, totalmente surpreso por ver aquela velha cabana.

- Que casa é essa?

- Não faço a mínima idéia – fala Andressa – Eu vinha catando gravetos quando me deparei com ela.

- Mora alguém aí?

- Ao julgar pelo estado deplorável em que ele se encontra, acho muito difícil.

- Não tenha tanta certeza. Já vi pessoas morando em lugares piores – Yago avança poucos passos na direção da cabana até Andressa segurar seu braço.

- Para onde você vai?

- Ora, vou ver o que tem ali dentro.

- Você está de brincadeira, não é? – disse Andressa que sentia arrepios só de olhar para a velha cabana, como se o maníaco da serra elétrica pudesse a qualquer momento romper pela porta e correr atrás deles.

- Não seja medrosa – Yago se solta do aperto de Andressa e anda pela clareira até a frente da cabana. Hesitante, ele sobe os degraus de madeira que o levam para a sacada e as tábuas rangiam com o peso de seus passos. Mas um pouco e ele chega a frente à porta e toca a maçaneta. Yago olha para trás antes de abri-la e encontra Andressa ao pé da sacada, observando-o temerosa.

- Yago, é melhor sairmos daqui. Não sabemos o que pode ter aí dentro. Pode haver aranhas, morcegos e outros animais nojentos que gostam de lugares úmidos e escuros. Muito deles podem até ser venenosos.

- Eu sei. Só vou dar uma olhada – Yago gira a maçaneta e empurra a porta que não oferece nenhuma resistência. Respirando fundo, ele mergulha nas trevas do interior da cabana.

- Yago – Andressa sobe os degraus da sacada e segui o namorado para dentro. A pouca luz da tarde que se esgueirava pelas brechas do telhado e pela porta mostravam um espaço sujo e vazio do tamanho aproximado de uma sala. Não havia tapetes, papel de parede ou quadros nas paredes ou piso que escondessem a feiúra das tábuas semi-apodrecidas. Nem morcegos ou insetos habitavam aquele lugar, como Andressa supôs.

- Nada. Só uma velha cabana – disse Yago.

- Quem construiria uma cabana no meio de uma floresta?

- Não sei. Pode ter sido um caçador. Já ouvi falar uma vez que alguns caçadores passavam muito tempo caçando e construíam cabanas para guardar sua caça e dormir.

- Então essa é a casa de férias de um caçador?

- Acho que essa é uma forma de se colocar.

- Mas está tudo tão feio. Ele não vem mais aqui?

- Sim. Deve ter mudado de vida. Ou morrido. Sei lá.

- Pois bem – Andressa disse – Foi muito interessante, mas temos que montar a barraca antes que anoiteça.

- Espere um pouco. E se acamparmos aqui?

- Como? – a garota ouviu aquilo como se Yago tivesse dito uma obscenidade – Você não está falando sério.

- Estou sim. Por que não? Isso nos pouparia um grande trabalho. Não há insetos ou morcegos como você disse.

- Não acredito que você quer dormir nessa cabana horrorosa por preguiça de montar a barraca.

- Não se trata disso. Mas esse lugar está aqui e não vejo porque não aproveitá-lo.

- Muito bem. Pode aproveitar ela sozinho. Eu é que não vou ficar aqui – disse Andressa dando meia volta.

- Andressa – Yago seguiu a garota que andava para fora da cabana sem olhar para trás – Aonde você vai?

- Vou pegar as coisas da barraca para montar ela aqui. Você se quiser pode dormir na cabana – Andressa falou, por fim, não exatamente irritada, mas decidida; sem considerar mais a proposta de Yago. Ele, por sua vez, resolveu ceder à vontade da namorada e montar a barraca na clareira em frente à cabana. Como a idéia toda da viagem partiu dele, Yago pensou em fazer a vontade dela ao menos uma vez, para variar. Logo que anoiteceu e as estrelas apareceram acima das árvores em todo seu esplendor, sem a poluição das cidades a lhe ocultar o brilho, a barraca estava montada e a fogueira acesa, onde os dois assavam marshmallows presos em gravetos.

- Se cansou dos marshmallows? – Yago perguntou, percebendo que Andressa nem olhava mais para as guloseimas.

- Sim. Devo ter comido um saco inteiro desse negócio. E isso engorda.

- Por que se preocupa com isso, se está tão magra?

- Não estou magra. Estou em forma porque me cuido. Deve se cuidar mais também. Ultimamente estou te achando meio gordinho.

- Não brinca – disse Yago olhando para o próprio abdome, tentando julgar se aquele comentário tinha fundamento. Andressa, no entanto, não estava reparando nele naquele momento. Desde que eles montaram a barraca e se sentaram em frente à fogueira que ela olhava para a cabana. Agora que anoiteceu, ela parecia ainda mais sinistra, envolta em sombras e mistérios.

- O que você acha que aconteceu? – ela pergunta.

- Com o quê?

Andressa fez um gesto com a cabeça para onde olhava.

- Com a cabana? Não sei. Deve ter sido abandonada há muito tempo.

- Parece mal assombrada.

- Bobagem.

- Não vai me dizer que não acredita em fantasmas.

- E não acredito mesmo. É uma crendice infantil.

- Ah, sei – Andressa disse se levantando e limpando as calças com as mãos.

- Aonde vai?

- Vou para a barraca. Está chato aqui fora. Pode ficar aqui. Pode ser que o pé-grande te pegue – disse Andressa. Com isso, ela vai para a barraca. O interior estava quentinho e confortável mesmo com as lanternas, cantis de água e bolsas que Yago tinha deixado espalhado como era de seu costume. Andressa deixou tudo no canto e se deitou em cima de seu saco de dormir, olhando para cima, para onde apontava a luz da lanterna que segurava. A garota não passou muito tempo entretida, divagando entre um pensamento e outro, até Yago engatinhar pela entrada da barraca e se deitar ao seu lado.

- Se divertindo? – ele perguntou.

- Se sua definição de diversão é caminhar horas em uma mata fechada, sendo quase devorado por mosquitos e por pouco não morrer de insolação, sim, estou me divertindo.

- Não precisa ser tão dura. Só queria fazer algo mais emocionante nessas férias.

- Ok. Desculpa. Sei que esse lugar era onde você acampava quando era criança e que te traz muitas lembranças boas, mas eu não estou muito acostumada com acampamentos.

- Sei disso. Apesar de que esse lugar exatamente é novo para mim também. Nós nunca passávamos da cachoeira quando eu e o pessoal da excursão víamos acampar.

- Por isso nunca tinha visto a cabana?

- Sim – Yago que observava a área iluminada pela lanterna se vira para ver o contorno do rosto de Andressa na penumbra. Ela ainda estava visivelmente cansada pelo dia de caminhada carregando uma mochila pesada em uma floresta densa, mas ainda assim ela continuava linda de um jeito natural e simples que o tinha encantado desde a primeira vez que a viu.

- Podemos ir para Paris nas próximas férias, se acampar não está sendo bom para você.

- Paris? – disse Andressa, cética.

- Foi só uma idéia – disse Yago, divertido – Claro que não dá para viajar para a França com o dinheiro que temos, mas podemos ir para uma praia no ano que vem. Pode ser interessante.

Andressa desliga a lanterna e a única iluminação depois provém da luz da fogueira que atravessava o tecido da barraca. A garota se vira para o lado, jogando seu corpo contra o de Yago. Seu rosto ficou encostado ao dele, sentindo sua respiração e o calor de seu corpo. Ela envolve o rapaz com seus braços e fala em um sussurro suave, encostando sua boca ao ouvido do namorado:

- Há outras maneiras de tornar essa viagem interessante também – disse, beijando o pescoço dele e subindo pelo maxilar, fazendo seu caminho até a boca. Yago a abraça e desce suas mãos pelas costas dela até a cintura. Ele vira para o lado, deitando Andressa sobre o saco de dormir onde ela estava antes, sem interromper o beijo. Seus braços soltam a cintura e sustentam seu corpo acima dela. Estava tudo profundamente silencioso, apenas o crepitar solitário da fogueira reduzindo-se a brasas e o roçar das roupas dos dois se fazia ouvir. Era como se existissem apenas os dois no mundo inteiro naquele momento e nada poderia os interromper. Andressa começa a tirar os braços ao redor do pescoço de Yago com intuito de descer suas mãos pelo seu peito e puxar sua camisa, mas suas mãos se prendem atrás da nuca dele, de modo que o rosto do rapaz é empurrado para baixo se chocando contra o dela quando Andressa tenta puxar suas mãos, quase machucando os lábios dos dois.

- O que foi? – perguntou Yago.

- Não sei. Minhas mãos estão presas – Andressa tenta inutilmente separar suas mãos. Vendo que ela não conseguia, Yago se afasta para trás ainda inclinado sobre a garota para ela passar as mãos por cima de sua cabeça. Quando assim ela o faz, os dois vêem sem entender que as mãos de Andressa estavam amarradas uma a outra como se estivessem algemadas com uma cordinha que eles não souberam identificar no escuro, enrolada nos pulsos dela sobre as mangas de seu casaco.

- Como você fez isso?

- Não fui eu. Como eu conseguiria amarrar minhas próprias mãos com esses nós cegos?

- Então quem foi?

- Não sei. Não estava assim há cinco minutos – disse Andressa, intrigada. Quando ela tenta se levantar, volta com um grito que era mais de susto do que de dor.

- Qual o problema?

- Meu cabelo – choramingou Andressa – Também está preso.

Yago tateia o cabelo dela, para descobrir onde estava preso e descobri que umas mechas estavam amarradas à alça da mochila ao lado. A mochila pesada de suprimentos e mudas de roupas mal se moveu quando a garota tentou se levantar.

- Se eu disser onde eles estão presos promete que não vai gritar

- Por quê?... Sim.

- Eles estão amarrados à mochila com nós perfeitos.

- Hã?! – Andressa passa as mãos pelos cabelos tentando encontrar os nós.

- Calma. Vou desatar – Yago alcança os nós para desatá-los e enquanto desprendia cuidadosamente as mechas do cabelo de Andressa, com suas mãos esticadas de modo que as mangas de sua jaqueta recuavam em seus pulsos, ele dá por falta de algo importante.

- Não!

- O que foi? – perguntou Andressa em tom preocupado – Meu cabelo está muito enrolado?

- Não é isso. É meu relógio. Ele sumiu.

- O quê? Mas o que está acontecendo aqui? Yago, se isso for uma brincadeira sua.

- Uma brincadeira minha? Como eu conseguiria amarrar suas mãos e seu cabelo sem que percebesse?

- Não sei. Mas o que seria?

- É o que eu gostaria de descobrir.

Yago termina de desatar os cabelos de Andressa da mochila e depois desfaz também os nós de suas mãos. É quando ele tenta se levantar que ele se dá conta que seus pés também estão presos.

- Era só o que faltava. Meus cadarços estão amarrados – disse Yago, se pondo a desfazer os laços de seus tênis.

- Então eu suponho que este cadarço que estava amarrado em minhas mãos seja dos meus tênis – disse Andressa, e quando ela fica em uma postura sentada para tocar seus pés, tem sua confirmação – Não interessa o que fez isso tudo, eu já o detesto – ela disse enfurecida e depois completa para a surpresa do companheiro – Nossa! Yago, não precisava dessa risadinha.

- Que risadinha? – ele disse e antes que perguntasse mais, ambos ouvem uma agitação do lado de fora, como algo se movendo nas folhas caídas no chão.

- Um rato! – Andressa gritou.

- Um rato? Onde?

- Saiu. Estava aqui dentro e correu para fora.

- Você tem certeza que era um rato?

- Não. Não tenho. Mas era um animal pequeno – disse Andressa, olhando em volta para ver se não havia mais nenhum animal asqueroso por perto antes que de repente aparecer um círculo de luz na parede da barraca que ofuscou os olhos dos dois acostumados com o escuro.

- O que é isso? – perguntou Yago. Ele e Andressa saíram apressados para encontrar a fonte daquela iluminação caída no chão não muito longe da fogueira, apontando o feixe de luz para a cabana.

- A lanterna? Mas as lanternas não estavam lá dentro?

- Sim – disse Andressa, quando os dois se aproximam do objeto e ela se agacha para pegar a lanterna e desligá-la – Como isso veio parar aqui?

- E como ela foi ligada?

- Ai, meu Deus – falou Andressa – Será que a cabana é realmente mal assombrada?

- Francamente, Andressa. Quer parar com isso?

- Mas que outra explicação isso teria?

- Não sei. Deve ter uma explicação lógica – disse Yago – Vou para a barraca ver se sumiu mais alguma coisa – ele se volta para a barraca, mas seu primeiro passo não sai como esperado, como se seus pés não quisessem acompanhá-lo. Ele vai ao chão em uma queda desajeitada que suja suas roupas de terra.

- Você está bem? – perguntou Andressa.

- Sim. Estou – Yago se senta e olha para seus tênis vendo com espanto seus cadarços amarrados, prendendo seus pés um ao outro.

- Você não tinha desamarrado seus cadarços? – perguntou Andressa, também surpresa.

- Tinha – Yago parou por um instante, imaginando o que poderia ter feito aqueles nós. Era impossível, e ele estava convicto disso, que aqueles laços muito bem elaborados tinham sido formados por acaso. Demorou um pouco para Yago desfazer os nós e se levantar, limpando a terra de sua roupa.

- Agora estou começando a ficar assustada – disse Andressa.

- Não precisa ficar com medo. Isso pode ser coisa de nossas mentes pregando uma peça em nós por causa do cansaço. Isso acontece, não é? – Yago olhou para a namorada como se esperasse uma confirmação, mas ela não falou nada. Para ser sincero, o próprio Yago não estava acreditando muito no que dizia. Estava claro que não era o cansaço ou a imaginação dos dois que estavam fazendo objetos sumirem e produzindo laços em cadarços e cabelos. Algo estava acontecendo. Algo que mesmo Yago e Andressa desconhecendo, eles sentiam que poderia não ser exatamente amigável. A idéia de uma periculosidade que nem tinha passado pela cabeça dos dois veio como uma brisa gelada. De repente, o bosque parecia mais sombrio e assustador do que tinham percebido gerando no âmago do casal uma apreensão que aumentou quando eles ouvem um farfalhar além da área iluminada tibiamente pela fogueira que se consumia em brasas e cinzas.

- O que foi isso? – Andressa perguntou, apontando a lanterna na direção de onde tinha vindo o barulho, encontrando apenas troncos e folhas.

- Não deve ser nada demais. Vem, vamos dormir antes que começamos a ver coisas que não existem – disse Yago. Outro barulho surge vindo de outra direção. Mais farfalhar de folhas e plantas rasteiras como de pequenos animais correndo a surdina era ouvido em todos os lados, cercando o casal.

- O que é isso? – Andressa se encostou ao namorado varrendo com a luz da lanterna em volta, tentando ver o que era aquilo, mas ela só via as folhas se movendo como rastro de uma presença invisível até ter um vislumbre de coisinhas pequenas correndo para fora da luz. A princípio, Andressa pensou que poderiam ser sapos ou roedores selvagens, mas o pouco da anatomia deles que ela podia observar de relance e a maneira como se moviam lhe indicava que não se tratava de nada que eles conhecessem.

- Vamos para a barraca! – falou Yago, mas tão logo se dirigiram a ela viram que muitas dessas criaturinhas tinham cercado a barraca e pulavam nela como se quisessem escalá-la. Andressa tentou iluminar o local com a lanterna, mas o que quer que fosse fugia da luz e voltava correndo para a escuridão do bosque, e assim acontecia enquanto Andressa apontava a lanterna para todas as direções até todas aquelas coisas terem sumido. A garota pára em um ponto, onde havia um reflexo brilhante há poucos metros de distância.

- Aonde você vai? – disse Andressa para Yago que começava a caminhar rumo ao reflexo.

- Fique aqui. Vou ver o que é – ele dá alguns passos e chega perto o suficiente para distinguir a telinha que refletia a luz da lanterna e o bracelete preto de borracha.

- É o meu relógio – disse Yago. Ele se abaixa em uma menção de pegar o relógio e se detém entorpecido. Perto estava uma das criaturas. Era uma figura humanóide de olhos grandes e negros estampados em um rosto que tinha uma expressão sarcástica. O sorrisinho bizarro na boca dela deixava entrever uma série de dentes minúsculos, numerosos e pontiagudos como o de um pequeno tubarão. Aquilo vestia uma roupa verde de um tom mais escuro que o de sua pele; tinha também um gorro em forma de cone na cabeça, muito parecido com o daqueles homenzinhos de gesso ou porcelana que enfeitavam alguns jardins. Um grito veio até a garganta de Yago e foi sufocado. Ele não se moveu por alguns segundos como se o frio da noite e do puro horror que se apossou de seu corpo subindo por sua coluna tivesse transformado seu sangue em cristais de gelo. Essa inércia teria perdurado por mais tempo se não tivesse sido quebrada pelos gritos desesperados de Andressa. Ela estava sendo cercada por várias dessas coisas estranhas que a atacavam. A garota tropeça e cai se debatendo para se livrar da infestação de seres verdes de orelhas pontudas que pulavam nela. Yago vem em seu socorro, chutando para longe as criaturas no caminho. Ele ajuda Andressa a se levantar, jogando com força as criaturas que se agarravam à sua roupa e em seu cabelo. Elas, porém, não pareciam sofrer absolutamente nada com a violência do rapaz. Quando elas caiam no chão, apenas se levantavam intactas e corriam novamente entoando uma risadinha sinistra que se unindo a dos outros formava um enxame de vozezinhas que falam, riam e debochavam em uma língua desconhecida. O casal estava ficando completamente cercado, chutando um após o outro os homenzinhos verdes, o que só aumentava a fúria e a vontade deles de derrubar os dois. Tudo ocorria mergulhado na penumbra da noite; praticamente não havia luar com a lua nova e a fogueira estava morrendo, se esvaindo sob a terra que as criaturas jogavam nela, tornando a lanterna que Andressa segurava a maior fonte de luz. A multidão do que quer que aqueles seres fossem estava incidindo também sobre a barraca e não demorou muito para que eles a desmontassem, desfazendo amarras e descosturando tecidos com uma agilidade incrível, espalhando por toda a clareira os pertences dos acampados. Rapidamente os cantis de água, roupas, bússolas e mapas estavam sendo carregados pela área como são carregadas as folhas pelas formigas. Visto assim no escuro, parecia que os restos da barraca e os objetos tinham ganhado vida, mas por baixo havia uma centena de bracinhos e perninhas carregando tudo com uma força desproporcional ao seu tamanho.

- Nossas coisas! – gritou Yago, correndo da melhor forma que podia pelo terreno. Ele pegou a mochila e jogou as criaturas que se seguravam na bolsa vazia. Tudo que estava dentro estava agora sendo espalhado, sujo e destruído pelas criaturas. Andressa tentava com todas as forças recuperar alguns pertences como agasalhos e suprimentos, sem conseguir. Os seres eram bem mais rápidos do que aparentavam e por mais que Andressa ou Yago tentasse ir atrás de algum objeto, eles conseguiam levá-lo para as profundezas da floresta, perdendo-o de vista. Conforme os objetos eram perdidos ou destruídos, eles voltavam e avançavam com mais fúria e energia e também em maior número sobre Yago e Andressa. Estava cada vez mais difícil lidar com aquele enxame. Era como ser atacado por um exército de anões de jardim malvados que mordiam e puxavam sem nada a perder. Yago segura o braço de Andressa que acabava de jogar um daqueles seres e a puxa para si.

- Vem comigo – ele disse. Os dois se afastam a passos largos para trás derrubando de suas vestes as últimas criaturas que se agarravam neles. Depois que caiam e começavam a segui-los eram surpreendidos pela luz da lanterna que Andressa apontava para eles e agitava de um lado a outro para mantê-los afastados. Ela tinha percebido a sensibilidade à luz deles, que os deixavam meio atordoados com a lanterna, mas a garota sabia que esse seria um artifício um pouco insuficiente contra aquele número. Antes que os seres os alcancem, Yago e Andressa chegam à cabana, fechando a porta e se encolhendo ao fundo. Parados ali, se deram conta pela respiração ofegante um do outro o quanto estavam cansados.

- O que vamos fazer? – Andressa disse com a voz meio embargada.

- Não sei. Talvez... Você viu que eles não gostam da luz da lanterna e só apareceram agora à noite. Talvez possamos ficar aqui até amanhecer. Eles podem ir embora com a luz do sol.

- Não sei se podemos ficar aqui a noite toda – disse Andressa. E não era difícil de descobrir o porquê daquele pensamento pessimista. Era possível ouvir dentro da pobre cabana as centenas de criaturas batendo seus bracinhos e pezinhos obstinadamente contra a porta e as paredes como uma chuva de granizo. A força deles mesmo em grande número não era suficiente para romper as tábuas, e as brechas nos cantos das paredes era curtas ou finas demais mesmo para o corpinho pequeno deles, mas isso não os impediria de continuar tentando até entrar, atormentando-os até a exaustão física e psíquica, ou o que quer mais que aqueles seres estranhos eram capazes de fazer. Não se sabia nada sobre eles. Nem nos seus sonhos Yago tinha visto algo igual, sequer imaginaria que criaturas como essas que poderiam ter saído das páginas de uma história de terror pudessem existir. Ainda mais em um lugar tão perto de onde ele acampava quando criança. De todos os mistérios que Yago com sua mente de menino pudesse naquela época suspeitar que o bosque guardasse, ele não esperava que houvesse um assim, de pesadelos palpáveis em forma de monstrinhos que habitavam além do rio de águas verdes claras que partia da cachoeira e escorria por seu leito como um caminho no coração do bosque. Tão perto que ele poderia ter sentido, ou visto; talvez ouvido suas risadinhas macabras, mas o que estava acontecendo simplesmente não tinha precedente. De repente, uma chama de esperança estava acesa e brilhava como uma estrela solitária em um céu escuro.

- Andressa, suba – disse Yago, juntando suas mãos para Andressa por os pés.

- Por quê?

- Confia em mim. Vamos ter que sair pelo telhado.

- Pelo telhado?

- Por favor, Andressa – Yago disse em tom de quem não estava disposto a negociar. Sem mais uma palavra, Andressa desliga a lanterna, pondo-a no bolso largo da jaqueta de Yago e põe seu pé em suas mãos. Ele a levanta até a garota alcançar o teto e se segurar nos caibros.

- Tente destelhar um pedaço com cuidado. Eles não podem ouvir.

Andressa tentou afastar as telhas de uma forma discreta com apenas uma das mãos, enquanto se segurava com a outra, mas o desconforto e a pressa de sair logo dali não a deixaram ter a delicadeza que desejava. Ela começou a empurrar as telhas desordenadamente, evitando que algumas delas caíssem sobre ela ou Yago.

- Andressa, tenha mais cuidado – disse Yago, ouvindo o barulho de telhas caindo do lado de fora.

- Desculpa. É que não temos muito tempo – ela disse. Quando consegui uma abertura onde pudesse passar, ela se segura na beirada e sobe com muito esforço, colocando seus pés na parede. No telhado, ela tenta se equilibrar em pé com cuidado e se segura nos galhos da árvore. Depois é a vez de Yago subir saltando até por as mãos no topo da parede, colocando todas as suas forças em seus braços para se elevar e ficar de pé, se segurando em seguida nos galhos assim como sua namorada. Eles caminham cautelosamente sobre as telhas e sobem na árvore.

- O que vamos fazer agora? – perguntou Andressa. Ela estava agarrada ao tronco, enquanto Yago estava mais adiante no galho em que a garota apoiava seus pés, segurando-se em outro ao seu lado. Ele a olhou nos olhos mesmo no escuro e falou tentando despertar confiança:

- Amor, você vai ter que confiar em mim. E vamos precisar ser rápidos.

- Por quê? O que você tem em mente?

Yago se aproximou mais dela. Sua voz não era mais que um sussurro suave.

- Vamos ter que correr até o rio.

- Correr até o rio?! Mal chegamos à cabana. Não há como correr por essa mata. Eles nos pegariam antes de chegar. Por que faríamos isso?

- Eu já acampei por essa região, sem passar do rio como você sabe e eles nunca apareceram para mim. E se esse for o território deles que nós invadimos? E se eles não puderem passar do rio? Lá estaríamos mais seguros.

- Você não tem certeza. Não temos nem certeza se não nos perderíamos correndo por essa mata à noite.

- É a nossa única chance, Andressa. Precisamos tentar.

- E se não for? Podemos ficar aqui até amanhecer. Você disse que eles podem ir embora com a luz do sol.

- Não dá para passar a noite inteira nessa árvore. Não sem eles nos encontrar – disse Yago. E ele não estava errado. Da abertura que eles fizeram no telhado ecoava as vozes da multidão de pequenas criaturas que fervilhava de maneira assustadora. Seja escalando pelos ramos das paredes até as brechas no teto, seja subindo uns nos outros até o trinco para abrir a porta, as criaturas haviam conseguido invadir a velha cabana e seria apenas uma questão de tempo até que eles procurassem pelos dois e os avistassem em cima da árvore.

- O que são estas coisas? – perguntou Andressa, olhando enojada para o buraco no telhado como se olhasse para uma colméia de maribondos – Duendes?

- Acho que o termo mais correto seria gnomos.

- Gnomos? – falou Andressa, sem ver muita diferença entre um nome e outro. Ela sempre tinha pensado em duendes como seres simpáticos que moravam em cogumelos e eram amigos da floresta e de seus habitantes como se via nos contos de fadas, e não nessas coisas horrorosas de olhar diabólico. Ela, que tanto tinha sonhado com fadas e magia na infância, agora desejava ardentemente estar longe daquele lugar e nunca ter descoberto a verdade sobre as histórias de gnomos, duendes ou magia: que eles eram reais e não eram agradáveis como se imaginava. Nem tudo é tão bonito quanto um dia foi sonhado.

- Ah, não! – disse Yago, vendo com horror os primeiros gnomos correndo por cima das telhas, certamente chegando ao telhado ao escalar as plantas trepadeiras emaranhadas na parede do outro lado da cabana. Mais e mais se juntava como se a algazarra que fazia com suas vozes guinchadas e barulho contra as telhas atraíssem os outros no chão; e pulavam tentando alcançar o galho mais próximo da árvore em que estava o casal.

- Yago, os ilumine com a lanterna. Isso vai afugentá-los.

- Não. Eu tenho outra idéia – disse Yago – Vamos deixar chegarem. Se continuar assim, a maioria, senão todos estarão no telhado em poucos minutos. Eles vão demorar um pouco para descer e isso nos vai dar algum tempo.

- Tempo para quê? – perguntou Andressa, embora soubesse que não iria gostar da resposta.

- Vamos ter que pular e correr até o rio – disse Yago, decididamente.

- Eu já disse que isso é quase impossível.

- Não. Não é. Podemos descer rápido. O último galho está a poucos metros do chão. O rio também não é tão longe assim. Se formos rápidos podemos conseguir.

Andressa piscou para afastar as lágrimas de seus olhos, mas a angústia que apertava sua garganta ainda era percebida em sua voz.

- Não dar... Não vai dar – ela disse. Perto, os gnomos se aglomeravam em um monte subindo uns sobre os outros para atingir o galho que os levaria até Yago e Andressa. Os dois estavam ficando sem tempo.

- Confia em mim, Andressa. Vai dar tudo certo – Yago soltou uma das mãos e levantou delicadamente o rosto da garota para olhar para ele – Tente pensar nas nossas próximas férias em Paris.

- Não dá para ir para a França com nossas economias, já falamos nisso.

Yago arriscou um sorriso singelo que foi correspondido por Andressa.

- Bem, se gnomos existem, então acho que uma viagem internacional para um casal de classe média não é tão absurdo. Coisas improváveis podem acontecer.

A pequena montanha de criaturas estava se avolumando em cima do telhado, ficando mais perto do galho da árvore. Os gnomos que estavam do lado subiam convergindo para o topo deixando o monte vivo mais fino e alto, até que finalmente os primeiros alcançam o galho. Eles se agarram para que os que estavam em baixo possam subir, fazendo do que era um monte uma escada. Testemunhando sob a penumbra de um céu repleto de estrelas o trabalho ordenado dos gnomos, Yago se volta para sua namorada e fala de uma maneira séria e firme:

- Dê a volta no tronco e desça.

- E você?

- Irei logo em seguida. Agora vá.

Andressa faz como pedido, dando a volta no tronco e descendo. Suas mãos eram arranhadas com a casca dura e áspera da árvore, e ela prosseguiu lutando contra a dor que brotava dos cortes e arranhões que surgiam ao passar pelos galhos e ramos. Ela chega ao solo e se afasta; acima Yago vinha descendo e ao chegar a certa altura, pula sentindo leves pontadas de dor nos pés. Ele tira a lanterna do bolso para iluminar o caminho e começa a correr junto com Andressa pela mata que se fechava ao redor deles. Se haviam gnomos por perto, eles não esperaram aparecer. Os dois se lançavam mata adentro com os galhos dos arbustos e outras plantas batendo contra eles enquanto corriam tentando encontrar a trilha que os tinha levado a cabana à tarde. Na noite, porém, era difícil saber se estavam no caminho correto. O bosque inteiro parecia exatamente igual não importava para onde se dirigissem.

- Yago – Andressa parou, puxando o namorado que segurava sua mão – Você tem certeza que é por aqui?

- Sim. É por aqui – ele falou, não conseguindo evitar a sensação de incerteza em suas palavras. O plano inicial era correr na direção para onde estava a fachada da cabana, mas estava parecendo que o rio estava mais longe do que ele se lembrava e o barulho da água era difícil de ser seguido com o som se confundindo com o das folhas se mexendo com o vento.

- Será que nos afastamos do caminho certo? E se estivermos perdidos? – Andressa falou.

- Vamos pensar positivo e continuar seguindo em frente. Sei que vamos conseguir – Yago aumentou o aperto na mão da garota, um gesto silencioso para lhe transmitir firmeza, para mostrar que estava com ela e que passariam por tudo juntos. Ele pára por um momento contendo um pouco sua respiração e ignorando o zumbido do sangue circulando freneticamente em seus ouvidos devido ao aumento nos batimentos cardíacos, apurando a audição para ouvir o barulho da água soando próxima como uma música tranqüilizadora, tão acalentadora quanto uma luz no fim do túnel.

- Está perto – disse Yago em um fôlego de alegria, uma brecha de calma que dura pouco. Vindo pela mata como uma onda de vozes guinchadas, as risadinhas bizarras denunciavam a presença das criaturas que eram como uma personificação do medo que a noite e o desconhecido despertavam.

- Eles estão chegando! – disse Andressa.

- Vamos. Por aqui – Yago falou, indicando o caminho com a lanterna entre árvores e arbustos. Eles se embrenham mais na mata, movendo-se com as suas últimas forças. O barulho dos gnomos se aproximava e estava praticamente em seus calcanhares, sem que eles encontrassem o precioso rio, embora o som da água escorrendo pelas rochas e a umidade envolvesse o ambiente como uma aura. Era quase possível sentir a água, mas para onde quer que olhe, Yago só via árvores e mais árvores iluminadas pela lanterna. Um sentimento de urgência se alastra pelo rapaz e tem o seu ápice quando Andressa grita. Um gnomo tinha chegado à sua perna, mas ela conseguiu chutá-lo antes que ele se agarrasse mais firmemente em sua calça. Outros se uniam ao primeiro vindo como a maré que avança pela praia. Yago abraça Andressa, comprimindo-a contra seu corpo e aponta a lanterna para os gnomos. A luz rompia a escuridão, demonstrando um solo infestado dessas criaturas que corriam e pulavam fugindo da luz. Eles se escondiam atrás de troncos e raízes ou cavavam um buraco na terra para entrar. Eles chegavam de vários lados diferentes e Yago não conseguia afugentá-los todos de uma vez.

- Por favor, somos amigos. Não vamos machucá-los. Só queremos sair daqui – Yago falou, mas as criaturas não davam o menor sinal de que compreendiam ou se importavam com o que ele falava.

- Não vai adiantar – lamentou Andressa, observando os vultos dos gnomos fugindo para fora da luz até que Yago passa a lanterna rapidamente por uma superfície cinza que brotava das sombras como a ponta de um iceberg, muito à direita deles – Uma rocha, ali! – ela fala apontando. Vendo também, Yago corre junto com a namorada para a grande pedra, sendo perseguidos pelos seres que pareciam aumentar em número. Chegando nela, Yago junta suas mãos para Andressa por os pés assim como fez na cabana.

- Rápido! Eles estão chegando – ele fala. Quando Andressa chega ao topo, ela dá a sua mão para ajudar ele a subir. Abaixo, os gnomos tentavam subir na rocha escalando o musgo que crescia em sua superfície, bem como pelas plantas ao redor.

- Eles são muitos – disse Yago, não conseguindo derrubar um por um que se aproximava.

- Vamos ter que pular – disse Andressa e ao se virar para trás, preparada para se deparar com mais árvores, seu rosto se ilumina com o que vê à frente: as pedrinhas formando um piso nas margens com a areia, a água escorrendo cheia de vida – O rio!

Yago se vira mal acreditando no que tinha ouvido.

- Eu sabia. Vamos!

Os dois desceram da rocha pelo lado oposto e correram com as forças renovadas pela visão esplendida do rio. Houve um choque de surpresa com a temperatura baixa quando mergulharam seus tênis na água gelada que encharcou suas roupas imundas, mas eles continuaram avançando pelo rio adentro até estarem submersos do abdome para baixo. A correnteza ameaçava arrastar o corpo cansado dos dois e eles agüentaram firme, prendendo seus pés no cascalho do leito. Quando olharam para trás, viram que os gnomos tinham pulado a rocha e pararam a uma distância do rio, voltando em seguida para as sombras de onde vieram. Não era mais apenas a luz da lanterna que os afugentava, eles haviam chegado ao seu limite, a uma fronteira que eles não queriam ultrapassar.

- Você tinha razão. Eles não atravessam o rio – disse Andressa.

- É. Ainda bem. Vamos sair antes que a correnteza nos leve – disse Yago. Eles lutam contra a correnteza para chegar à outra margem, uma luta que não era o pior de tudo do que passaram.

- O que faremos agora? – disse Andressa, se sentando exausta sobre uma pedra – Não dá para sair pela mata andando a noite. Estamos muito cansados e não sabemos o caminho sem bússola nem mapa.

- Absolutamente – concordou Yago, sabendo que estariam completamente perdidos se dessem um passo naquele bosque no estado em que estavam. Os perigos de uma floresta não se resumiam a gnomos homicidas.

- Vamos esperar. De manhã vai ser mais fácil encontrar o caminho para a estrada – Yago se sentou encostando suas costas em uma rocha grande. Andressa se juntou a ele se deitando em seu peito, sentindo o seu abraço e o beijo em sua cabeça.

- Você acha que acreditariam em nós se contássemos para alguém? – ela perguntou.

- Não – disse Yago, sem rodeios – Vamos ter que guardar essa nossa pequena aventura para nós, pelo menos por enquanto. Vai ser o nosso segredo – ele acrescentou. Então, embalados pelos sons normais de um bosque noturno, da cachoeira não muito longe de onde eles estavam e do rio que corria melodiosamente, os dois ficaram abraçados ali, esperando o amanhecer.

Jorge Aguiar
Enviado por Jorge Aguiar em 02/06/2013
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