O Vale das Borboletas

Era um dia chuvoso e escuro, relâmpagos e trovões ecoavam pelo quarto. Kelly fechou a janela com força, não queria que sua cama ficasse molhada, olhou ao redor do quarto e sentiu-se entediada. Nada para fazer nesse dia triste e sem graça, estava sozinha em casa, sua mãe e seu irmão tinham saído e demorariam a chegar, por causa da chuva estava sem internet, para piorar ainda mais a situação. Não tinha nenhum livro para ler, só sua gata lhe fazia companhia.

Deitou-se na cama, pegou a gata e começou a acariciá-la, olhou para o teto e viu uma borboleta, detestava borboletas, não sabia porquê. Simplesmente tinha pavor daquele bichinho voador, cheio de pelinhos no corpo, com patinhas estranhas e olhinhos feios em uma cabeça esquisita, nem prestava atenção à beleza das asas de tanto medo que tinha do resto todo.

Não tirava os olhos da borboleta, estava hipnotizada, suas cores eram diferentes, não combinavam e eram berrantes. O quarto começou a girar, Kelly estava tonta e confusa. Quando tudo parou de girar, ela percebeu que não estava mais em seu quarto, olhou em redor preocupada e viu que sua gata estava lá com ela, seja lá onde fosse aquilo, o ambiente era como de um sonho, ela parecia flutuar em nuvens, mas estava no chão, aparentemente em um vale, com grama baixinha, muitas flores, de todas as cores e formatos, algumas árvores de um verde brilhante, o sol era de um tom quase rosado e seu calor era reconfortante.

- Lindo lugar não é?

- Quem está falando?

- Sou eu, olhe para baixo.

- Pretinha? Você está... falando?- Disse incrédula, olhando sua gata que calmamente conversava com ela.

-Sempre falei, você que não me ouvia.

- Estou sonhando?

- Como posso saber? Venha, aproveite. Disse correndo para a multidão de flores.

Horrorizada, Kelly vê que não são flores, e sim borboletas, milhares delas, Pretinha ao correr para o meio delas assustou-as e fez levantar uma revoada de todos os tipos e formas de borboletas. Queria sair correndo, se esconder, mas não podia sair do lugar, estava paralisada, em estado de choque. Fechou os olhos e tampou o rosto com as mãos.

-Pode olhar agora, elas já se foram. Disse uma voz masculina, muito calma e tranquilizadora.

Kelly abriu lentamente os olhos e deparou-se com um rapaz belíssimo, moreno, com intensos olhos azuis, cabelo preto curtinho e espetado. Ficou fascinada. Ele estendeu sua mão e Kelly segurou, timidamente.

- Onde eu estou?

- No Vale das Borboletas.

- E como eu vim parar aqui? Estava em meu quarto...

- Você deve ter olhado para Liryel, ela traz para cá todos que enfeitiça.

- E quem é essa?

- É a fada mãe.

- Não entendo nada, não existem fadas...

- Sei que é difícil entender Kelly, não tente com a razão e sim com a imaginação.

Kelly olhava para o rapaz e cada vez mais confusa ia ficando, olhou em volta e viu Pretinha correndo e pulando.

- Quem é você afinal?

- Sou Luan. - Disse ele com um lindo sorriso, de suas costas começaram a abrir lindas asas de borboleta, azuis como os seus olhos.

Kelly não acreditava no que estava vendo, ele era uma fada, ou uma borboleta? Parou de tentar entender e usou a imaginação. Olhou novamente ao redor e percebeu que Pretinha brincava e conversava com uma pequena borboleta, não como as de sua casa, mas como Luan, corpo humano e asas lindas.

- Só posso estar sonhando...

- Você vai ficar parada aí só vendo ou quer aproveitar que está aqui?

- Como assim?

Luan pegou Kelly no colo e levantou vôo. Voaram por um campo cheio de borboletas, que brincavam, outras descansavam sobre flores e folhas, todas pequeninas e sorridentes. Kelly nunca tinha se sentido tão livre e tão bem, voaram sobre riachos, florestas, campinas, tudo banhado com aquele tom róseo do sol poente.

Quando voltaram para onde tinham deixado a Pretinha, já estava escurecendo.

- Está na hora de vocês duas voltarem para casa.

- Mas já? - Perguntou Kelly

- Estou me divertindo tanto aqui. – Disse Pretinha

- Eu também...

- Mas já está escurecendo, logo Liryel estará de volta, e vocês nunca mais poderão voltar para casa.

Luan olhou bem para Kelly e disse:

- Espero que tenha perdido seu medo de borboletas, - e pegando suavemente em sua mão continuou -, espero poder te ver novamente.

- Também espero te ver em breve.

- Vamos Kelly, já estou com fome. – Disse Pretinha colocando as unhinhas afiadas na perna de Kelly.

Luan soprou um pó brilhante e tudo começou a rodar novamente.

Kelly abre os olhos devagar, está em sua cama, com Pretinha no colo, dormindo profundamente, será que foi só um sonho? Parecia tão real! Olhou para o teto esperando ver ainda a borboleta com cores estranhas. Não estava mais lá.

Levantou-se da cama lentamente para não acordar Pretinha e foi abrir a janela, a chuva tinha parado e o ar estava úmido e limpo, o céu estava cheio de estrelas, olhou no peitoril de sua janela, lá estava uma borboleta, azul como os olhos de Luan. Lembrou-se do que ele tinha dito: Use a imaginação e não a razão. Deu um sorriso enigmático e deixou a janela aberta, queria que Luan se sentisse bem vindo.

Dedico a minha linda amiga Kelly Domingues, curtam o blog dela

http://diariodeumagarotadedeus.blogspot.com.br/

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 02/07/2013
Reeditado em 03/07/2013
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