A história de YO. Parte 5.

Chegando a cidade de Lentz, foram ao alfaiate, no momento em que entraram nela as pessoas cochichavam sobre o nobre e sobre o cego que já estava mudado. O cego cobriu-se com a manta, mas mostrava ainda parte das nádegas e estando despercebido disso, não entendia o riso grosseiro das crianças, que gritavam: É branca! Branca! hahaha! De uma forma ou de outra, a presença deles mudou o costumeiro jeito das pessoas, que cochichavam, riam e falavam o que pensavam deles. No entanto, o nobre silencioso passava por aquela gente, sem demonstrar quaisquer reações de aprovação ou desaprovação, o cego exibia sua vergonha em um lugar de circulação e todos viam sua nudez parcial, mas ninguém quis cobri-lo. Chegando a porta do alfaiate, o nobre adentrou no recinto e logo cumprimentou o fazedor de vestes, apertou sua mão e disse: Quero que faças uma boa roupa a este homem, que seja feita hoje. Ele argumentou: Posso fazer, só não é possível hoje, tenho inúmeras encomendas para o dia de hoje, senhor, amanhã talvez. O nobre retrucou: Pagarei a ti o dobro, se me fizerdes este serviço hoje. Não pelo dinheiro, mas por algo na voz e na forma com que falou, tocou no ser daquele operário que o convenceu, dali em diante o homem pegou a fita métrica e ia medindo o corpo do cego, isto era pelas 8 horas da manhã. Enquanto ele recortava o tecido e montava as peças, esperavam cada um a seu modo, o nobre silenciosamente, o cego coçava-se, suspirava de tédio, queria falar mais se calava; o alfaiate costurava intensamente e saía uma coisa que parecia uma calça, enquanto o nobre olhava toda aquela arte de costura com olhos de admiração e alegria, o alfaiate era ligeiro e bom no que fazia, por volta do meio dia, respirou profundamente e disse: Pronto! Está aqui. Vejamos como fica nele. Era uma espécie de terno de um excelente tecido, deram a ele roupas de baixo, então cobriram- no com a veste recém-feita e todos sorriram ao ver o resultado. O nobre riu com verdadeira alegria e disse: Parece que para este os ventos sopraram mais cedo e chegou sua primavera. O alfaiate ficou intensamente feliz pelo serviço que foi primoroso, que decidiu não cobrar nada, porque também lembrou que certo dia viu o cego muito mal e pensou consigo: Tenho sido egoísta nunca fui de ajudar ninguém, não sinto bem em cobrar neste serviço, talvez o Eterno lembre-se de mim e favoreça-me, por esta boa ação. O nobre respondeu: Alfaiate, o Eterno já o favoreceu nesta manhã, trazendo dois de seus escolhidos à sua casa. Ele temeu muito esta palavra (porque pensava como ele soube disto, nem sequer falei?). E após uns bons abraços de uma breve despedida, foram pela cidade e saindo dela, ficaram junto ao Rio Lutz, debaixo de uma figueira. Agora o cego, não sentia- se mais um animal, sentia-se homem. Sentia-se digno, por ter um amigo que o amparou, não pela roupa. Mas pelo coração que foi o tecido que um Amigo costurou de retalhos o refazendo, um Amigo que nunca vira, ajudou em um breve tempo sem pedir nada e para quem não tinha nada para qualquer retribuição.

Continua...

José Lins Ferreira
Enviado por José Lins Ferreira em 13/11/2013
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