A história de YO. Parte 6.

Ali os dois permaneceram calados, enquanto o céu enchia-se de estrelas e a lua fazia seu espetáculo que lhe é próprio. Então, o cego interrompeu o silêncio de meditação, dizendo: Sei que o senhor é um anjo, só um anjo do Eterno pode trazer paz ao coração. O nobre respondeu: Quem me dera ser como um anjo do Altíssimo seria então, perfeito, os anjos ajudam os filhos da Luz, mas não mandam um alfaiate costurar (risos). Há obras que os homens devem fazer, são elas responsabilidades humanas, como socorrer as viúvas e órfãos, como cuidar dos doentes, como amparar os sofredores, essas coisas os anjos anseiam fazer porque são obedientes ao Eterno. Mas é responsabilidade dos filhos da Verdade. Então, respondendo, sou homem. O cego perguntou: Que tipo de homem é o senhor? O nobre: Sou um servo. E logo vou entrar na Vereda, por isso vim aqui para o Eterno mostrar toda a sua vontade para ti. Assim que entenderes, todos os mistérios saberás e verás de novo.

O nobre disse: Agora, diga-me YO, como é guardar ódio em seu coração por 20 anos? YO respondeu, com a face de frustração: Não sei do que está falando senhor. Nesse momento, ele ameaça levantar e voltar para as rochas que antes serviam de abrigo para dormir (porque faz muito frio durante a noite, mas as rochas absorvem o calor do dia, assim suportava o frio noturno). O nobre disse: O Eterno viu, quando você era criança e sua mãe morreu em seu leito, enquanto seu pai saiu pela rua em busca de consolo, deixando-te sozinho com o corpo dela, por dois dias, dois dias você chorou por ela, até que o retiraram pela força, perdoe seu pai, porque devemos entender as pessoas ao lembrar que somos homens também, sabia que seu pai morreu triste, porque amava sua mãe como nunca amou ninguém, abaixo de Deus?

YO, respondeu: Se eu tivesse fé, perdoaria, estou contigo, mais não creio em tudo, nem no amor, nem na morte, nem na vida, nem no bem, nem no mal, porque nunca tive outra vida senão esta de infortúnio e abandono. Creio somente que estou diante de um profeta.

O Nobre disse: Perdoe esta cidade, ela depende de ti. Tu és a lagarta de verão, mas logo chegarás à primavera e poderás ver o quanto um homem com amor e fé no Eterno, pode fazer quando obedece. Se não perdoares, não terão futuro.

O cego: Porque me pressionas tanto, senhor, por acaso fiz alguma coisa contra ti? Eu sou um homem. E como alguém como eu, poderia ser responsável pelo futuro dessa cidade insensível?

O nobre: Saiba que Deus escolhe coisas pequenas, porque as coisas pequenas mostram mais o seu poder que contraria a lógica dos sábios. Ele escolheu a ti, agora seja obediente e espere fazer o que pretendes.

O Cego disse: Perdoar não é fácil, como posso perdoar todos e esquecer todas as noites de fome e abandono? Como posso esquecer a alegria deles em contraste com a minha tristeza e solidão? Como posso esquecer as pedras das crianças, que machucaram todas as vezes que passei pela cidade? Como posso esquecer todo o nojo que tiveram de mim e seus comentários desumanos? (Com lágrimas) Como poderei fazer isto, Senhor e Deus?! Como... (chorando intensamente). Não posso...

Continua...

José Lins Ferreira
Enviado por José Lins Ferreira em 13/11/2013
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