A história de YO. Parte final.

E chorou por alguns minutos de um jeito imensamente triste, capaz de comover qualquer um que estivesse ali, porque de fato ele foi muito magoado e machucado por muitos. Estava pela primeira vez expondo aquilo. Ao fim daquele momento, o nobre disse: Amigo, estou aqui, sinto pela sua dor e o Eterno, costuma usar os que sofrem para sua obra, porque estes são sensíveis a dor alheia, porque não são indiferentes aos pobres e aos que sofrem e aos que são humildes. O Eterno escolheu a ti. E perdoar a estes será a vossa prova, será a prova de que estás preparado. O cego levantou-se e orou aos Céus, habitação do Eterno, com lágrimas caindo de seu rosto como as chuvas de verão que varrem toda a superfície seca dos vales do Norte, gritava: Oh Eterno, quero teu perdão, todavia, tenho que perdoar quem me feriu conscientemente. Para mim que sou tão fraco, que não sou como a Majestade, voluntarioso em perdoar, esta é uma coisa bem difícil, mas Tu és conhecido por operar milagres, como nos dias antigos que transformastes o Deserto em lugar de banquete, faz em minha alma um banquete de bondade e liberdade, transforma este deserto cá dentro em lugar de alegria e que haja um banquete de alegria dentro de meu ser, transforma este meu pensar e faz-me viver a nova vida, esquecendo o passado. Que eu posso olhar nos olhos de meus ofensores e amar cada alma que feriu, que eu possa definitivamente conhecer a tua paz, suplico-te, oh Primeiro e Último, amém! (Neste momento ele caiu ao chão como um desmaiado, porque foi intensa a carga emocional ao orar, o nobre pasmado olhou para ele e deixou cair uma lágrima que absorvida foi pela terra seca. Ouviu-se um trovão assustado nos céus, que tremeu o chão, sabiam que era obra do Altíssimo, porquanto, não havia uma nuvem no céu ou mesmo sinal de chuva. O Nobre o ajuntou e o pôs sentado no chão ao pé de uma oliveira. O nobre deu um grandioso sorriso e disse-lhe: Agora posso despedir-me, porque meu tempo é chegado! E o cego levantando-se, foi caminhando para a cidade e junto a ele o nobre. No momento em que chegou à Porta da Cidade, gritou: Cidadãos de Penuel, ouvi minhas palavras, sei de todo o teu pecado e como me fizeste males, todavia eu perdoei a cada um de vocês! Mas agora quem perdoará de seus pecados contra os Céus? (Nesse momento era por volta de uma da madrugada e as pessoas foram saindo de suas casas ao ponto de boa parte da cidade saírem para ver o que significava aquilo) Seu discurso se prolongava, dizia as maldades do povo e como o Eterno estava vendo tudo, como os governantes usavam de ganância e luxo, alguns gritavam: É verdade! Outros diziam: Calem este louco! E o discurso que ia pela madrugada dividiu o povo, agitou uns contra os outros, até que um grupo decidiu matar o homem e indo para dar cabo da vida dele, alguém dentre aqueles homens apunhalou o corpo do cego, um corpo caiu e toda aquela gente se assustou, aquela faca endereçada ao cego, atravessou o corpo do nobre que para preservar a vida do seu amigo entrou na linha da morte. A comoção com a morte de alguém misterioso e de face tão amável, gerou um clamor imenso por todos que ali estavam que diziam: Como alguém pode fazer tamanha maldade?! Esta cidade está cheia de males! Que horror! E outras pessoas falavam coisas semelhantes. Ali junto ao corpo agora agonizante do nobre, o cego sentia o sangue correr em suas mãos, dizia: Realmente tu não és um anjo, porque anjos não sangram, é homem, de todos os homens que conheci, tu fostes o único que chamei de amigo, porque de fato foi meu amigo. Em suas palavras últimas disse: Eu deveria ir hoje, porque meus irmãos me esperam. Em breve nos veremos! Ali morreu o nobre, os loucos que o mataram, de tanta vergonha de seus atos choraram e pediram para serem presos, porque se sentiam terrivelmente mal com o que fizeram. A multidão se pôs a chorar ao ver o cego abraçando seu único amigo, agora morto. Crianças choravam copiosamente, mulheres não retinham seus sentimentos, os mais duros, grosseiros ficavam vermelhos de emoção e derramavam lágrimas. Por fim, os que estavam ali, vieram um a um a dizer para o cego: Perdoa-me, ora a Deus por mim, talvez ele te ouça. O cego ria e chorava, porque agora fizera sentido todas as palavras do nobre, seu bom amigo. E ali orava pelo bem do povo.

Fim.

José Lins Ferreira
Enviado por José Lins Ferreira em 18/11/2013
Código do texto: T4576292
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