PRAZER DA ROUPA VELHA

PRAZER DA ROUPA VELHA

Na medida que este octogenário escritor vai recolhendo fiapos do passado no solo de sua enfraquecida memória, das histórias do imaginoso ferroviário Zelu, dentro de sua modesta capacidade intelectual vai procurando repassar suas saudades dos anos da década de trinta, sentimento inerente à natureza humana. Aproveita a oportunidade para aconselhar a jovens leitores, o cuidado de registrar, em diário, mesmo com simples anotações, todos os acontecimentos de suas vidas, particular e profissional, bons ou maus, cômicos ou trágicos, porque eles lhes servirão como linimento na avançada idade, quiçá para relatá-los na escrita de livros, passíveis porque alguns no futuro de suas vidas poderão optar pela profissão. Confesso, com certa vaidade, os fatos ocorridos durante minha vida, entre vitórias e derrotas, alegres e tristes, cômicos e dramáticos, bem que dariam para escrever um livro de ficção bem aceitável. Foi uma falha devido a minha inexperiência. Vamos, dar continuidade às histórias do meu herói Zelu, contudo, sem poder emprestar-lhes nuances e simplicidade de linguagem comuns nos seus relatos. Como no Palácio da Fantasia se agregava desde de crianças até idosos, as histórias do Zelu se adaptava ao ambiente e era palco das mulheres procurarem costurar as vidas do próximo. E o Zelu, como bom observador, ouvia duas senhoras comentarem as fugas dos maridos nos domingos, sob alegação de à tarde irem jogar bola com os amigos e chegarem 09,ooh porque foram tomar uma loura gelada. Embora em sessões semanais, os dias eram bem esperados pelo divertimento. Vou fazer uma adaptação para o publico adulto.

- Ele, baseado nos comentários das duas senhoras, deu asas a imaginação e narrou a seguinte história, cujo objetivo eu não soube se resultou em algo de bom.:

- Um jovem casal se conhecera desde criança e conviviam com diletos amigos. Ao atingirem a puberdade, começaram a ser despertados para dessemelhança dos seus corpos. Na adolescência terminaram envolvidos por uma atração irresistível entre si. Apesar dos cuidados e disciplina da época, foi impossível deixar de ocorrer um relacionamento íntimo e o inesperado. Devido aos rígidos ditames morais de então, os casaram, mesmo em plena juventude. Na sociedade em que viviam os votos foram unânimes de eterna felicidade, e as comadres diziam que eles haviam nascido um para o outro. Os pais de ambos, usando a linguagem rural, disseram que eles eram tão certos como beiço de bode. Realmente, passado os três primeiros anos da boda, nasceu o segundo rebento, varão, realizando o sonho do casal. Ambos pareciam dois pombinhos, só viviam agarradinhos, pois os pais sustentavam o lar, para inveja de muitas moças sonhadoras com seu príncipe encantado. Na segunda fase mais perigosa de qualquer boda, ou seja, a chamada crise dos sete anos, a aparente normalidade do casal começou a aparecer, com as desculpas do marido, nas tardes dos domingos, invariavelmente, deixar o lar com a jovem esposa e os dois filhos, para ir bater bola com os amigos. Mas, quando era 05,ooh ele adentrava ao lar, cheirava as crianças e dava um oi para a esposa. Com o decorrer do tempo, o horário foi espaçando para 21,ooh. Houve as costumeiras reclamações e as desculpas do marido de que fora depois tomar uma loura gelada com os amigos. O aconchego caricioso dos pombinhos há muito sumira. As demonstrações amorosas diárias passaram para semanais. Os sentimentos de doação e recepção estavam minados. As crianças cresceram e entraram para o colégio. O garoto implorava ao pai para acompanhá-lo ao futebol e ele recusava, alegando que jogando não poderia tomar conta dele. Pedisse a mãe para levar ele e a mana para passear no parque e brincar com outros meninos. O fato é que o casamento presumível de eterna felicidade estava com sua base enfraquecida. Haviam casado em plena juventude e ser quaisquer conhecimentos práticos da vida, inclusive, da responsabilidade pelo sustento do lar, mantido pelos pais. As mães, de ambos, coitadas, foram obrigadas a agir como peçonhentas sogras. Cada uma que puxasse a brasa para sua sardinha. A mãe do marido, jurava de pés juntos que o filho era um exemplo de pai e incompreendido pela esposa que, criada com dengues, exigia atenção demais ao invés de cuidar das crianças. A mãe da filha, experiente pelas estripulias do marido no passado, dizia para a filha que o habito de jogar bola e tomar uma loura gelada havia a possibilidade de uma pelada. Montariam uma atalaia. A filha não entendia a metáfora e assim a boda ultrapassou a crise dos 7 anos bem abalada. Diz a sabedoria popular que onde há fumaça há fogo; mentira tem pernas curtas e que segredo só é guardado por uma única pessoa.

O herói da história, aliás estrela do time da cidade, entre uma e outra loura gelada, em animado papo com os amigos, surgiu o comentário sobre como se “arrumavam” em casa. Ele, ufano de sabedoria e querendo ser o cão chupando manga, argumentou:

- Esposa é como roupa velha: Dá prazer e é gostosa, mas pra uso caseiro.

- Por azar dele, a “roupa velha” junto com sogra velha, haviam se escondido atrás da porta do bar, para descobrir se além do jogo de bola havia jogo de pelada.

Iran Di Valencia
Enviado por Iran Di Valencia em 21/04/2007
Código do texto: T458254