Êxtase sem-fim

Prólogo

Há quem assevere querendo contradizer todos as evidências e axiomas: “Quando houver começo haverá, inevitavelmente, um fim”. Discordo! Trata-se de mais um sofisma. Tão sincero e verdadeiro é o nosso idílio que ouso afirmar: Nossa relação é um êxtase sem-fim.

ACONTECEU NUMA NOITE PRIMAVERIL

Depois do vinho tinto seco, com sofreguidão e veemência, o êxtase cresce e se agiganta, faz-se imenso quando o prazer dela me encanta. Quando nossos corpos se afogueiam e se liquefazem, fundem-se e se arrefecem com os fluidos dos corpos em fusão unificadora.

O néctar doce, translúcido, descobre e percorre, sob pressão, estreitos caminhos nas dobras da pele em espasmos constritivos. Exalando cheiro de amor, como uma cascata de águas mornas, flui dentre a greta úmida sobras do néctar da vida, dulcíssimo, branco e pastoso, depois que pintei a tela triangular com o pincel rombudo no estúdio tépido em forma de cama.

Sem atentar para os limites dos pudores, da decência, entregamo-nos às fantasias antes só imaginadas. Ofegantes e tais quais abstidos, vorazes, sem gládio, apenas com o uso das mãos, dedos e línguas, digladiamos até o amanhecer alcançando mutuamente o êxtase sem-fim.