O cavaleiro e a lágrima

Ele arfava com dor. Com a cabeça baixa viu seu sangue pingar na areia. Sua visão estava turva e ele se perdia em meio aos gritos. Seu corpo pedia por clemencia, por descanso mas a mente ainda não. Ele se apoiava na espada fincada no solo arenoso.

O cavaleiro ouvia o tilintar dos ferros quando as espadas se cruzavam, sentira o cheio da fumaça e sabia se continuasse ali parado seria morto então fez o que lhe restava junto todas suas forças e num golpe atingiu o dragão.

A fera soltou um grito espalhando fogo sob aquela batalha. O dragão que os inimigos levaram pra destruir o seu reino agora estava ferido. E da mesma forma que o cavaleiro fizera, a fera junto forças e arrebentou alguns dos grilhões que lhe seguravam. O cavaleiro viu que a fera não estava fazendo aquilo por vontade própria e ajudou a quebrar as correntes. Arrependido do golpe no monstro acabou por ajudá-lo a ter liberdade.

O dragão ganhou o céu com suas enormes asas e antes de desaparecer cuspiu uma nuvem de fogo em cima daqueles que o aprisionaram. O cavaleiro sorriu e viu que a fera era mais racional do que ele pensava. E observando o dragão subir, o cavaleiro não resistindo mais cai por terra.

Quando acordou não sabia onde estava. Não se sentia bem, apenas viu aquelas paredes feitas de pedras, passou a mão pelo rosto e sentiu as ataduras. Tentou falar mas não tinha forças. Tentou se levantar mas também não conseguiu.

Até que viu a jovem e bela freira ao seu lado. Ela com muito carinho lhe contou tudo que havia acontecido. De como ele havia ajudado o seu povo a ganhar a guerra. A freira também lhe disse o seu estado de saúde, pediu para que ele tivesse paciência. E viu que ele segura pra não derramar uma lágrima que lhe fugia dos olhos.

- Pode chorar meu filho. Você não tem que ser forte o tempo todo.

Ele se sentiu ofendido com aquele comentário. Afinal era um cavaleiro que passou por uma guerra. Que lutou, até matou, se feriu, quase morreu e não chorou. Mas a freira viu que a lágrima continuara ali teimando por escorrer e continuou a falar.

- Se você chora, não quer dizer que é fraco. Todos já quiseram desistir um dia. Eu sei que você já se subestimou e achou que não ia dar conta.

O cavaleiro suspirou fundo na tentativa de segurar a lágrima mas a freira tocava sua alma com as palavras. Não falava só da guerra, ela falava de um jeito de como se o visse por dentro.

- Às vezes a gente simplesmente perde a vontade, o entusiasmo, a razão pra continuar. Ou a gente olha pra todos os machucados que a vida já causou, e decide que não quer mais correr nenhum risco, porque já doeu muito. Mas o fato é que você conseguiu. Você superou. Você aprendeu. Aqueles erros que cometeu agora servem como lembrete. Às vezes é necessário chorar pra lavar a alma, pra tirar a dor, pra extravasar uma mágoa. Se você não sabe chorar fortalece.

E ouvindo aquilo ele deixou a lágrima rolar... E em seguida vieram outras. Mas não lágrimas de tristeza... Ele só não aguentava mais ser forte o tempo todo. Tanto esforço, tantas perdas na guerra, na vida que foram guardadas por tempo demais dentro dele. Dores acumuladas, sonhos destruídos, esperanças desfeitas, arrependimentos ... E tudo isso saiu em forma de lágrimas.