Pandemônio Humanista

O Bem contra o Mal.

A batalha épica que ocorre desde o inicio dos tempos, dessa vez sendo travada no cemitério cheio de flores de uma cidadezinha chamada Sainbown, em algum lugar dos Estados Unidos.

De um lado, caído ao chão, um anjo com as asas rasgadas, desarmado e, apesar de sua beleza original ser estonteante, não demonstrando nada senão o medo de morrer; do outro, Caliban, seu maior rival, um demônio vermelho e forte, de vestes negras com diamantes, segurando sua lança maligna e já cantando a vitória enquanto caminhava lentamente para seu adversário.

Obcecado pela morte do Anjo, o demônio não percebeu que havia mais alguém em cena. Estava sorrindo e idolatrando suas próprias habilidades. Levantou a lança, soltou uma gargalhada final e, de repente, foi arremessado ao chão por uma bala de uma escopeta.

Henzo, o humano, entrava em cena com sua estimada arma que roubara do escritório secreto da igreja. Era um jovem muito atrevido. Não havia ninguém naquela pequena cidade que não o conhecesse por suas atitudes ou por sua história terrível. Deixando o passado no passado, Caliban estava perdendo muito sangue, deitado e sem entender o que acontecera. Sem qualquer resquício de piedade, o humano se aproximou e atirou novamente na criatura das trevas, dessa vez mirando na cabeça.

O anjo estava sem palavras. Como num passe de mágica, um raio divino caiu do céu e o levantou, lhe entregando novamente toda sua glória angelical. Ariel, o anjo do Amor, havia presenciado um verdadeiro milagre: a bondade de um homem. Feliz pelo que acabara de acontecer, mas ainda um tanto quanto surpreso, se pronunciou:

- Ora essas, meu caro humano! Vejo que tomou uma decisão sábia e se juntou ao lado do bem! O lado de seu Senhor, Deus! Estou admirado e sou eternamente grato por salvar minha vida!

O jovem o encarou enquanto tirava duas balas do bolso e recarregava a escopeta. Pensou em algo para dizer, abriu a boca, mas antes que pudesse, uma luz novamente atingiu Ariel.

- Me desculpe, jovem... Mas o dever me chama! É certo que retornarei a esta cidade para agradecê-lo novamente pelo feito. Tem minha palavra.

O Anjo virou de costas e abriu suas asas. Era incrível, após ser iluminado, era como se nenhum arranhão tivesse sofrido durante a batalha. Dessa vez demonstrava felicidade, serenidade e vitória. Possivelmente era a figura mais esperançosa do Universo.

Mas antes que pudesse levantar vôo, recebeu um impacto imenso nas costas, caindo novamente no chão e agonizando em dor. Com uma de suas asas arrancada novamente, sentia uma ardência insuportável e via seu sangue escorrer entre as flores do cemitério. Virou vagarosamente para tentar entender a cena. Lá estava Henzo, segurando novamente a escopeta em posição de combate, mirando agora no meio de seus olhos. Queria pedir uma explicação, mas não conseguia falar direito com a terrível dor que sentia.

- Eu cansei de ver vocês, anjos e demônios, batalhando por nós. Não me lembro de ninguém pedindo por isso.- Disse Henzo. Sua voz era firme e decidida - Eu não estou do lado do mal, muito menos do lado do bem.

Dito isso, apertou mais uma vez o gatilho, misturando no chão os cérebros de Ariel e Caliban. Satisfeito do resultado, virou-se de costas à cena sem demonstrar um pingo de remorso e, pensando alto, completou:

- Eu estou do meu lado.

(Este conto é um "remake", ou seja, uma versão alternativa do prólogo de "Pandemônio - A Batalha Final", por Samanta Geraldini.)