Vinícius e Elis

Raimundo de Assis Holanda

Vinícius e Elis eram um lindo casal de canários, bem amarelinhos. Presos em uma dourada gaiola, trinavam o dia todo. Na ninheira, dois ovinhos eram o centro de atenção dos dois. A mãe esmerava em cuidados; o pai, vigiava-os minuto a minuto, pois ovos de pássaros eram comida favorita de cobra, principalmente jibóia.

No alpendre da casa da fazenda, após o almoço, todos tiravam a sesta, quando, de repente, Pedrito, neto de seu Alexandre, saltou da rede. Ouviu um bater de asas insistente. Correu em direção à gaiola onde prisioneiros estavam Vinícius e Elis e os viu voando pra lá e pra cá. O garoto arregalou os olhos. A cena era quase indescritível. Uma jibóia, sorrateiramente, ziguezagueava em direção à gaiola.

O menino gritou com toda a força dos pulmões, acordando a todos. Foi uma confusão das grandes. Ninguém se entendia. Traz a espingarda, gritou seu Alexandre! Não, não vai dar tempo, dizia Zulmira, a avó de Pedrito. A espingarda é de socadeira, daqui que a gente a carregue, a cobra já tem devorado os dois.

Enquanto isso, a jibóia cada vez se aproximava da gaiola. O menino entrara em desespero, chorava copiosamente e soluçava. E a cobra, prestes a entrar na gaiola. Esta lambeu os beiços com a língua bifurcada, talvez já sentindo o gosto da saborosa refeição.

De repente, entra em desabalada carreira, Paulino, um preto velho, ainda herança da senzala. Com uma das mãos segura a cabeça da serpente, com a outra, a calda. A jibóia volteia-lhe o braço.

Todos respiram aliviados. Pedrito já não soluça. Vai em direção à gaiola e acaricia Vinícius e Elis, que começam um concerto agradecendo a todos, principalmente ao Preto Velho, a preservação de suas vidas e de seus futuros filhotes.

E a paz e a alegria voltaram a reinar naquele casarão já quase centenário.

Raimundo de Assis Holanda Holanda
Enviado por Raimundo de Assis Holanda Holanda em 07/05/2007
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