A garota e o horror atrás da porta.

Ela pensou por dias antes de abrir a porta e adentrar a sala. Sonhou com o destino todas as noites... No sonho o mar imenso a sugava para o fundo, mas apesar do desespero, a imensidão de sua insignificância era acolhedora. Deixava-se levar pelas águas, braços e olhos abertos enquanto o corpo afundava lentamente até ser puxado bruscamente de volta à superfície, onde o céu violeta e azul escuro cobria tudo, repleto de brilhantes estrelas, mas nenhuma lua. Seu peito agonizava em uma ansiedade gritante até que uma enorme sombra preta a engolia.

Todos os sonhos eram assim.

Ela sabia as consequências que teria que enfrentar ao entrar na sala e, apesar do medo, sentia-se atraída. O desejo de tornar-se algo maior fulminava em seu peito, decidiu arriscar.

O silencio era tão absoluto que a fez perder o foco por alguns instantes, notando como até mesmo a falta de sons cantava uma canção. Aproximou-se da porta da sala e clamou pelo criador.

Nenhuma resposta. Ali, naquele lugar, apenas ela e o que lhe esperava atrás da porta. Entrou.

Apenas uma cadeira de madeira iluminada por uma luz amarelada que vazava de algum lugar que não podia ser visto. O resto do lugar em plena escuridão e, se alguém estivesse ali, esgueirado nos cantos, não poderia jamais ser visto. Ela caminhou com passos pequenos e, tremendo, sentou-se. Os olhos varreram o espaço atrás de algum movimento, alguma vida, mas o preto era total.

Apertou os joelhos e começou a bater os pés no chão repetidamente, as batidas fortes do coração enchiam seus ouvidos com o som grave e a boca seca estava entreaberta, pronta para gritar. Mas ainda desejava estar ali. Não estava arrependida.

Fechou os olhos e respirou fundo, pensando em imagens aleatórias para amenizar a ansiedade... Abriu os olhos e, frente a frente com ela, a criatura estava com o rosto colado ao seu.

Possuía a pele escura e os grandes olhos amarelos pareciam ter vida própria. A cabeça era como de um lagarto e o corpo uma mistura de formas animalescas que lembravam a anatomia humana. Não exalava odor algum, mas irradiava maldade.

A garota não gritou ou tentou fugir, mas petrificou-se diante do medo.

A criatura examinou-a com cuidado. Esperara muito tempo por ela. Cheirou seu pavor e arrepiou-se de maneira carnal... Ela estava no ponto perfeito e deveria ser consumada.

Levantou-se nas pernas traseiras e rugiu como um leão.

Saíram das sombras várias criaturinhas esguias e esbranquiçadas que possuíam grandes braços finos que arrastavam no chão e rodearam a garota na cadeira, girando e girando. Uma música suave embalava o ar e trazia lembranças de uma noite de verão na praia.

O demônio abriu as frágeis pernas da escolhida e todos os pequenos monstrinhos se amontoaram ali, abrindo-a e entrando em seu corpo, invadindo seu intimo e tornando-se carne de sua carne.

O grito de dor soou mais alto que a música. Ela estava sendo dilacerada, aceitando todas aquelas coisas dentro de si, acolhendo-as... O sangue escorreu por suas pernas e coloriu o chão. Todos os pequeninos haviam adentrado-a. Ela achou que morreria, mas sentia-se mais viva que antes. Seu ventre estava inchado como de uma grávida. O demônio de olhos amarelos abaixou-se e passou levemente suas garras sobre sua barriga.

Sua noiva amada aceitou seus filhos e agora os universos estavam conectados por sangue. O laço logo nasceria.

Fernanda Oz

Fernanda Oz
Enviado por Fernanda Oz em 17/07/2014
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