Capítulo 1 - Primeira Vida

Há muitas vidas atrás, em um momento passado qualquer de toda a existência, encontraram-se duas pessoas que teriam seus destinos presos para sempre.

Eles já haviam vivido muitas vidas, mas aquela era a primeira vez que se encontravam. Ele veio em forma de homem e ela em forma de mulher.

Eram de realidades completamente diferentes, onde a única coisa que teriam em comum era o mesmo mundo de sonhos. Se encontravam lá e passavam horas e horas, vivendo aquela convivência diária, que aos poucos foi virando amizade e logo em paixão. Sentiam que, como qualquer amor impossibilitado de se realizar, um único encontro poderia salvar toda uma existência. E

seguiram com seus sonhos e seus desejos secretos, supridos de uma

vontade louca de que aquele mundo de fantasias se tornasse verdade. Porque a verdade mesmo os massacrava. Encaram a realidade, as barreiras, as pessoas, o mundo em si sempre fora mais árduo que sonhar.

E passaram por muito tempo assim, longe de corpo, unidos de alma. Mas com todo aquele desejo não sendo consumado, foi consumando a própria alma. E assim sendo, um dia um dos dois sucumbiu. Entregou-se a tristeza e se deixou seduzir por ela.

"Por longos momentos esteve distante, totalmente inconsciente, sem ao menos >ter uma vaga noção do que a esperava. Mais do que dura e fira, quase cruel, isenta de qualquer sonho ou esperança. Lá estava ela. Inerte. Eterna. Dona da mais absoluta das verdades. Capaz de tudo que fosse desse mundo.

Tirana dos destinos, responsável pela derrota ou vitória de qualquer um que exista, seja pedra, pássaro, mãe ou flor. Aquela cujo único objetivo de existir, seja por todos nós.

Não apenas desejou ficar para sempre naquele lugar mas como se agarrou com todas suas forças. Não queria voltar. Sentiu que todo aquele peso não existisse mais. Estava onde sempre desejou, só queria estar onde se encontrava agora.

Não tinha tanto vigor quando se levantou naquela manhã. Toda aquela disposição. Aquela força de correr atrás de seus objetivos não aflorava mais. Fez o que a rotina lhe permitia. Atividades diárias de uma vida sem nada. Só que dentro de sua cabeça não se dava conta. Apesar de já se encontrar num estado deplorável, ainda não tinha tomado consciência de sua condição.

Pensamentos vagos, quase devaneios, onde a sequência cronológica teimava em não coincidir com ELA. Agora estava completamente só. Todos agora já fecharam os olhos, ignoravam ou passaram a simplesmente a conviver. Aquele apelo quase sufocante de ajuda já não era mais nada para ninguém"

E assim ela desceu ao inferno. Definhando e entregando-se completamente.

Ele em seu desespero não conseguiu impedí-la e era íntegro e preso

demais a suas responsabilidades terrenas. Mas jurou a si mesmo que não deixaria sua poesia inacabada.

Continua...

Belit
Enviado por Belit em 19/05/2007
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