O adepto

Esse é o primeiro capítulo do meu quinto romance "VIDA SEM FIM"
 

Todos têm os seus talentos, a maioria desconhece do que são capazes, muitas vezes, pequenas habilidades podem ser potencializadas, e pessoas simples, poderão realizar coisas que supõem-se serem impossíveis.
Não há nenhum misticismo no que passarei a relatar, simplesmente possibilidades inatas que são possíveis de se apresentarem em um simples mortal, e ele realizar o que se poderia denominar de proezas. Trabalhei na área de qualidade total em uma grande empresa de petróleo, e certo dia fui encarregado de recepcionar um palestrante, que foi recebido no aeroporto por um receptivo, que  levou-o ao meu escritório.

Esse homem foi apresentado a mim no início do expediente administrativo, em torno de nove horas da manhã, e sua palestra seria somente às dezesseis horas. Desse modo, ficou ao meu lado durante todo o dia, permanecendo, mesmo enquanto cumpria a minha rotina, almoçando junto a mim, e conhecendo as instalações da empresa, para que, integrando-se ao dia a dia dos trabalhos que realizávamos, pudesse melhor desenvolver sua palestra, que seria sobre reações cognitivas dentro da realidade individual.
Era um psicólogo, especializado em parapsicologia, e depois do almoço, quando estávamos a sós, no meu escritório, ele propôs:
- Você não quer aprender a contatar a sua verdadeira realidade, abrindo-se a uma perspectiva que seja capaz de transformar sua vida?
Disse-lhe:
- É uma proposta desafiadora, aprendi na qualidade total que devemos sempre estar abertos para enfrentar novos desafios. Vamos em frente, o que devo fazer?
O homem que estava à minha frente era praticamente um desconhecido, sabia que ele era professor na Universidade Holística, em Brasília, e fora indicado para fazer uma palestra para o nosso grupo.
Só em se falar em holismo, imaginava-o um barbudo, praticante de yoga, na minha frente, mas ali estava um indivíduo absolutamente comum, com seu linguajar meio jeca do interior goiano, a nos ensinar artes de comportamento. Naquele intervalo do almoço, quando estávamos só nós dois, no meu escritório, pensei:

- “Pelo jeito, eu serei a cobaia do cara, mas como é um desafio, vamos em frente...”  
Sentamos em cadeiras de espaldares altos, retiramos os sapatos e colocamos nossos pés, sem meias, em contato com o chão, como ele indicou.
Antes, ele fez um pequeno preâmbulo, para me dizer o que se pretendia:
- Meu amigo, vislumbre o que vai acontecer com você, não como uma experiência única, mas o início de um grande encontro; nós vamos nos colocar, agora, em frente à parte mais íntima de nós mesmos, com a nossa essência interior. Vamos permitir que ela se manifeste livremente, sem atrelá-la a condicionamentos externos. Esse será um encontro com aquilo que você realmente é, o que alguns denominam de Eu Sou.
Quando perguntaram a Jesus, O Cristo, quem Ele era, num desafio para ver se Ele confirmava ser o que diziam as escrituras, a volta do Elias, percebendo a engenhosidade da pergunta, e a intenção dos questionadores em colocá-lo em confronto com os líderes religiosos, respondeu-lhes:
- Eu Sou o que Eu Sou...
Ele se referia ao que realmente somos, à nossa essência... Ela é quem queremos que se manifeste.
Juro que me passou um calafrio, imaginei que algo que não fosse eu mesmo, se manifestasse, que engolisse a minha vontade e me privasse da liberdade de expressar, como se fosse uma manifestação espírita, em que uma outra entidade incorporasse ao meu corpo, mas ele percebeu, e me corrigiu a tempo:
- O que vai ocorrer aqui, não tem nada de psiquismo, meu amigo, você vai aprender uma técnica em que o seu Ego passará a ser um mero observador silencioso, de modo que a sua verdadeira identidade se aflore, luminosa e brilhante, com todas as suas qualidades interiores. Você não pode imaginar o quanto cada um de nós, guarda em preciosidade; simplesmente, a casca da nossa matéria, não permite que ela se expresse. Tudo ocorre, porque, nossa mente, rica em preconceitos, não aceita aquilo que seja diferente do seu paradigma.
Tudo na vida, é fruto de três únicos componentes, energia, vibração e consciência. A variação em cada um desses nossos formadores, é que faz a diferença entre o que existe na Terra. Eles estão presentes, tanto numa pedra, como no musgo, na água, e também em nós.
 Nosso trabalho, meu amigo, será permitir que a nossa verdadeira energia, vibração e consciência se manifestem, sem interferências de pensamentos ou sentimentos discordantes, estranhos e contaminantes. Vamos jogar fora a poluição mental e emocional, e dar passagem ao que realmente somos.
O homem que estava à minha frente, não parecia com nenhum guru, não tinha a aparência do Osho, ou de algum outro indiano famoso. Sua careca brilhava à luz da lâmpada, não a desligou para que nos concentrássemos, simplesmente começou a falar:
- Preste atenção à sua respiração, e a nada mais; conforme o ar for penetrando em seus pulmões, imagine e acompanhe a energia que será levada ao seu corpo, às células do seu cérebro, que estão ávidas para receber essa energia, perceba essa energia em volta, e enquanto estão penetrando nelas. Quando as energias estiverem ativando suas células, você sentirá um arrepio, é o agradecimento delas por receberem essa energia adicional, que é como se fosse, a sobremesa para elas. Nesse momento você sentirá um bem estar muito grande.
Comecei a pôr em prática o que ele me ensinava, de repente senti o arrepio e imaginei:
- “Minhas células estão agradecendo...”
Então, enquanto eu respirava, e observava o ar penetrando no meu corpo, ele reforçou:
- Você é simplesmente um observador silencioso, não se meta a besta em participar de nada...  – e completou, severamente: saia de cena, simplesmente observe!
Comecei a ouvir o som do ar passando pelas minhas narinas, e um leve torpor adormecia toda a região por onde o ar passava. Senti o pulmão encher-se, como um fole, o ar borbulhar no sangue e renová-lo, energizá-lo. Pude perceber o sangue energizado subir, molhar e ser absorvido nas camadas do cérebro, e imaginei as células ávidas por aquela energia, a agitarem-se. Depois comecei a ouvir o ribombar do meu coração em batidas compassadas: bum, bum, bum!
Em seguida, comecei a observar a minha mente, cada vez mais autônoma, já não era mais eu mesmo, parecia ser alguém independente dentro de mim, mas incoerentemente, não deixava de ser eu...
Esse alguém, o meu Eu verdadeiro, começou a crescer, e então, seguindo a orientação do Mestre, continuei a ser simplesmente um observador silencioso. Quanto mais eu me mantive fora do processo, observando-o, mais sentia que a mente interior tomava conta da situação. Num átimo, ela começou a vagar por lugares em que eu, intimamente, tinha certeza de conhecer, e nesse momento, perguntei para mim mesmo:
- De onde?
Quando fiz a pergunta, a mente interior apequenou-se, percebi, então, que passei a fazer parte do processo, deixei de ser o observador silencioso. Novamente voltei a prestar atenção à minha respiração, e aos poucos, a mente interior voltou a crescer, a iluminar-se, e brilhar...
Agora, vi-me junto à parte mais alta de uma igreja, lá, em baixo de mim, estavam silenciosos, os sinos; olhei para o alto, e pontiagudo, o zimbório, mostrava-se a poucos metros acima da minha cabeça. Olhei novamente para baixo, e o piso estava a trinta metros de onde me encontrava. Na parte inferior, sentados nos bancos, o povo assistia a uma missa, e eu, sem ser visto por nenhum dos presentes, equilibrava-me em cima de uma grande travessa de madeira, que sustentava a nave da igreja. De repente, um menino olha para cima e grita:
- Olha lá!
Então, assustei-me, tudo dissipou-se, a imagem sumiu, e voltei novamente a sentir a respiração e o ribombar do meu coração: bum, bum, bum!
Alfredo – esse era seu nome – disse-me com uma voz doce, como se falasse a uma criança:
- Por hoje chega, você aprendeu, agora tem de treinar, diariamente, ao deitar e ao acordar, de hoje em diante, essa prática fará parte da sua vida. Parabéns, a partir desse momento, você é um adepto!