Tirando o arco-íris do céu

A Vila Branca ficava na encosta da montanha perto do enorme lago. As casinhas muito pequenas, de madeira, muito iguais... Lá tudo era muito igual. As ruas, as praças, até as pessoas se vestiam da mesma maneira... Era tudo da mesma cor. Tudo era praticamente branco. O que não era branco era bem claro, tão clarinho que parecia ser branco. De longe se via aquela vila alva.

John e Joseph nasceram lá. Cresceram lá. Mas eles não pensavam como aquele povo. Porque eles queriam criar, queriam fazer o diferente, é lá tudo era igual. Quem tentasse mudar algo era visto como rebeldes sem causa. Tudo tinha que manter aquele equilíbrio branco.

Sozinhos, eles viviam naquela angústia interna. Eles não queriam ser iguais, não era nem questão de querer, eles nasceram pra ser diferentes dos outros. Não escolheram isso, mas se sentiam muito mal com esse desejo. Era uma angústia sem fim, ser diferente e ter que ser igual. A solidão no meio de tanta gente.

Mas um dia John estava na beira do lago e Joseph o encontrou e eles começaram a conversar, e de uma maneira tão singela, tão simples confidenciaram um a outro o desejo diferente que sentiam. E eles sorriam. Não estavam mais sozinhos. Aquilo foi de certa forma um alivio, eles encontrarem um ao outro de forma verdadeira.

A partir de então eles começaram a se afastar da vila na hora de brincar, gostavam da floresta, lá era colorido. Lá era belo, lá era liberdade. Um dia brincando encontraram o fim do arco-íris mas não havia um pote de tesouro lá. Havia tintas mágicas, latas e latas de tintas coloridas. Os olhos dos meninos brilhavam, naquela cidade tão branca e sem graça nunca tinham visto tanta beleza. Azul, Roxo, Rosa, Amarelo, Laranja, Verde, Vermelho...

Os dois enfiavam as mãozinhas nas latas e passavam os dedinhos sujos uns no outro. E as roupas se tornavam coloridas, como seus rostos. Eles estavam muito felizes.

A noite chegou e os pais dos meninos estavam muito preocupados com o sumiço deles. A cidade toda saiu a procurar. Liderados pelo reverendo Philip acharam os meninos brincando na floresta. Quando os viram todos sujos de tintas coloridas foi escândalo.O reverendo dizia que aquilo era errado, não se podia brincar com cores, não podia gostar de cores e dava um sermão acusando as crianças de incitarem os demais ao erro. Tudo aquilo deveria ser proibido.Os meninos apanharam muito. O reverendo vendo as tintas do arco-íris ordenou aos moradores que as enterrassem, as queimassem, as jogassem no lago... E o pior o reverendo quis que o arco-íris fosse tirado do céu.

Os moradores claro que tentaram fazer tudo que o reverendo mandava. E pegaram machados e foices e foram tentar podar, cortar o arco-íris. Joseph e John não entendiam o porquê daquilo tudo. Afinal o arco-íris era lindo, trazia alegria, trazia tantas cores diferentes, fazia tudo ficar belo... Mas as pessoas e principalmente o reverendo achava aquilo errado. Tudo deveria ficar branco e igual.

Os meninos então desesperados se soltaram dos braços dos pais e correram para o arco-íris e subiram nele. Ninguém conseguia entender como eles fizeram aquilo... E o arco-íris depois de receber tantos golpes foi subindo para o céu e levando os meninos.

As pessoas lá embaixo voltaram a ficar no branco, sem graça e Joseph e John foram felizes levados para o arco-íris. Agora o que ninguém sabe é que naquela vila branca, muitas pessoas guardaram tintas coloridas só pra si... Escondidinhas mantendo segredo. Para a vila elas eram brancas mas na sua solidão elas se escondiam e abriam suas tintas coloridas e sorriam.

Joseph e John sabiam que um dia elas iriam ver o quanto ser diferente é normal e seriam mais felizes... Mas até lá eles resolveram ser felizes sem que os outros os julgassem e nunca mais voltaram para a Vila Branca.