ARISTEU E A RAINHA

Aristeu era um jovem formiga. Isto mesmo, não há nada de incomum, mesmo sendo macho, era um formiga. Filho de Bento e Dona Matilda. Viviam no formigueiro da Rainha Ariam, lá pras bandas da tapera do Vô Chico. Aristeu era tido como o rebelde do lugar, sempre reclamando, protestando, se queixando... Para uns típico da sua idade, para outros, apenas o filho de Seu Bento.

Na verdade Aristeu nada mais era que um inconformado. Via sua gente passando trabalho. Ou melhor sentia a falta do trabalho, já que havia uma grave crise de emprego no formigueiro. Diziam que era por causa da seca. Também ficava triste vendo o lugar onde nasceu lhe parecer um tanto abandonado. Os túneis estavam sujos, e mal iluminados. As estradas em péssimo estado, e há muito não havia alguma obra que melhorasse de fato a vida de seu povo. Não aguentando mais este triste cenário certo dia Aristeu tomou uma decisão, daria um jeito de falar com a rainha, sua voz não deveria ficar restrita ao seu bairro. Tomou coragem e se preparou, tentaria falar com a Rainha.

Também é verdade que Ariam não fazia por mal. Seu governo era péssimo, mas ingênua ela sequer percebia. Acontece que ela não nascera para a política, ou para governar. Aquele cargo lhe era um fardo que caíra em seu colo, e ela tinha que mal ou bem exercer a função. Mas ela definitivamente não tinha jeito pra coisa.

Naquela tarde Aristeu chegou com cara invocada até a sede do governo. Entrou, e se deparou com uma multidão de formigas zanzando sem destino, sem saberem o que fazer. Dominada pelos políticos Ariam havia enchido o Governo com cargos de confiança, e ajudantes que mais pensavam no salário no fim do mês, do que trabalhar pelo bem de todos. Lá dentro o lema era “quanto menos fizer, menos me complico”. Esta cartilha era seguida por quase todos seus secretários.

Não foi difícil passar por quele emaranhado de formigas, a toa. Aristeu comprovava que dentro do Governo o povo passava despercebido. Todos tinham coisas mais “importantes” a fazer. Sem ser interpelado chegou até o a ante-sala do Gabinete Real. Ali a recepcionista olhou-e de cara feia, e logo tentou despachar o jovem for formiga. “A Rainha está em audiência. Volte outra hora”, disse.

Mas Aristeu não desistiria tão fácil, e resolveu esperar o tempo que fosse. Sentou-se. O tempo do relógio corria, e vendo que o jovem não sairia dali a recepcionista fez com que entrasse no Gabinete Real. Lá estava bem sentada em seu trono de couro macio a Rainha. Não parecia muito ocupada.

Sem querer perder tempo Aristeu saltou falando dos problemas que afligia a comunidade. O abandono dos túneis, a falta de emprego, as estradas que precisavam de consertos, enfim... ficou falando por um bom tempo.

No entanto o jovem era muito esperto, e não demorou para perceber que a Rainha sequer prestava atenção em suas palavras, e se mostrava muito mais preocupada com o relógio que apontava quase para o fim do expediente. Além disso, Aristeu que jamais seria capaz de levantar calúnias jurava que chegou a vê-la brincando com as mãos por debaixo da mesa. “E, é isso minha Rainha. O que se pode fazer”. Foram as ultimas palavras de Aristeu ao encerrar seu relatório. Ariam olhou-lhe, e calmamente proferiu, “Não se abale meu jovem, vamos resolver tudo, pode confiar em mim!”. A rainha se despediu, já se passavam cinco minutos do fim do expediente.

O jovem retornou para sua toca com a certeza de que nada mudaria.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 25/05/2007
Código do texto: T500523
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.