† A Mortal prova d´Amor †

Um de meus textos, que aprecio, das antigas.

Escrito no ano de 2001.

Namastê!

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A noite apesar de gélida, parecia cálida aos olhos da bela bruxa Yanca.

Tua empalidecida tez, tal qual à d´uma bonequinha de porcelana, rutilava com a luz da lua cheia perante a soturna noite de inverno, a qual pairava a triste cidade.

Com teus 20 anos, toda tua suntuosidade feminil refletia em tua beleza, nobreza e principalmente avidez. Dotada de cabelos negros emaranhados; tais quais a melancólica escuridão noturna, olhos verdejantes; às majestosas colinas europeias e a boca, ah, lábios inebriantes, férvidos, lábios marcantes de uma real mulher. Teu corpo esguio era sutilmente tratado pelas mãos piedosas das deusas sibaritas.Adorava sob cada cheio e plácido luar, desnudar-se em teu belo e bucólico jardim e realizar os mais lânguidos rituais, ornados à velas azuladas, rubras, incensos afrodisíacos e muito vinho. Clamava por tuas deusas e deuses o reencontro com teu fescenino amado; este que por entre teus sonhos a encontrava em regozijo profundo e eternal. Teus lábios carmesins, almejavam os ósculos, deste que por vidas fora teu, deste que em teus devaneios a tomava em desejos fumegantes.

Em uma certa noite, exatamente à meia-noite, terminou tua bela liturgia pagã sob o luar argênteo e rumou ao teu quarto negrume acalentar até o amanhecer. Mal sabia que, aquela noite, seria o maior e o mais tentador teste de toda tua mágica vida.

Arrumou o pomposo acolchoado negrume em tua cama, acendeu um incenso de verbena, virou-se para teu santuário, agradeceu aos deuses e com um sopro, apagou a rubra vela no cinéreo castiçal datado do século XII. Ébria e estonteante, meneou-se para o outro lado. À tua janela, uma criatura noturna a observava, era um esfaimado corvo, doando a ela os sonhos perdidos de teu amado. Através de teus olhos rubros e lutuosos, a perversa criatura vigiava a doce Yanca, como s´a pequena e carrancuda ave fosse enviada por alguém.

A bela jovem fitou a criatura, despediu-se desta e cerrou teus olhos verdes rasgados até ser dominada pelo sono e sonho profundo.

“Da janela mais alta de tua casa, Yanca apreciava a noite enluarada, radiante pela cheia luz a qual rutilava o luar. Ao longe, pelas colinas e montanhas longínquas, podia avistar uma bela tempestade acompanhada por raios fulminantes, a rasgar o negro céu em neon azulado. Permanecia lisonjeada com o que a grande mãe natureza havia preparado-te.

Resolveu descer as espirais escadarias de teu funéreo mausoléu e apreciar com mais precisão a sutil presença da deusa. Ouviu sussurros então em teu ouvido, um homem? Um anjo,? Talvez! Então, em tua frente, o corvo reapareceu a possuir teu encantador e nefasto olhar noctâmbulo. Yanca, curiosa, tentou agraciá-lo com todo teu encanto feminil, mas a criatura esquivou-se, fazendo-a indagar:

- Boa noite bela e soturna criatura. O que queres de mim nesta noite tão fria e venusta?

E a ave respondeu:

- Sabes o que quero!

- Mas como hei em adivinhar o que queres de mim?

E a ave respondeu:

- Sabes o que quero!

- Oh! Pérfida ave que habita essa triste escuridão, porque de tanto mistério?

E a ave novamente respondeu:

- Sabes o que quero!

Yanca, inconformada em não saber como agir, encarou frívola ave e dentro de seus catatônicos olhos avistou a pérfida e iracunda alma que ela imaginava ter.

- Foste mandada por Lúcifer, oh! Majestosa ave infernal?

A ave resfolegou, balançou sua pequena, mas notável cabeça, fitou Yanca profundamente em seus olhos, e respondeu novamente:

- Não existe o inferno! O inferno é aqui! Sabes o que quero!

E Yanca respondeu:

- Pelos deuses, o que queres de mim notável criatura das trevas? Por que praguejas tanto com tuas misteriosas pilhérias?

Yanca virou-se e subiu a tortuosa escada de teu mausoléu, até chegar ao quarto. Abriu a porta e qual foi a surpresa da moça. No cume de tua janela a criatura insana novamente estava ali, a praguejar.

Yanca, não mais agindo por si, sacou uma lívida e afiada adaga mágica, lançando-a contra o coração da pecaminosa e agourenta ave.

A adaga perfurava, maltratava, torturava aos poucos o corpo negro do corvo. Este, em necro-espasmos abriu tuas negrumes asas, encarou tristonho Yanca e, aos prantos, plangendo incessantemente caiu janela abaixo. Ao olhar para solo, a jovem bruxa nada mais via, além de cinzas e plumosas penas.”

Yanca, no ápice da madrugada, acordou inquieta aos prantos em tua desarrumada cama. Levantou-se e seguiu ao banheiro olhar-se em teu ovalado espelho. Ouviu sussurros. Tua pele estava mais pálida. Retornou ao quarto, quando teve uma fremente visita:

- Quem és tu, estranho homem que habitas meu quarto?

E o notório homem de seus vinte e tantos anos, olhar profundo e profano, boca avermelhada e melíflua tal qual o habitat de uma abelha, sorriso avassalador, madeixas negras e longas ao vento; jazido na cama de Yanca respondeu:

- Sabes o que quero!

A jovem bruxa, assustada respondeu:

- Então você é o ..... – gaguejou a moça

- Sim, a criatura noturna de seu sonho.

- Mas, o que queres de mim?

- Não sabes mesmo o que quero?

- Não!!

- Usa-te o instinto, oh, estonteante bruxa de meus sonhos!

Respondeu o espectro.

- És tu a morte?

- Haahahaha – gargalhou o rapaz – O eterno e infame pré-conceito tomaste conta da humanidade, tal qual de ti, anja mia! Não é porque sou um negrume ser que sou a morte ou o mal, querida amada.

Yanca então, com uma forte dor no peito, agachou-se e plangeu.

- Oh! Sentiste quem sou?

E Yanca rapidamente respondeu:

- És o Amor! Mas, na forma de dor?

O rapaz levantou-se imponente, fitou profundamente aos olhos da garota dizendo-lhe:

- Acabaste de matar-me em teu derradeiro sonho, fustigaste-me com um cálido açoite, confundiu-me com a morte e o mal, usou apenas da razão, da visão, da visualização; esquecendo-te que possuis um aconchegante e benquisto coração. Conhecias-me apenas em mia forma física, em teus sonhos, não como uma ave, tanto é que ao me veres em tua cama não me reconheceste. Era eu o Amor, o teu Amor, era a ti que almejava, o teu amor e a tua alma à minha gêmea. Acabaste de matar-me, acabaste de matar-me!

O rapaz mudando de forma, transformou-se na nebulosa ave, encarou Yanca e voou noite afora lacrimejando a perda do amor e de mais uma alma humanizada.

Yanca, nada mais pôde fazer, apenas daquela ave, uma semente em seu peito a fez renascer.

E assim, eternamente perguntava-se.

“- Se não há o amor, o por que então em ser eu uma boa bruxa?”

*** Há muito mais do que os olhos físicos podem ver***

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Tiago Tzepesch
Enviado por Tiago Tzepesch em 20/10/2014
Código do texto: T5005668
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