Uma prisão chamada paixão

Karima era uma bela princesa de um reino distante. Ela tinha tudo que queria menos o amor do belo duque Pompeu. Aquilo a revoltava, pois ela fazia de tudo para tê-lo.

A princesa não suportava a ideia de que ele estava namorando uma simples camposa, e como uma boa menina mimada Karima fez de tudo para separá-los. Armou intrigas, fez fofocas, acusações... Mas no fim sempre Pompeu acabava voltando para os braços da bela e simples Aurora.

Por fim recorreu até as forças das trevas, procurou uma feiticeira e pediu para que acabasse com o amor entre os dois.

- Eu pago o que for! Pode pedir senhora... Mas eu quero aqueles dois separados.

- Mas nada posso fazer alteza, nenhuma força das trevas é páreo para o amor verdadeiro.

Karima saiu da casa da feiticeira bufando de raiva e no caminho encontrou sua rival. A princesa então surpreendendo até a si mesma humildemente perguntou a camponesa.

- Eu não entendo... Sou mais bela, mais rica, mais poderosa e no entendo ele prefere a você! Eu não entendo... Porque isso?

Aurora com uma simplicidade sem tamanho convidou a princesa a se sentar junto as árvores e começou a falar.

- É simples princesa. Você não o ama de verdade!

- Amo! Amo sim... Eu amo mais que tudo.

- Não princesa, isso não é amor. É paixão é apego.

- Como não é amor? Eu daria tudo pra ter ele ao meu lado. Pra ele ser meu...

- Aí está o erro. Isso é o apego, é a paixão. Você diz: “Eu te amo, por isso quero que você me faça feliz. Quero você pra mim! Eu te amo, você é meu”. Enquanto deveria dizer: “Eu te amo, por isso quero que você seja feliz. E se isso me incluir, será maravilhoso mas se não me incluir... Eu só quero a sua felicidade.”. São dois sentimentos diferentes.

A princesa via os olhos da camponesa brilharem a medida que ela continua a explicar.

- Entenda princesa a paixão é como segurar com muita força, apertando, até mesmo sufocando, tamanho o medo de perder. Mas o amor é como segurar muito gentilmente, com muita delicadeza, como se aquilo pudesse quebrar, pois tamanha é sua fragilidade e seu valor. É algo tão suave, tão leve...E não segurando, o amor tem a liberdade e não amarras. Quanto mais amarrarmos o outro, mais nós sofremos.

As lágrimas desciam pelos rostos de ambas, a princesa agora entendia tudo e Aurora continuou a falar.

- É muito difícil para as pessoas entenderem isso porque elas acham que quanto mais se agarram a alguém, mais elas demonstram que se importam com essa pessoa.As pessoas acham que ter o outro, possuir o outro é amor. Mas não é assim. Elas realmente estão apenas tentando prender alguma coisa, porque se for de outra maneira, acham que elas é que se ferirão, se machucarão se outro se for...

Karima concordava com a cabeça e continuava calada apenas ouvindo tudo.

- O amor é livre. A paixão é prisão. O amor supera os defeitos dos outros, a paixão os condena. O amor é ser, a paixão é ter.

Muitas vezes nos decepcionamos quando a paixão acaba, o desejo se vai... E aí que entra o amor, pois mesmo assim vendo todas os defeitos do outro é que o amamos mais, mas é mais fácil terminar do que enfrentar o amor. O amor é com o tempo chega e a paixão com o tempo se vai.

No fim de tudo, Karima se levantou e se sentiu leve como uma pluma, parecia poder voar. Naquele dia ela se libertou da prisão chamada paixão.