A Lição

A LIÇÃO

Era uma vez, um menino rebelde, chamado Igor, filho de uma casal de russos imigrantes, que não obedecia nem aos pais nem aos mestres. Embora pobres, os pais de Igor tudo fizeram para que ele estudasse nos melhores colégios, tivesse as melhores roupas e se destacasse na vida pela inteligência e sabedoria. Contudo, Igor ignorava os ensinamentos dos pais e reclamava de tudo ao seu redor. Não valorizava os esforços destes e nem considerava o seu sacrifício. Estava sempre de mau humor e era incapaz de ser solidário com alguém.

Nas batalhas que travava consigo mesmo, Igor se sentia dilacerado e mergulhava num torpor absurdo capaz de transportá-lo para mundos desconhecidos, embalado por vans lembranças de um tempo de sonhos e de pesadelos. Atravessando uma crise existencial, que coincidia com uma noite de forte tempestade, o marulhar das ondas do mar batendo nas encostas e o farfalhar das folhas carregadas pelo vento conduziram Igor até as nuvens, cantarolando o

Triolé das Estrelas

Pelos caminhos das estrelas,

Eu, andarilho, naveguei,

Pois queria tanto vê-las

Pelos caminhos das estrelas.

Dos tesouros que busquei,

Só a lição e fé guardei

Pelos caminhos das estrelas,

Eu, andarilho, naveguei.

Nas nuvens, Igor vislumbrou vários animais mamíferos e insetos com os quais fez amizade e aprendeu muitas coisas. Uma cadela fila chamada Judy deu-lhe as boas vindas, lambeu-lhe as faces e transmitiu um carinho jamais experimentado por ele. O camelo sorridente lhe ofereceu transporte; o urso lhe envolveu nos pelos para aquecê-lo do frio; a loba lhe deu de mamar com o leite que revigora e alimenta; a abelha lhe trouxe o mel para deixá-lo mais forte; a formiguinha lhe ofereceu comida e abrigo. Até o morcego, que é considerado um animal repugnante, dividiu com Igor as frutas e o néctar.

Igor ficou encantado com a união e a solidariedade existentes entre estes novos amigos e admitiu que eles eram gentis, inteligentes e absolutamente maravilhosos.

De repente sentiu-se ameaçado pelos leões que queriam comê-lo vivo. Aqueles bichos imensos e famintos ameaçavam devorar-lhe a carne, arrancar-lhe os olhos e sugar-lhe o sangue. A dor que sentia era mais psicológica do que física. Pensava na vida insignificante que havia levado, cujo saldo não passava de uma folha em branco. Na luta para livrar-se dos inimigos, Igor parecia tocar nos limites do desconhecido. Por uma fração de segundos fez uma reflexão profunda e arrependeu-se da rebeldia gratuita para com os pais e mestres. Chegou à conclusão de que, se sobrevivesse, agiria diferente e daria valor às pequenas coisas que nunca conseguira enxergar. Acordou com uma brisa suave no rosto banhado de suor e agradeceu a nova oportunidade que a vida lhe oferecia.

Mado

Mado

Mado
Enviado por Mado em 02/01/2015
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