Vingança

O guerreiro moveu-se rápido. Golpe rápido e limpo. O sangue não espirrou. Escorreu de forma lenta, pelo rasgo fino e preciso no pescoço do velho.

Era fim de tarde. O céu estava púrpura com o pôr-do-sol e não se via uma nuvem no céu. O descampado exibia um matagal irregular, fruto de desleixo do dono. Próximo dali, um casarão de madeira. Dois andares largos e bem acabados. Um celeiro estava à direita da construção principal e uma cerca de madeira podre envolvia os dois. Entre o descampado e a sede da fazenda, uma plantação de café. Mudas recentes e bem tratadas. Ao fundo, o som de animais. Galinhas, gado e alguns patos.

Aquela era a fazenda dos Odinans. O patriarca da família, senhor Teobaldo Odinan, estava agora morto sob um guerreiro silencioso. A disputa de terras naquela região era frequente e a inimizade entre os fazendeiros sempre gerava vítimas.

O assassino preparava-se para ir embora quando ouviu o trote. O jovem alto e magro, que montava o pangaré cor de terra, era o filho mais novo de Teobaldo. Não houve tempo para fuga. Adrian viu seu pai morto e o homem de feições severas segurando a arma do crime. Sacou sua espada e atacou.

Galth era um dos homens de Dominic, antagonista de longa data dos Odinans. Era um homem frio e severo e não deixava trabalho inacabado. Ao ver o garoto atacando, abaixou-se e golpeou as patas do cavalo. Montaria e cavaleiro foram ao chão num estrondo forte. O assassino ergueu-se rápido e preparou-se para a investida.

Adrian não era um guerreiro experiente. Havia começado o treino com um oficial aposentado e progredia rápido. Levantou-se a tempo de aparar o golpe pesado de seu adversário. Os braços estremeceram ante a força do impacto. Galth golpeou mais duas vezes. Precisão e força física combinados. O terceiro golpeou encontrou uma brecha e rasgou o ombro do jovem. Dessa vez o sangue jorrou farto. Adrian urrou e atacou. Seu oponente girou, desviando-se. O contra-ataque abriu um talho nas costas desprotegidas. Novo urro. O jovem caiu de joelhos. O golpe veio rápido e certeiro. Atravessou a espinha e saiu abaixo da caixa torácica. Adrian cuspiu sangue. Olhou para o céu e a visão ficou turva. Sentiu os sentidos desaparecem. Não vingou o pai, ia ter com ele.

Galth puxou a espada e correu. Um flecha certeira cravou-se em seu tornozelo, mas a dor não o parou. O responsável pelo disparo não voltou a disparar, nem o seguiu. Yaus agachou-se e tocou a face morta de seu irmão. Não chorou. Em seus olhos apenas um desejo: Vingança.