UM SONHO COLORIDO

Prólogo

Para muitas pessoas, o estado de sonho pode ser a parte do dia mais turbulento e emocionalmente intenso. Cair, voar, ser reprovado em exames, ficar desempregado, ser agredido ou ser perseguido, não ser promovido, perder uma causa jurídica etc. estão entre os temas mais relatados quando as pessoas são solicitadas em estudos a descrever seus sonhos.

Ainda assim, para um pequeno segmento dos meus semelhantes, sonhar à noite, ou mesmo durante o dia, significa estar em uma situação de tonalidades monocromáticas. Sou diferente! Ontem tive um belíssimo SONHO COLORIDO.

MEU SONHO COLORIDO

Durante a friíssima madrugada chuvosa, argentada; dormias ao meu lado em decúbito lateral. Busquei teu pescoço, sustentáculo de uma cabeça bem-feita que, ao contrário da caixa de Pandora, que continha todos os males do mundo, resguarda pensamentos sãos, ideias benfazejas, sabedoria sem igual.

Na mitologia grega Pandora abriu o Jarro, deixando escapar todos os males inerentes à bestialidade humana, menos a "esperança". A esperança é uma dádiva, mas, há quem afirme que pode ser vista como um mal da humanidade, pois traz uma expectativa, às vezes, vã, ideia superficial, tão surreal quanto esse devaneio que me conduz ao êxtase solitário.

Quando toquei em teu pescoço frágil, fino, feminil, abriram-se os olhos úmidos, angelicais, ansiosos, súplices, como se estivessem a dizer: “és bem-vindo ao meu regaço. Explora-me com a voracidade e inconsequência dos impubescentes... Faças de mim o instrumento de tua paz.”.

Em espasmos descontínuos acordei do sonho colorido. A chuva antes torrencial, agora fina, amainava num alvissareiro conforto, abrandando meus anseios, redimindo meus pecados, exonerando-me dos enredos mais medonhos quando ao teu lado durmo cobiçoso, querendo exercer minha sanha, desejos gratificantes, mas, considerados pelos hipócritas devaneios estranhos.