Malávia - Terceiro capítulo

Capítulo 3 - Frederic Hoover

Molley começou a chorar.

- Onde está meu pai?

Frederic não sabia o que dizer. Estava com pena daquela pobre criança mas precisava guardar segredo. Deixou-a falando sozinha e foi em direção ao enorme campo que tinha ao redor do palácio.

- Venha Molley. Deixe-me contar a minha história enquanto seu pai não vem.

Molley então se sentou na grama, sem se preocupar em sujar seu vestido branco de rendas. Frederic então começou:

- Sabe Molley, eu nem sempre fui amigo da familia de seu pai e sua mãe. Antes da minha família inteira ser destruída pelos Wurwick eu era apenas um jovem que queria atirar flechas e facas em árvores. Sonhava em ser um príncipe. Ter reinos como você. Mas minha família tinha pouco dinheiro e o máximo que eu conseguia era espiar os reinos vizinhos. Incluindo o seu. Quando Malávia sofreu o primeiro ataque, onde diversas famílias foram trucidadas, eu estava lá e não pude fazer absolutamente nada. Vi sua vó e sua mãe serem mortas. Mas prometi a elas que salvaria você. Além de vingar minha própria família. Então seu pai me contratou para serviços de guerra e proteção na família. Eu tenho a obrigação de salvar você não importa o que aconteça. Quando cheguei aqui não conseguia segurar um arco e uma flecha sem fazer algo errado. Foi então que seu pai me deu um treinamento. Ele me ensinou a caçar, me ensinou a atirar com diversar armas, me ensinou a lutar e me ensinou a perceber que não podia deixar minha vingança me cegar por completo. Antes de matar os Wurwick eu precisava de um plano. Seu pai me ajudou a montar um plano contra a última Wurwick. Aquela que você sabe que nunca deve mencionar o nome nessa casa...

Molley começava a se sentir sonolenta. Mas ao mesmo tempo queria ouvir aquela história. Sentia que precisava confiar naquele jovem rapaz. Frederic Hoover por muitos anos tentara salvar sua família de todos os jeitos imagináveis. Desistiu de casar e ter filhos em nome de uma vingança. Ela não sabia ainda se isso era bom ou ruim. Então ela se levantou da grama e deu um abraço em Frederic. Que sem saber o que fazer levantou os braços na cabeça tentando evitar qualquer tipo de contato.

- Venha Molley, vou te colocar para dormir.

Frederic então levou a pequena princesa para seus aposentos e voltou para o pátio. Sentou em cima de um tronco de árvore cortado e começava a contar os minutos para a volta do rei. Tinha esperanças que o mesmo conseguisse escapar do sacrifício e voltar vivo para casa. Porém avistou uma sombra na floresta. Uma mulher envelhecida com os cabelos bagunçados, olhos esbugalhados e que olhava para ele fixamente.

- Venha Frederic. Tenho uma mensagem.

Temeroso foi em direção àquela estranha senhora.

- Quem é você?

Quando chegou bem perto dela notou que sua aparência era bem diferente. Agora via um jovem bonita, com um vestido vermelho bem sorridente. Foi então que percebeu.

- Você é uma bruxa! Guar..

Tentou gritar para os guardas do reino, mas a bruxa jogou um feitiço que paralisou suas cordas vocais.

- Querido Frederic. Eu vou falar. E você vai me escutar. Seu querido rei morreu no sacrifício. E como promessa tenho aqui seu corpo em pó para Molley usá-lo como enfeite em algum cômodo. Infelizmente não pude impedir. Tentei várias vezes convencê-lo do contrário. Mas o rei insistia que precisava se sacrificar para salvar Molley. Também expliquei que o sacrifício dele seria em vão, afinal não faria diferença nenhuma contra o feitiço jogado pela minha família anos atrás. Não é assim que se destroi uma grande maldição e salva uma pessoa. Falei para ele isso. Ele não me ouviu Frederic. Disse que Molley morreria se ele não se sacrificasse. Imagine, uma criança. Quem iria ser tão impiedoso a ponto de matar uma criança tão querida e doce como Molley? Eu jamais seria capaz de cometer tamanho crime. Você acredita em mim não é meu amado Frederic? Você me conhece tão bem.

A bruxa então acariciou o rosto de Frederic. E autorizou-o a falar.

- Bruxa maldita! Mentirosa! Você fez o rei se sacrificar! Você o obrigou a isso.

- Ora, Frederic não lembra mais quem eu sou? Quando foi que fiz alguém se matar seja qual fosse o motivo? O rei se sacrificou porque quis. Acreditava numa história de conto de fadas que alguém contou para ele no passado. Eu posso ter vindo de uma família muito ruim Frederic. Mas você sabe bem que eu não as mesmas maldades que meus antepassados. Eu sou uma boa Wurwick. Sou a última Wurwick. Não tenho motivos para criar uma guerra. Afinal sou sozinha agora. Seria perda de tempo.

Frederic encarava a bruxa sem saber mais o que era verdade ou mentira nas coisas que ela falava. Sabia sim que ela sempre foi diferente de todos os outros Wurwick. Mas também sabia que embora ela fosse diferente, poderia ser tão malvada ou pior que qualquer outro Wurwick. Estava no sangue dela.

- Agora você vai me deixar conversar com Molley. Explicar o que aconteceu com o pai dela e dar um abraço naquela pequena que deve estar em prantos.

- Não bruxa! Você não irá chegar perto de Molley.

Foi então que sentiu passos vindo pelas suas costas. Ao olhar para trás Frederic viu Molly, em seus pijamas com um olho arregalado.

- Frederic, o que aconteceu com o meu pai? Quem é essa mulher?

A bruxa então deu alguns passos na direção de Molley. Mas foi fortemente agarrada por Frederic que a empurrou pra frente.

- Vá embora bruxa! E Molley, volte para cama.

Porém a bruxa havia deixado um vaso cair no chão quando foi arremessada por Frederic. E nesse vaso tinha umas palavras grafadas. Molley as leu.

- O rei

A bruxa então desapareceu na floresta. Molley olhava para Frederic com os olhos enxarcados de água pedindo explicações.

- Meu pai morreu Frederic?

Ele sem saber o que fazer pegou o vaso das mãos de Molley. E guardou-o em um lugar secreto sem dar nenhum explicação sequer. Depois levou-a para seus aposentos e deixou a pequena trancada lá dentro.

- Agora durma Molley. Assim não terá tempo para inventar coisas.

Do outro lado da porta ele podia ouvir Molley chorando aos berros. Sem poder fazer absolutamente. De novo.

Annie Bitencourt
Enviado por Annie Bitencourt em 15/02/2015
Código do texto: T5138348
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