A Matilha do Trovão A Cascavel 5° Parte

5° Parte

Escolheram uma região onde de um lado era uma montanha rochosa e do outro uma floresta de grandes carvalhos. Espalharam-se pelo lugar para encurralá-los. Nuvem Negra estava com Brilho de Gaia numa reentrância da montanha, para proteger o filhote de qualquer ataque surpresa e para uma eventual fuga.

Presa Dourada sentia o odor das criaturas cada vez mais próximo. Era difícil concentrar-se com um cheiro tão semelhante a cadáveres em decomposição. Estava assustado ante o monstro que iria enfrentar. Mais e mais, o odor fétido tornava-se tão palpável que parecia já estar diante deles.

A matilha do trovão esperou por mais alguns minutos e eis que Presa Dourada fez um sinal com a mão avisando da aproximação das criaturas. Pele de Prata e Fúria de Gaia se metamorfosearam em lupinos e se agacharam. Agora, o fedor estava também em suas narinas tão nítido e forte.

As três cascavéis deslizaram suaves agora, pressentindo suas vitimas. Mexeram o crânio triangular para um lado e para o outro e se jogaram contra as arvores. Cada um dos lupinos estava em uma arvore, e cada uma das cascavéis havia se jogado contra a arvore de cada um deles. As folhas caíram com a pancada, balançando o tronco e os galhos. A pancada era alta e forte, estremecendo a terra. Fúria de Gaia saltara para uma outra arvore, trepando nos galhos como podia. Pele de Prata se jogou para a montanha, se agarrando em suas reentrâncias. Presa Dourada estava perdido. Sentia os galhos e as arvores ao seu redor, mas ainda não estava acostumado a lutar sem a sua visão. Não estava ainda habituado a viver em sua atual condição.

Fúria de Gaia, ao ver a cascavel ir em sua direção, pulou para o corpo dela com as garras afiadas a mostra. Com toda a sua força, ele fincou suas garras no corpo da víbora. Ela se sacudiu para todos os lados, jogando-o contra uma rocha. Fúria de Gaia ainda estava tonto pelo golpe, mas percebeu a tempo uma nova investida da víbora. Ela avançara com a bocarra aberta e o lupino se esquivara a tempo, fazendo-a passar direto por entre os arbustos e pedras. Com o corpo dela ainda a passar, ele deixou suas longas garras cortando o corpo maleável da cascavel. Ela uivou de dor e arremessou o rabo contra o lupino. Este recebeu o impacto e foi jogado num rio profundo com águas turbulentas.

- Droga. Sempre caio na água. – ele subiu numa rocha e se debateu, expulsando a água dos pêlos do corpo.

A serpente o encarara e entrara na água, espalhando o sangue negro e espesso que escorria de seus ferimentos. O rio agora estava em mais completa escuridão.

Pele de Prata observava a serpente se esgueirar por entre as fissuras da montanha e subir em sua direção. Mais acima, havia uma grande rocha segurada apenas por pequenas rochas. Com um movimento rápido, ela se jogou para a grande pedra e com as costas nela e as pernas apoiadas na montanha, usou toda sua força para empurrar a pedra. Com grande esforço, a enorme pedra se moveu, soltando poeira. Um estalido seco e a rocha assim caia no vazio. A cascavel fora pega de surpresa. Tentou se desvencilhar das pequenas pedras que caiam sobre o corpo, mas a mais pesada acabou por esmagar seu corpo, deixando a cabeça a uivar de dor e balançar-se de um lado para outro. A sapiente lupina desceu habilmente da montanha, ficando com pose de desafio diante da cascavel que se agitava incansavelmente. Os ossos e um ferimento grande estavam aparecendo por baixo da pedra.

- Nossa como você fede! – ela disse simplesmente. Virou-se e correu em auxilio de seus companheiros.

Presa Dourada tinha medo. Não conseguia enxergar o inimigo, suas falhas, seus pontos fracos. Como poderia enfrentar um inimigo dessa forma? Agarrou-se o mais que pode a arvore até que caiu com mais um impacto da serpente contra o carvalho. Tentou se segurar nos galhos, mas era muito pesado. Caiu de costas numa rocha e sentiu os ossos da costela se partir. Por puro reflexo, se jogou para o lado, evitando o ataque maciço da cascavel. Presa Dourada escutou o espatifar das rochas ante o avanço monstruoso da víbora. Ele se levantou e cambaleou, encostando-se numa arvore. A dor em seu tronco era terrível. Parecia que tinha garras a atravessar os seus órgãos internos. Sentiu mais uma vez a aproximação da cascavel por trás de si. Mas também sentiu...

- Mova-se guerreiro! – gritou Pele de Prata suspendendo-o pelos pêlos. Ela tinha fincado suas garras no tronco do carvalho e o puxara com uma das mãos soltas. – vou levá-lo para um lugar seguro.

E com uma grande força de vontade, ela o carregou até um galho e o deixou lá. Observou a cascavel dando a volta para mais uma investida. Cortou um galho com arbustos e empapou-a com o sangue de Presa Dourada e deixou-se cair de frente à víbora, que avançava estraçalhando tudo pelo caminho. A uns dez metros, jogou o galho da arvore para um lado e se jogou para outro. Como pensara, a cascavel foi em direção a sua vitima atual, esquecendo-se do cheiro dela. Quando a cascavel virou sua cabeça, Pele de Prata enxergou o osso do maxilar por mini-segundos. Nesse pouco tempo, avançou e cravou suas garras por trás daquele osso. A víbora não teve reação. Seu corpo fétido parou de se mexer, supostamente sem vida.

Pele de Prata recuou alguns passos, com as mãos doloridas e cobertas pelo sangue negro e viscoso do animal. Ela deu um suspiro, olhando para baixo. Não percebeu quando a criatura recuou um pouco sua cabeça e avançou na direção dela com a bocarra extremamente aberta. Pele de Prata apenas sentiu um hálito quente e mal cheiroso a envolvê-la, logo depois tudo ficou escuro.

Fúria de Gaia estava por cima de uma rocha, aguardando o ataque da cascavel. A correnteza ao seu redor o confundia, assim não podendo prever o ataque dela. Ficou assim por um momento até que algo surgiu por trás, com a ferocidade de um tubarão. O lupino se virou rapidamente e agarrou as duas presas ensopadas da cascavel. Ela se debatia furiosamente e ele segurava com firmeza. Usou toda a sua força, as veias dos braços e do pescoço ficaram a mostras prestes a pular através da pele. Com toda a sua força, impulsionou os braços para fora, arrancando as duas presas da víbora. Ela deixou sua cabeça cair para o lado e seu corpo ser levado pela forte correnteza. Fúria de Gaia respirou com dificuldades, sentindo todo o seu corpo coberto pelo sangue negro. Seu coração estava acelerado. Tentou se levantar, mas seu corpo estava pesado demais. Por fim, desmaiou de cansaço.

A muitos quilômetros dali, Lian estava de olhos fechados, sentado em seu trono, meditando. Abriu os olhos e duas perolas prateadas brilharam no lugar da íris.

- Volte minha cria. Você tem o que eu quero. – ele sussurrou.

A cascavel que sobreviveu havia escutado a mensagem de seu mestre, e contornou, fazendo o caminho de volta ao templo.

davifmayer
Enviado por davifmayer em 07/06/2007
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