O Florista

Quando era criança havia aquele homem, ele passava o dia no semáforo da avenida principal da cidade e vendia buquês de rosa quando os carros paravam. Ele sempre estava de terno e nos dias de sol levava um chapeuzinho de guarda-chuva que usava para não se queimar. Eu perguntava para o meu pai e para a minha mãe por que ele ficava lá, se não tinha outro emprego, mas aparentemente ninguém queria me responder, fingiam que não me ouviam e continuavam falando sobre o preço dos tomates. E havia tantas outras perguntas como: por que ele usava um terno mesmo nos dias de sol? Por que não vendia algo que as pessoas fossem comprar? Não se sentia idiota com aquele chapeuzinho na cabeça? Ninguém nunca me disse nada.

Com o tempo parei de questionar sua presença e minha cabeça parou de pensar em buquês de rosa e chapeuzinhos de guarda chuva. Então havia dias em que ele não estava lá, começou a ir apenas aos dias pares, depois apenas as terças e quintas, e em um momento ele não ia mias ao semáforo.

Quando paro e olho para trás penso que talvez ele não quisesse que comprássemos suas flores, apenas queria mostrar o quão inusitado sua presença era ou então apenas tinha muitas flores em casa. Eu não sei. Talvez ele apenas quisesse que alguém parasse por um instante e lhe perguntasse: por que está com um chapéu ridículo vestindo um terno surrado e vendendo flores?

Talvez ele tenha cansado de me esperar e foi embora.

Matheus Barbosa
Enviado por Matheus Barbosa em 23/04/2015
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