A Ultima pétala de rosa

Eu era um caminheiro, um ser iluminado, evoluído, longe de um Deus, era apenas um serviçal fazendo seu trabalho. De mundo em mundo, dimensão em dimensão, observando e anotando o progresso das vidas e o que era feito delas, vi reinos serem destruídos, amigos se matarem por ciumes, homens destruindo sua própria fonte de vida,vi da vida o seu pior lado, a crueldade, a maldade, a inveja e a ganância.

Até que em algum momento de minha jornada encontrei um lugar abandonado onde me deixei cativar pelo único ser vivo que vivia naquele lugar, uma jovem garotinha em um lugar a temporal vazio e solitário. Olhando para o horizonte, nada conseguia enxergar, nevoa, poeira, ventos. Um infinito deserto coberto de uma noite sem fim.

Eu estava ali, mas ela não podia me ver, não podia me sentir por perto. Eu era como um corvo solitario com o espirito de um lobo, em guarda pronto para defende-la de qualquer ameaça.

Naquele deserto não havia animais, não havia vida, tudo era opaco.

Um inferno pessoal com o maior dos inimigos, a solidão.

Não existia tempo naquele pedaço de terra, não existia lua nem sol, aquela noite noite eterna não era um breu completo, a noite permitia a ela enxergar o suficiente para se desesperar.

Não sei por quanto tempo fiquei ali apenas a observar, mas sei que repetiria tudo se um dia fosse necessario novamente.

Certa vez, depois de muito tempo avistei ao longe uma fraca e quase imperceptível luz. Ela não conseguia ver, mas na minha condição, eu tinha o necessário para ver alem da nevoa.

Ao chegar mais perto daquele foco de luz em meio aquele enorme caos, pude perceber que não se tratava de uma luz e sim de uma pequena e singela rosa branca, sobrevivendo naquele mundo desolado quase como milagre.

Daquele momento em diante, me dispus a cuidar da garota e da rosa, comigo carregava um cantil cheio de água, não era muito, mas era tudo que eu tinha, de tempos em tempos eu deixava algumas poucas gotas de água cair sobre o solo que mantinha a pequenina planta. Até que um dia a água acabou e a rosa começou a murchar e aos pouco a deixar pétala por pétala cair seca.

Triste eu não podia fazer mais nada, então voltei minha atenção totalmente a garota. Mas ela agora parecia estar doente, aparentava estar piorando enquanto caminhava rumo a lugar nenhum.

A jovem garotinha do deserto estava morrendo.

Não levou muito tempo ate que eu ligasse uma coisa a outra, a rosa que eu encontrara a mantia viva naquele lugar. Tendo em vista isso corri em direção a planta, ha aquela altura tinha me rebaixado a correr desesperadamente por aquele lugar. Ao chegar e ver a rosa apenas com uma pétala, tentei pega-la, mas acabei me furando e sujando com meu sangue a ultima pétala daquela singela rosa branca.

Eu não tinha a minima noção do que fazer para salvar a garota. Então em um ato de completo desespero cai de joelhos sobre ela e comecei a chorar, não queria que a vida daquela pequena garotinha fosse ceifada.

Enquanto chorava, deixando para trás toda a minha superioridade, a garota apareceu atras de mim e me confortou, naquele momento percebi que meu desespero tinha me colocado na mesma faixa que ela, fazendo com que ela pudesse me ver pela primeira vez.

A abracei com força, quase esmagando seu pequeno corpo frágil. Ela apenas me dava tapinhas nas costas, como se fosse eu que estivesse morrendo em vez dela. Até que senti seu corpo amolecer, ela estava nos últimos segundos.

Em uma ultima tentativa, quebrei minha alma em duas partes e a dei um pedaço, ela iria ficar bem, mas ela continuaria condenada a viver naquele mundo desolado. Então antes que eu ficasse fraco de mais, fragmentei a segunda parte de minha alma, que caiu como chuva sobre tudo que poderia existir naquele lugar.

Meu corpo sem ter mais como se sustentar caiu e antes que eu simplesmente fosse ceifado, pude ver os lindos olhos daquela garotinha que estava redobrando a consciência.

Não demorou muito tempo para tudo que existia ali mudar completamente, fazendo o nada se tornar um novo tudo.

O deserto agora tinha se tornado um vale cheio de plantas, de um verde quase que indescritível. Animais começaram a surgir, rios nasceram, o sol deu seu ola, de forma tímida, nascia naquele momento um mundo cheio de vida.

A garotinha ficou maravilhada, pois sempre existiu no nada e no nada vivia eternamente.

Mas logo ela se lembrou de mim, ela sabia o que tinha acontecido e começou a chorar, no mesmo lugar e do mesmo jeito que eu havia chorado por ela.

No lugar daquela flor, onde duas almas choraram por se amarem mesmo sem saber, nasceu uma arvore enorme de flores vermelhas como aquela gota de sangue. Mostrando pala ela e para todos que um dia poderia vê-la que eu não estava morto, mesmo que eu n tenha existido pelo fato de antes do meu sacrifício simplesmente não existir o tempo, aquela arvore, aquelas plantas, a água, o sol, a lua, e principalmente aquela jovem garotinha me mantinha vivo e na lembrança.

A garotinha então cresceu e devotou a sua vida a cuidar daquele lugar, daqueles animais, como uma forma de agradecer pelo q ele tinha feito ate os últimos momentos de sua longa vida.

No final o que era apenas um trabalho, se transformou em uma vida compartilhada entre amantes.

Viva por quem se ama e vivera para sempre.