A arena

Raziel sentia cada músculo do seu corpo doer, os cortes causados pelas criaturas demoníacas não cicatrizavam de forma alguma apesar de sua constituição angelical, suas asas antes brancas com marcas amarronzadas estavam quebradas e foram quase arrancadas, seus pertences, espada, armadura e elmo lhe foram tomados e após um longo tempo de tortura fora jogado na cela onde hoje se encontrava.

  Raziel era um anjo recém caido do reino celestial e a sensação da matéria ainda lhe causava estranheza mas aos poucos estava se adaptando, cerca de duas semanas após a sua queda havia sido capturado pelo grupo de demônios e levado ao local onde estava preso até o momento, não sabia ao certo qual a intenção daquelas criaturas, ele sabia que o procedimento comum era caçar o anjo caído e mata lo. Simples e fácil sem riscos, porém apesar das torturas ele havia notado o extremo cuidado que aquelas criaturas haviam tido para garantir que ele continuasse vivo.

   A rotina na cela era extremamente regrada e previsivel acordava e um enorme demônio junto com outros dois entravam na cela, o menor deles e aparentemente o mais inteligente carregava um punhal com lâmina esbraquiçada muito parecida com marfim, pode observar que haviam algumas runas talhadas tanto na lâmina quanto em sua empunhadura, este era dourado com uma gema vermelha, os outros dois carregavam porretes, enquanto o maior ficava na frente da porta bloqueando qualquer tentativa de fuga os outros dois se aproximavam cautelosamente com enormes sorrisos estampados nos rostos, como ele adoraria arrancar aqueles sorrisos,  quando ele reagia o que portava o punhal erguia o braço em que segurava a arma e uma enorme força invisível prendia no na parede impossibilitando o de qualquer reação e assim eles realizavam varios cortes no seu corpo enquanto o segundo o espacava exaustivamente, quando ele não reagir apenas os corres eram feito.

   Posteriormente ele recebia alguns suprimentos, nada demais ou realmente nutritivo, apenas uma papa gosmente e um copo de algum liquido nojento e o restante do dia ele ficava só esperando o sono domina lo para que sua rotina recomeçasse.

   Algumas semanas depois houve uma mudança de rotina, a tortura havia parado e suas rações apesar de continuarem horríveis se tornarão mais frequentes aos poucos sentiu o corpo e a mente voltarem a normalidade e os períodos de solidão passaram a ser preenchidos com exercícios e meditação. Ele precisava se manter forte para posteriormente poder tentar fugir.

   Certo dia os demônios voltaram a abrir a cela, ele já não possuia a mesma força e o mesmo condicionamente físico que outrora porém considerando as condições ele havia se recuperado razoavelmente bem, somente as suas asas que haviam sido destruídas aparentemente para sempre, restando apenas algumas penas presas a ossos quebrados.

   - Chegara a sua chance de ir embora criatura se tentar fugir eu lhe mato antes de chegar a arena então comporte-se. Disse o maior dos três.

   Raziel apenas confirmou com a cabeça, ele sabia que tentar algo seria arriscado demais e eles ainda possuiam o punhal que poderia inutiliza lo rapidamente, ele já havia deduzido que eles não pretendiam mata lo, portanto sua melhor chance era aguardar.

   Foi escoltado por um corredor com celas bem esparçadas pode observar que algumas estavam ocupadas mas ainda assim eram poucas.

   O corredor era extremamente escuro e exalava cheiro de morte, haviam algumas lâmpadas esparsas acesas mas sua luminosidade era quase nula, pode ouvir alguns gemidos muito baixos e alguns gritos de dor e outros implorando por clemência.

   Ao final do corredor haviam duas portas laterais o demônio menor que carregava o punhal se adiantou e com uma chave nas mãos destrancou e a escancarou.

   - Beberei pela sua morte hoje, criatura ridícula, espero ser escolhido para arrancar acabar com a sua raça. Disse o demônio maior e com um chute jogou o anjo através da porta.

   Antes da porta ser trancada pode ouvir as gargalhadas do demônio.

   Assim que entrou no novo ambiente pôde ouvir diversas vaias e xingamentos.

   Ao se situar percebeu que estava em uma arena no estilo romano, areia estava aos pés e estava rodeado por arquibancadas cheias de demônios e outras criaturas, a sua frente situava se uma sala aparentemente destinadas aos de maior escalão pois a mesma possuia grandes tronos acolchoados em uma observação mas atenta pode perceber que os tronos eram feitos de ouros e pedras preciosas com crânios nos braços e cabeceiras e o enorme pano que cobria o local era feito de pele humana.

   Cada trono estava ocupado por uma criatura diferente, o primeiro deles era de um enorme demônio, seus braços eram curtos e roliços, sua pele era esverdeada e soltava um liquido vicoso e grudento, este possuia uma escrava acorrentada ao seu braços que lhe dava na boca alguns petiscos que o anjo não conseguia identificar o que eram, possuia olhos pequenos e amarelados e sua aura transmitia luxúria e violência, pode perceber o prazer sádico que a criatura sentia pela situação em que ele colocava a escrava o que apenas foi confirmada com o murro que ele deu nos lábios da mulher que tentou se recompor o mais rápido possível para que assim pudesse continuar com o seus trabalho o que foi retribuido por um sorriso cheio de presas de amareladas e pontiagudas.

   Estava sentado no segundo trono uma mulher de pele pálida e traços elegantes, seu rosto era fino com lábios bem delineados, olhos claros, vestia calça jeans preta e camisa da mesma cor, seus cabelos eram longos e negros como a noite, se sentava de forma relaxada e confortável em seu trono pela coloração pálida de sua aura provavelmente se tratava de uma vampira.

   O terceiro trono, o que se situava no meio, estava vazio até o momento, provavelmente se tratava do lugar do anfitrião do evento.

   Nas paredes abaixo das arquibancadas haviam os mais diferentes tipos de armas desde espadas e machados, até pistolas e fuzis.

   Os seres que se situavam nas arquibancadas estavam extremamente nervosos e agressivos quanto a sua presença praticavam os atos mais hediondos e somente no pouco tempo que estava dentro da arena pode observar diversas brigas e orgias ocorrendo, mas ao ouvir um apito alto e agudo todos pararão o que estavam fazendo e passarão a olhar para a sala principal.

   De algumas cortinas no fundo da sala saiu um homem coberto por um manto negro, seu rosto e seu corpo estavam completamente cobertos pelo manto.

   Naquele momento Raziel realmente se assustou além do respeito que aquela criatura impunha a todas as outras, a sua aura era impossível de ser lida, não conseguiu identificar a sua origem e o que realmente ele era, sabia que ela estava lá mas toda vez que se concentrava para observar, rapidamente era forçado a desviar o olhar.

   - Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem vindos ao eventual principal. Lady Triana, lorde Maskaroth, muito bem vindos. Disse o homem encapuzado se dirigindo ao seu lugar, a voz do homem era de uma frieza sem igual, era límpida e grave e extremamente bonita, mas aquelas poucas palavras haviam transmitido a confiança e a serenidade daqueles que sentem extremamente seguros e quando se está entre demônios poucos podiam realmente sentir segurança.

   Assim que o terceiro homem se sentou Lady Triana se levantou, a vampira possuia uma beleza sem igual se não fosse pelo seu auto controle provavelmente Raziel faria qualquer coisa que aquela mulher pedisse.

   - Boa noite. Senhores. Ela fez um leve aceno aceno para os outros dois que dividiam o espaço com ela e continuou. - Hoje em nosso evento principal teremos um caído. Uma enxurrada de vaia e ofensas sairam da plateira, a vampira aguardou até que os ânimos se acalmassem e prosseguiu. - Como vocês bem sabem, sempre damos duas alternativas para nossos combatentes, a luta pela vida ou a vida para a servidão, caído você bem sabe que coletamos seu sangue ao longo da sua estadia em nossos aposentos, bom com ele realizamos um ritual de aprisionamento mesmo que você queria fugir de nossas instalações não poderá, seguem as suas opções escolher um de nós três para servir ou se tornar um gladiador em nossa arena, podendo ser liberto quando acharmos conveniente, a escolha é sua.

  Raziel observou os três que estavam postados a sua frente, nenhum deles retribuiu o olhar, eles conversavam entre si ignorando completamente o caído no centro da arena. Portanto ele analisou as suas alternativas, provavelmente para escolher servidão ele teria que assinar um contrato infernal com todas as cláusulas que garantiriam que ele se mantivesse obediente e servil, por outro lado ele sabia que estaria em desvantagem em qualquer combate naquele local, as suas opções eram frustantes nenhuma delas lhe dava margem para fuga.

   - Lady Triana. Ergueu a voz o anjo caído. - Tenho direito a uma contra proposta?

   A vampira ergueu as sombrancelhas um pouco admirada com aquela atitude, observou os companheiros e com um aceno de mão deu permissão que o caído prosseguisse.

   - Gostaria de ser um gladiador por enquanto, porém também gostaria de servi la, caso me concedesse a honra.

   Triana observou Raziel atentamente, tentava encontrar o truque daquela proposta e Raziel se manteve impassível e calmo não poderia transparecer nenhuma emoção, Triana observou os outros dois e sem resposta percebeu nenhum sinal virou se para Raziel.

   - Caído permaneça vivo esta noite e discutiremos os termos de minha aceitação. Que entre o oponente.

   Uma salvo de aplausos foi seguido por gritos de satisfaçao. Raziel correu em direção a uma das paredes apanhando uma espada longa em uma das mãos e com a outra um coldre com duas pistolas automáticas e se pôs em posição de combate.

   Enquanto isso um portão de ferro se erguia, a criatura que saiu de lá possuia quase 3 metro de altura, o corpo era musculosos e em ambas as mãos ele carregava dois cutelos enormes, os músculos estavam exposto em decorrência da ausência de pele, os olhos amarelos brilhavam clamando por sangue, e os dois chifres que possuia na cabeça estavam revestidos de aço.

   A plateia urrou de satisfação e os gritos começaram.

   - Açougueiro, açougueiro, açougueiro...

   O combate acabava de começar.

   Raziel empunhou uma pistola e começou a atirar, foram 6 tiros certeiros, um entre os olhos, dois nas pernas, um no peito, um no chifre e o último na mão direita e todos ricochetearam no corpo da criatura, esta por sua vez soltou um grunhido que se assemelhava muito a uma gargalhada e avançou, a velocidade da criatura era espantosa considerando seu peso e tamanho e com um movimento ágil desceu com um dos cutelos na direção de Raziel que se esquivou por muito pouco.

   Ao tentar contra atacar com a espada o outro braço da criatura aparou o golpe com a destresa de um guerreiro muito experiente e rapidamente avançou com o braço que havia atacado primeiro, mais uma vez Raziel se esquivou por muito pouco, Raziel sabia que se continuasse neste ritmo rapidamente seria eliminado e seu plano de fuga iria por água abaixo.

   Então ele correu, se distanciou da criatura o máximo que pode indo na direção oposta da arena com a pistola em punho efetuando tiros estratégicos e buscando alguma abertura na defesa do oponente, a resposta a sua estratégia foi uma série de vaias e ofensas vindas da platéia.

   Mantendo distância foi atirando sucessivamente, pegando as armas a disposição na parede e percebendo que os tiros eram repelidos.

   A fera então arremessou o seu cutelo gigantesco na direção do anjo foi pego desprevinido.

   Com um golpe firme de sua espada desviou a enorme arma de sua trajetória mortal, apenas para ser golpeado pela criatura com a mão livre e atirado ao chão.

   O golpe do cutelo seguinte veio logo em seguida e apesar de ter aparado com a espada a sua força não foi suficiente para segurar o golpe que resvalou em seu peito abrindo um talho enorme.

   Raziel sentiu seus braços tremerem, a sua força se esvaia a cada contra ataque então pegou um punhado de areia e arremessou contra a cara da criatura.

   O açougueiro urrou em protesto e o fato de te lo cegado proporcionou a oportunidade perfeita para que o anjo se distanciasse.

   Na sua fúria o açougueiro ergueu a perna na tentativa inútil de esmagar o oponente que já não estava lá, este movimento foi o necessário para que Raziel visse na coxa esquerda do açougueiro um pequeno rubi avermelhado preso na carne da criatura o rubi era idêntico ao que estava encrustado na adaga e que por experiência ele sabia que era portador de componentes mágicos, havia encontrado a falha na defesa do adversário.

   Raziel se distanciou até a parte oposta da arena, lá encontrou uma espada curta no estilo romano, um gladio.

   Ele aguardou a criatura se recompor e observa lo, como havia previsto ele estava furioso e cega pela raiva e então ele correu.

   Tudo se resumiu a uma esquiva, ao se aproximar o açougueiro arremessou o cutelo que foi esquivado, ao tentar agarrar o anjo com a mão livre, Raziel se jogou e deslizou entre as pernas da criatura que ficou sem reação 

   Ao passar próximo ao rubi Raziel cravou o gladio na pedra que se estilhaçou, em seguida se levantou com um impulso das pernas e com um movimento rápido cravou a espada longa nas costas da criatura que urrou de dor, utilizando o apoio da espada cravada na fera se impulsionou para cima.   A criatura ainda tentou acertar o anjo com um dos braços inutilmente, apenas para sentir o a lamina do gladio entrar inteira em seu crânio.

   O silêncio que se seguiu foi tão intenso que Raziel quase pode senti lo, apenas para ouvir seu nome ser gritado pela multidão.

RAZIEL... RAZIEL... RAZIEL