A Academia - Capítulo 2

A moça dos olhos grandes estava há semanas atrás do homem que deixara uma marca nela, uma cicatriz de lagarto na batata da perna direita, sabia que seria difícil porém rastros eram deixados por ele, por toda parte.

Bastava saber se estes rastros estavam sendo deixados propositalmente, o que era provável, pois ele era meticuloso e calculista.

Toda informação coletada era importante, pois fazia um pouco mais de um ano que não o via. Ela o conhecia bem o suficiente para saber que estaria longe após tanto tempo, o ponto inicial da sua busca seria o último local de encontro deles, Catedral Averin, a cidade ao lado da Academia, sabia que ele provavelmente deixara algum rastro lá, algo destruído, uma casa talvez, ou alguém.

Pois seguiu a estrela polar que levaria a Academia e fatalmente a Catedral Averin.

Capítulo 2 - Viagem.

Após dias de caminhada Patri estava exausto, as roupas fedendo e com fome, muita fome.

Estava sem dormir há dois dias, os pesadelos constantes com os raios caindo e o cheiro da destruição não deixavam o garoto dormir.

Bebeu água na beira do rio e tentou pescar algo durante algumas horas, sem sucesso. Olhou em volta para procurar algumas frutas, pois estava em uma espécie de floresta, sem sucesso novamente decidiu comer folhas e um pouco de terra, que ficaram incrivelmente deliciosas com a fome absurda.

Sentou na beira do rio e chorou durante mais algumas horas, tempo o suficiente para anoitecer, quando o garoto de exaustão apagou durante alguns minutos.

Luzes amarelas e barulhos de trovões, Patri via a destruição consumindo tudo rapidamente, mais luzes amarelas de raios caindo e dilacerando pessoas vivas, viu Louis e Cardioti morrendo, e por fim, Mary... Mais luzes e barulhos, acordou.

Sentou novamente e ainda era noite, se pôs a fitar a estrela polar, pensando nas palavras de seu pai sobre a Academia, e sobre o que Mary havia dito "crianças da nossa idade aprendendo coisas complexas", faria isso por eles, chegaria vivo a Academia.

"Ao menos não faz frio..." pensou.

O colar de sua mãe estava envolto em seu pescoço, agora totalmente apagado, tirou e na palma da mão fitou a pedra.

Era uma pedra branca num cordão preto, uma pedra pálida e pequena, em formato rústico, não fora trabalhada, apenas parecia ter sido tirada de algo maior:

- FINALMENTE ALGUÉM VIVO! - Patri ouviu uma voz fina e estridente.

Uma garota pequena se aproximava junta de um garoto imenso, era contrastante o tamanho de um perto do outro:

- AAAAAH, NEM ACREDITO! - Urrou o garoto maior, era imenso, usava trajes de alguém que sabia lutar com espada, roupas de couro marrom e botas grandes.

A garota tinha seus cabelos negros e crespo, era branca e tinha um sorriso forçado no rosto, usava vestes de camponês:

- Er... Olá. - Cumprimento Patri se levantando e guardando o colar no bolso da calça surrada.

- Ei! Eu sou Beth! E ele é o Saulo! - Disse Beth, a menina pequena.

- Sou o Patri. - Disse ainda desconfiado.

- De onde você vem? - Saulo perguntou. - Nós somos de Certrial, mas...

Saulo e Beth se entreolharam:

- Nossa cidade foi destruída. - Disse Beth deixando o sorriso forçado de lado por uns segundos.

Patri arregalou os olhos e levantou:

- Destruída? - Patri tentou disfarçar seu interesse.

- Sim... Você provavelmente vai nos chamar de mentirosos. - Disse Saulo. - Mas nossa cidade foi destruída por...

- Raios? - Completou Patri.

Os dois arregalaram os olhos espantados:

- Sim!

Patri lembrou dos raios que Cardioti havia visto poucas noites antes da cidade Nero Cidadela ser destruída:

- Eu também venho de... A cidade onde eu morava também foi destruída.

O semblante de todos agora eram os mesmos, terror.

A barriga de Patri roncou, alto o suficiente para todos ouvirem:

- Ei! Nós temos comida! - Disse Beth voltando a sorrir forçadamente. - No nosso acampamento, não fica longe daqui, só sobrou nós dois... E Mac!

A garota sorria para Patri e Saulo fez uma menção com as mãos:

- Vamos, podemos nos ajudar. - Disse o pequeno gigante.

Patri ficou pensativo um momento, precisava chegar até a Academia, mas sozinho não sobraria muito tempo, e se bandidos ou animais selvagens aparecessem, e os dois estranhos não pareciam maus.

Bufou para si mesmo:

- Sem problemas, se vocês estão me convidando eu vou.

A garota deu um grito de aprovação que assustou Patri:

- Mas nada de gritos por favor! - Disse o garoto.

Seguiram rumo ao acampamento dos dois, no caminho entre as árvores conversaram um pouco:

- Onde pretendem ir? - Perguntou Patri aos dois.

- Eu vou a Catedral Averin, eles estão recrutando soldados para o exército de Deus. - Disse Saulo.

Patri só concordou com a cabeça:

- Eu não sei onde eu vou ainda... - Disse Beth ainda sorrindo. - E quantos anos você tem? Eu tenho 15!

Patri olhou para Saulo que logo respondeu:

- Também tenho 15. E você, e qual seu nome? - Perguntou Saulo.

- Sou Patri, tenho 13 anos.

- E pra onde está indo? - Perguntaram os dois juntos.

Patri apontou para a estrela polar:

- Incrível lugar, já estive lá quando mais novo. - Disse Saulo.

Beth apenas sorria.

Seguiram até um acampamento feito com galhos e folhas:

- Eu mesmo fiz, aprendi a sobreviver na selva em um treinamento que fiz. - Saulo parecia orgulhoso do feito.

- Parece aconchegante.

Beth serviu Patri e todos comeram, peixe e algumas batatas:

- Podemos dormir um pouco e continuar amanha, parece que todos vamos para a mesma direção. - Beth sorriu.

- Sim. - E dormiram bem, Patri um pouco menos.

Durante a noite, novamente pesadelos com raios, e um homem gigante sentado num trono negro, cercado de cadáveres, entre eles, Mary, Cardioti e Louis.

Um som estrondoso de trovão subindo pelas pernas de Patri e chegando nos olhos.

Acordou.

Já era de manha e os dois novos colegas já estavam aprontando tudo:

- Ouvimos um barulho estranho, acho melhor irmos embora daqui. - Disse Saulo.

Patri concordou em silêncio, levantou, se certificou que o colar estava no bolso e partiram rumo a estrela polar, que mesmo de dia podia ser vista no céu.

Caminharam um bom tempo em silêncio para evitar esforço, a floresta era densa e cheia de obstáculos, árvores imensas seguidas de rochas e trechos do rio que passavam ali dentro, pequenos pântanos que se formavam com partes empoçadas do rio, alguns animais selvagens nada agressivos como esquilos, águias e até um caramujo, um dos maiores que Patri já havia presenciado.

Logo a floresta foi ficando menos densa, as árvores apareciam mais distantes uma das outras, até terem bons intervalos e sumires.

Um campo imenso se via a frente deles, e lá no fundo, no horizonte era possível ver a estrela polar um pouco mais de perto, parecia presa em algo no céu, algo que lembrava vidro:

- O que é aquilo? - Perguntou Patri.

- A estrela polar não é uma estrela que mora no céu, ela esta presa num anteparo especial, no topo do prédio da Academia. Ver o anteparo de cristal tem um significado. - Disse Saulo. - Estamos há um dia de caminhada do nosso objetivo.

As palavras de Saulo combinadas com aquela visão, fizeram o coração de Patri palpitar dentro do peito.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 07/01/2016
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