A Academia - Capítulo 4

A moça teve que colocar vestes mais densas, tinha que esconder sua identidade ao entrar na Catedral Averin, pois quem comandava aquela cidade não simpatizava com quem frequentou a Academia.

Colocou um manto que escondia suas tatuagens, tatuagens essas algumas que indicavam que já fora aluna, uma delas inclusive continha sua alcunha.

"A Bailarina Verde".

Todos na Academia recebiam uma tatuagem e uma alcunha ao se formar, inclusive ele, que recebera a alcunha de L'homme en Noir na Academia.

Chegou até as fronteiras da cidade, e se concentrou nos formigamentos, que cresceram exponencialmente, aprendera a se concentrar, focar nos rastros que ele deixava.

Fechou os olhos, no meio da cidade, em meio aos murmúrios, apurou sua audição que não era das melhores.

"Aquela mulher, com essas vestes, deve fazer parte daqueles nojentos da Academia."

Se concentrou mais afundo.

"Ó Dieu du soleil, ajude-nos, passamos fome há meses."

Mais um pouco, sentia o sol ardendo sobre o capuz, ouvia cada a essa altura todas as vozes da cidade, precisava se concentrar para organizar as palavras soltas que ouvia:

"Fome; Azar deles; Padre me abençoe; Boa tarde dona; O homem do luar"

Abriu os olhos, sentiu o coração palpitar.

Se concentrou novamente e seguiu a origem daquela voz que disse uma de suas alcunhas.

Apressou os passos e firme foi até a extremidade norte da cidade, próximo a saída.

Esbarrou em alguns cidadãos que reclamaram, outros pestanejaram só de a ver passar, até que chegaram ao extremo e com um golpe, um senhor gordo derrubou a moça no chão:

- Vermes! Vermes da Academia não devem adentrar a casa do Senhor! - Urrava de ódio, e com um bastão partiu pra cima dela.

A garota no chão se sentiu frustrada, iria perder o rastro por conta de um extremista.

Levantou e tentou falar com o homem que a agredira:

- Eu estou de saíd... - E antes que pudesse terminar tomou outra pancada, essa que abriu um corto em seu rosto, sentiu o sangue quente descer pelo corte.

A garota ajoelhou, e um homem esguio e loiro se colocou na frente da moça para protege-la:

- Ei! - Gritou a moça ainda ajoelhada. - Posso me virar sozinha!

O rapaz loiro olhou assustado, a garota levantou e o tirou da frente com as mãos, subiu os punhos fechados e se posicionou:

- Pode vim, to pronta pra você.

O homem religioso era três vezes o tamanho e o peso da pequena moça dos cabelos curtos, riu ironicamente e se colocou novamente a bater na mulher.

Ela rapidamente esquivou do golpe que o homem gordo desferira, passou por baixo do bastão, e plantou um soco no nariz dele que foi para trás ferozmente com o impacto do soco da guria.

Todos em volta soltaram barulhos de espanto.

O homem tentou se recompor, se colocou contra a garota novamente mas cambaleou antes, olhou confuso para a garota e passou as mãos no nariz, que sangrava um liquido verde:

- Mas o que você... O que você fez comigo? - E cambaleou novamente, caiu e apagou.

A garota sorriu:

- Você luta como um moleque, da próxima tente lutar como uma garota! - E voltou seu foco rapidamente para a frase que tinha ouvido.

Correu até a extremidade norte, onde viu uma multidão em volta de uma cabana em ruínas:

- Era ele! Eu juro que o vi, L'homme en Noir! O homem do luar! - Urrava de desespero uma senhora em prantos. - Ele levou minha filha!

Arregalou os olhos e correu até a senhora, se enfiando no meio da multidão:

- O que aconteceu? - Perguntou para a senhora em prantos.

A senhora chorando percebeu que a moça ajudaria, e falou:

- Um velho, um velhinho indefeso chegou a cidade poucos dias atrás, estava machucado, cansado e faminto! - A senhora chorava muito. - Nós o ajudamos, demos alimento e um lugar para dormir, curamos suas feridas!

E continuou:

- Porém três dias depois, quando o velho estava bem, ele... Ele... Ele mostrou sua verdadeira forma, um jovem de cabelos castanhos, os olhos negros como a noite, uma pele... Uma pele branca, pálida, as vestes eram como sombras, destruiu tudo e raptou minha filha mais nova e partiu! - A senhora tremia.

- Eu vou salvar sua filha. - Disse séria.

- Qual seu nome minha jovem? - Perguntou enquanto chorava.

- Me chamo Felicya Lalieth. - Fechou os olhos e respirou fundo. - Eu vou salvar sua filha e vou acabar com ele.

Capítulo 4 - O homem das faixas.

Todas as árvores ficaram para trás, um campo verde e limpo estava agora aos pés da dupla, campos estes que antecediam a Academia:

- É... É incrível. - Disse Patri.

- Viu por que Saulo falou que a igreja era pequena, aqui deve caber umas dez mil igrejas! - Riu.

Dessa vez, mas só dessa vez a garota não estava exagerando, o lugar parecia imenso de longe, Patri estava ansioso, o coração palpitava.

Andaram até a entrada do lugar, um arco imenso tomado pelas plantas, e duas figuras imensas de pedra paradas e imóveis pareciam estar vigiando a entrada:

- Dizem as lendas que essas figuras de pedra acordam quando o bicho pega aqui. - Riu a garota.

- Eu duvido disso, mas são estátuas imensas.

Passaram ao lado das estátuas e cruzaram o arco.

Foram recebidos por uma imensidão de vozes e risadas, atravessaram o arco e deram de cara com um pátio imenso tomado de pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos, todos conversando, comendo, uns dançando, o grupo mais próximo deles estavam em uma luta, mas lutavam de brincadeira.

Lá no meio do pátio dava para ver um chafariz, e crianças brincando na água, em volta do chafariz todo o pátio imenso e cheio de árvores onde pessoas escalavam e comiam frutas, e em volta do pátio vários dos prédios brancos, prédios estes que de perto era impossível ver o topo, e lá no fundo mais praça e mais prédios, estes pátios tomavam o caminho todo, criavam becos entre os prédios e estavam por toda parte.

- Vamos Patri, temos que ir até o Conglomerado, lá onde os alunos são registrados.

Patri estava parado, olhando aquilo tudo, e imaginando sua mãe no meio dessas crianças, brincando, sorrindo, comendo.

Pensou novamente em Mary, vendo finalmente as crianças que aprendiam as coisas complexas, e riu sozinho:

- O que foi Patri? - Perguntou Beth enquanto andavam entre todas aquelas pessoas.

- Só estou feliz de estar aqui. - Sorriu para Beth. - Brigado por ter me trazido até aqui.

A garota sorriu, sorriu diferente das vezes que sorria, dessa vez parecia estar sorrindo de verdade:

- Eu tenho uma meta! - Disse a garota.

Patri fez menção para que falasse:

- Vou te ajudar a entrar na Academia! - E sorriu.

Patri fez semblante de preocupado:

- Me ajudar? Pensei que todos pudessem entrar!

- Não! A seleção daqui é rígida, teremos que passar por provas, físicas e mentais, dizem que apenas uma a cada dez mil crianças passam nessas provas.

Patri arregalou os olhos:

- Pelo jeito vou ter que me esforçar muito! E brigado pela meta... Eu... Fico lisonjeado!

- Você fala difícil pra uma criança de 13 anos. - E riu.

- Eu vou fazer 14 já! - Enrugou a testa e juntos seguiram até o Conglomerado.

- É ali. - Apontou Beth. - Sei por que meu irmão mais novo prestou pra passar há uns anos.

- E ele conseguiu?

- Não...

Chegaram em um prédio branco que tinha uma escada imensa na porta, subiram, o que demorou bastante e ao chegar na porta de vidro, que abrira sozinha fazendo Patri soltar um gritinho de surpresa, entraram no prédio.

Entraram numa sala imensa, com um piso e paredes diferentes do que Patri havia visto até então, era tudo moderno demais para os conhecimentos do pequeno garoto do campo, tudo era coberto por pisos de granilite, uma pedra polida de uma cor cinza.

Na entrada uma moça bem vestida estava sentada atrás de um balcão, que ficava antes de uns objetos de metal que bloqueavam a entrada de quem tentasse passar:

- Bom dia e bem vindos ao Conglomerado da Academia, o que posso fazer por vocês? - Disse a moça educada, vestia um terninho cor de vinho, e os cabelos bem amarrados em um coque, era branca de feições nobres.

- Er... - Disse Patri.

- Queremos nos inscrever como alunos! - Disse a garota.

A moça levantou as sobrancelhas, olhou os dois de cima a baixo, suspirou e disse:

- Não posso aceitar a inscrição de vocês, são velhos demais.

Após a recepcionista dizer isso, os garotos ficaram em silêncio um bom tempo:

- Mas, mas... Nós não temos para onde ir! - Gritou a garota, seu grito ecoou por toda a sala, estremecendo uma porta de vidro que ficava ao final da grande recepção, atrás dos objetos de metais, e atrás de todas as portas laterais de madeira.

A moça suspirou novamente:

- Não posso fazer nada por vocês. Infelizmente.

O garoto então se colocou a frente:

- Minha mãe estudou aqui! Eu tenho uma vaga reservada! - A voz havia saído um pouco mais alto que o esperado, e sua voz ecoou assim como a de Beth por toda a sala.

As sobrancelhas da recepcionista novamente se levantaram:

- Não existe tal coisa como reserva de vaga aqui... garoto.

Nesse momento alguém adentrou o ambiente, Patri, Beth e a recepcionista notaram sua presença, pois junto dele uma briza quente invadiu o lugar.

Um homem coberto por faixas pelo corpo todo, deixando apenas os olhos amostra, e uma roupa branca, um sobretudo com capuz que cobria as faixas que cobriam seu corpo:

- Vaga reservada? - Disse o homem se aproximando deles.

- Eu tentava dizer ao garoto que não existe coi... - O homem das faixas fez menção para a recepcionista não falar mais.

- Qual seu nome garoto?

- Patri... Patrice Lalieth.

Mesmo com o rosto coberto por faixas, era possível ver um sorriso se abrindo por baixo:

- Quantos anos vocês tem?

- 13 - Disse Patri.

- 15 - A garota.

O homem rodeou os dois e olhou de cima a baixo, parecia um costume deles dali:

- Vocês realmente são velhos demais, as crianças começam a estudar aqui com 7 anos de idade.

- Vou me esforçar! - Disse Patri.

- Eu também! - Disse Beth.

O homem olhou para a recepcionista:

- Deixe o garoto entrar, vamos dar uma chance a ele.

Os objetos de metal se mexeram sozinhos com um estampido, e uma passagem se abriu:

- Não vou sem ela. - Disse Patri.

- Mesmo arriscando a chance de conseguir uma vaga? - Disse o homem das faixas.

- Já disse, não vou sem ela.

O homem suspirou:

- Que assim seja então, nenhum dos dois irá entrar.

E as barras de metal bloquearam o caminho novamente, porém Patri não exitou:

- Vamos embora Beth.

E se colocaram a andar até a saída da recepção, quando estavam próximos da porta de vidro, próximo o suficiente para se abrirem sozinhas, ouviram uma risada:

- Passaram da primeira etapa do teste!

Se olharam surpresos:

- Fazia tempo que não passavam dois de uma vez da primeira etapa. Entrem, apertem o botão 7 na frente de qualquer uma das portas de madeira e entrem!

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 21/01/2016
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