A Academia - Capítulo 6

Felicya estava a semanas caminhando para o reino de Cubuntus, o reino dos homens da pele escura.

Estava na base da montanha calada que dava entrada parada a cidade, chamavam-na montanha calada pois ficava rodeada do deserto branco.

Estava focada na sua missão de encontrar L'homme en Noir como talvez nunca ficara em nenhuma outra, sentia uma mistura de remorso e amargura, angustia e rancor... Ele havia feito coisas terríveis com ela no passado, e o pior de tudo, havia feito coisas belas antes das terríveis.

Haviam se conhecido quando ainda era Klyce, quando ainda era um homem comum, sem as vestimentas negras, sem a sede de poder, antes de ser o manipulador da noite.

Felicya adentrou a montanha por uma caverna demarcada pelo povo do Reino Cubuntus, eram conhecidos pelos caminhos especiais, percorriam qualquer solo e qualquer distância, eram guerreiros natos, alguns diziam que qualquer mulher e homem do reino de Cubuntus valiam por três os mais de qualquer outro reino, em força, inteligência, agilidade. Mas não eram amigáveis, pois em um passado longínquo o povo do reino de Atelavida, o maior reino da terra dos dois sóis, haviam travado disputa ferrenha com os Cubunturus, vencido e escravizado os guerreiros, prática esta intolerante para qualquer dos reinos, desde então os Cubunturus não negociavam mais com nenhum outro reino, não precisavam, eram capazes de manter um Império com as próprias mãos.

O caminho dentro da caverna era perfeitamente demarcado, e Felicya chegou rápido a extremidade sul do reino de Cubuntus que ainda se encontrava dentro da caverna, no último pedaço dela.

Era bem iluminada, luz artificial espalhada por todas as extremidades, tornando aquele trecho da caverna incrivelmente claro, como o dia lá fora. Mercados, lojas, igrejas espalhados por todos os lados, igrejas com diversos deuses, os Cubunturus cultuavam muitos deuses e não só Dieu du soleil.

Viu estátuas de um deus da água, deus do fogo, deus dos ares e todo tipo de deus, ouviu boatos de aparições destes deuses num passado distante, ouviu estes boatos da própria mãe, que contava entusiasmada para ela e sua irmã.

Sua irmã... Sua irmã Alicia estaria ali, com seu filho e sobrinho de Felicya, ambos prestavam serviço a Academia, e estaria dentre os companheiros que Master Laryk mandara Felicya procurar em Cubuntus.

E assim fez, alugou um quarto pequeno onde descansaria de noite e foi para o centro de Cubuntus, onde seus companheiros estariam, na sede da Academia de Cubuntus.

No caminho alguns rostos conhecidos de missões passadas, um mercador que teria uma vez vendido-a uma manta verde que jurava que iria protege-la de qualquer doença, na mesma semana uma gripe terrível atacou a garota, um guerreiro Templário que andava sem farda a cumprimentou, era conhecido de Logan, outro vendedor e uma companheira da Academia que não via há muitos anos:

- Felicya! - Disse a companheira assustada ao ver a moça ali em Cubuntus. - Quantos anos fazem?

Felicya deu um sorriso amarelo, sabia que a amiga a culparia por todos estes anos sem se falar.

Learia passava despercebido dentre os homens e mulheres de Cubuntus, tinha uma pele escura e cabelos cacheados tão cumpridos que formavam um black power de respeito, usava roupas folgadas e uma gravata peculiar:

- Learia... - Respondeu Felicya. - Alguns anos... nem tanto...

- Nem tanto! - Gritou a moça no meio do mercado, todos olharam. - A última vez que eu a vi você ainda tava de rolo com aquele menino lá... Fiquei sabendo que nem deram certo, e nem fiquei sabendo da sua boca!

Felicya coçou a cabeça e riu sem graça:

- Que seja... - Disse Learia. - O que faz aqui? O pessoal ta bem ferrado de uma batalha ai que rolou, não to sabendo, cheguei agora também.

- Vim justamente por eles. - Disse Learia.

Learia era amiga de Felicya há muitos anos, antes da Academia, quando ainda eram seguidoras de uma religião já morta, se gostavam muito, mesmo Felicya achando Learia extremamente carente.

"O que são alguns anos sem se ver? Estive ocupada oras." Pensava Felicya para ela mesma.

Seguiram juntas para sede da Academia de Cubuntus, que era um prédio pequeno e branco, parecia uma miniatura de um dos prédios da própria Academia:

- Aaaah, um pedacinho da nossa casa aqui em Cubuntus. - Disse Learia maravilhada. - Nosso pacto com o povo daqui é importante, para todos os lados, afinal não somos um reino, somos a Academia! - Completou satisfeita.

Learia tinha orgulho de fazer parte do maior conglomerado de mentes brilhantes do mundo, Felicya também, mas tinha mais vergonha de admitir isso publicamente, sabia que nem todos tiveram esta oportunidade.

Entraram no prédio e Learia já foi sentando em qualquer lugar, se espreguiçando e gritando para o prédio inteiro:

- Ae pessoal olha quem resolveu dar as caras!

Dois homens e duas mulheres saíram dos fundos de uma sala, sorriam contentes em verem a antiga companheira:

- Olha só, você fazia parte dessa comitiva. - Disse uma moça bem alta, branca dos cabelos cumpridos e escuros, estava muito maquiada. - Saudades de você minha irmã.

Felicya sorriu sincera e abraçou a irmã, contente em re-vela:

- Olha só! Adoro quando pessoas inteligente adentram o ambiente. - Disse um homem alto, magro, usava óculos com armação preta e tinha os dois braços inteiramente tatuados, um deles estava enfaixado, escondendo a tatuagem que Felicya sabia que estava ali, se chamava Raffaiet.

- Raffaiet. - Disse Felicya. - Quanto tempo.

Felicya ficava sem graça perto de Raffaiet, sabia que era sábio, por mais que fosse jovem.

Os outros dois estavam demasiado feridos, e só acenaram, Felicya não os conhecia, deduziu que um deles era seu sobrinho, ambos eram jovems.

- Ouvi dizer que tiveram uma batalha... - Felicya parecia triste ao dizer isso.

Ficaram todos em silêncio por um tempo:

- Sim... Kl... L'homme en Noir... Ele vem causando problemas para a Academia, e para diversos reinos... Estes reinos vem nos contatando há um ano mais ou menos. - Disse Alicia, irmã de Felicya com toda sua maquiagem.

- Alicia está certa. - Disse um dos homens machucados que Felicya não sabia o nome. - Ele vem sendo procurado há algum tempo, mas no último ano vem causando problemas graves, destruição em massa... Ele tem algum objetivo e precisamos descobrir.

- Precisamos capturá-lo. - Disse Learia, olhando para Felicya.

Ficaram em silêncio novamente, Alicia chamou os dois desconhecidos de Felicya de canto e explicou a situação a eles:

- Vocês não a conhecem, ela fazia parte da companhia antes de vocês sequer serem formados... Ela sabe de toda a história, ela conhecia L'homme en Noir pessoalmente... - Disse Alicia. - Assim como eu, Raffaiet e Learia.

Os dois preferiam se retirar para descansar, deixando os velhos conhecidos mais a vontade, o homem cumprimentou a tia antes de se retirar:

- Preciso encontrá-lo. - Disse Felicya olhando sério para os antigos companheiros.

- Sei que não trabalha bem em equipe. - Disse Alicia. - Eu também não trabalho bem em equipe mas estou com eles, podemos confiar nesse grupo... No meu filho e sua namorada também.

Felicya agora tinha certeza de que aquele era o sobrinho que havia visto somente criança:

- Acredito em vocês...

- Eu também quero muito encontrá-lo Felicya... - Disse Raffaiet. - Sabe da minha relação com ele...

Se olharam por um tempo, ambos tristes, Learia assistia a tudo, agora séria:

- Vamos pega-lo. - Disse Alicia.

Capítulo 6 - Destino e Escolhas.

O homem das faixas, dois senhores, uma senhora e a mulher que recepcionara eles estavam parados numa plataforma feita de vidro, nos limites da Academia com a Floresta Encantada, olhando, atentos a qualquer sinal de vida:

- Estou perdendo a fé nessas crianças. - Perguntou o primeiro senhor, era sério e ranzinza, tinha marcas de expressão na face inteira, cabelos grisalhos e a barba impecavelmente feita e usava vestes azuis escura. - Há meses não temos um candidato sequer que passe.

O outro senhor, este usava vestes verde claras, era um pouco mais jovem, porém velho. Tinha cabelos pretos com marcas brancas da velhice, estava com a barba por fazer:

- Não importa, que fiquem anos sem passar, mas que quando passem estejam aptos para a Academia. - Disse sério.

Uma senhora forte, de cabelos bem curtos usava vestes vermelhas, era tão velha quanto o primeiro senhor, porém os exercícios a mantiveram com uma aparência jovial:

- Que venham! - Disse.

Os últimos dois, eram os mais jovens, se olharam e riram dos velhos que divagavam sobre os alunos.

Bedelia, que antes estava na recepção, agora usava seu uniforme, que tinham vários tons suaves de cores distintas, cores estas tão suaves que quase imperceptíveis nas transições, seu cabelo loiro estava solto agora e ainda mantinha um ar de superioridade.

E por último, o homem das faixas, que ainda usava suas faixas que cobriam o corpo inteiro, porém agora um colar, de cor púrpura brilhava forte em seu pescoço, era esta sua cor.

Parados permaneceram, até que um borrão ao horizonte se fez, e o grupo de mestres pode ver, ao longe, Patri, Beth, Calell, Catherine e Ferni.

O grupo de mestres não conseguiram conter a surpresa, exceto Bedelia que permanecia na pose, todos que passaram na primeira e na segunda etapa haviam passado pela terceira também!

Os jovens se aproximaram exaustos e machucados, Patri com o braço sangrando do ataque do lobo, Beth tinha a barriga marcada por garras, que jorravam um sangue vívido, Calell tinha pequenos arranhões, Catherine estava se rastejando de dor e cansaço e Ferni, Ferni estava sem nenhuma marca, nenhum arranhão, nem traços de cansaço algum:

- Sejam bem vind... - Disse o homem das faixas que logo foi interrompido pelo senhor de Azul, aquele com as marcas de expressão fortes.

- Isso é impossível! As estatísticas diziam que dessa vez, e até as próximas quinze vezes nenhum candidato passaria no terceiro teste!

Os jovens estavam cansados demais para dizer algo, então Ferni disse:

- Patri ajudou a todos. - Manteve uma expressão ilegível, a mesma que estava usando desde o primeiro teste nas cadeiras, quando ficou isolada.

Os mestres arregalaram os olhos e olharam todos, ao mesmo tempo, para Patri, que abriu um sorriso forçado, como se dissesse "foi mal."

Bedelia não conseguiu segurar a risada:

- Genial! Lindo! Maravilhoso! - Gritava com as mãos para o alto. - Contem como isto ocorreu.

Os jovens subiam uma escada de vidro para a plataforma que dava um fim na floresta, então Beth disse entusiasmada:

- Ele descobriu que era só seguir a estrela polar, que não era um teste pra ver quem é o mais forte, ou o mais resistente, mas um teste para saber quem tem o melhor senso de orientação!

Ferni fez uma cara feia que todos perceberam, parecia emburrada quando Beth dissera "senso de orientação":

- Então ele seguiu a estrela, porém antes de chegar... - Continuou Calell.

- Eu voltei. - Disse Patri. - Voltei e procurei por eles, um por um, achei injusto eles não passaram depois dos outros dois testes.

Os mestres se olharam, cor após cor:

- Não quebraram nenhuma regra. - Disse o Púrpura, o homem das faixas.

- Certamente que não. - Iris, a mulher das roupas de todas as cores, Bedelia estava sorrindo como nunca.

Os três mais velhos se entreolharam:

- Que passem então, todos, e provem seu valor. - Disse Vermelho, a mulher forte de 1,95m.

- Azul? Verde? - Disse o homem das faixas. - Sabem que temos que ser unânimes.

- De acordo. - Disse Verde, o senhor com a barba por fazer.

Claramente emburrado e contrariado, Azul deu a palavra final:

- Sigam-nos, as aulas logo começarão!

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 25/01/2016
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