A Academia - Capítulo 8

...

Uma pequena garota corria por um jardim florido, era curiosa e fuçava em todas as florzinhas e plantinhas, pegava as formigas com cuidado para não machucá-las e analisava-as, sua irmã mais velha olhava de longe. Um senhor se aproximou da irmã mais velha da garota e disse poucas palavras, ambos se aproximaram da criança que estava com uma azaleia nas mãos:

- Ei querida, você foi aceita, vai estudar onde estudo! - Disse a irmã mais velha contente.

O senhor fez menção para que entrassem, a garota largou as flores contrariada e acompanhou os dois, entraram em um prédio afastado dos campos e dos jardins, subiram as escadas e as malas já estavam na porta do quarto:

- Aqui será o quarto dela, irá dividi-lo com mais duas garotas, espero que se deem bem. - Disse o senhor, vestia uma roupa azul escura.

Foi difícil se acostumar no início, mas logo a pequena garota estava acostumada a rotina, de manhã cedo frequentava aulas, aprendia a ler e escrever, fazer cálculos e resolver probleminhas, nessas aulas outras trinta crianças, todas da mesma idade, cerca de sete anos.

Mas as aulas que gostava realmente eram as que exigiam esforço físico, essas aulas juntavam seis ou sete turmas que corriam com tempo marcado, jogavam com a bola, competiam, foi onde conheceu a maioria de seus amigos, se enturmavam, formavam times e mesmo os times rivais se entrosavam, era divertido, conheceu muitas crianças, faziam isso uma vez por semana.

Na primeira aula não havia reparado, mas não tinha como não reparar nele nas aulas seguintes, ficava de fora sempre, e era o único.

Na sexta semana percebeu que lia enquanto toda a turma estava em campo jogando taco, chegando no quarto aquela noite, perguntou para sua amiga:

- Reparou em um garoto que sempre fica de fora nos esportes?

A amiga penteando os cabelos crespos respondeu meio distraída:

- Um branquelo de cabelo escuro? Reparei que estava lendo hoje.

Na próxima semana, como de praxe o garoto estava lá, sentado sozinho nos fundos enquanto todos praticavam vôlei, sua amiga percebeu que ela havia reparado novamente no garoto lendo e deu um saque forte o suficiente para a bola ir para os fundos, onde ele estava.

A bola voou e bateu violentamente no livro do garoto, derrubando-o, que pontaria!

O garoto ficou parado um segundo tentando entender o que havia acontecido, então ela se aproximou para pegar a bola e se desculpou:

- Ei, desculpe, ela não tem noção da força.

O garoto pareceu não ouvir, pois não teve reação alguma, pegou o livro e tornou a lê-lo, ela pôde ver o nome no livro. "A esquecida Escarlate." era velho e as páginas amarelas do tempo.

Voltou a quadra e ignorou-o, durante semanas decidiu que não daria mais bola. Até que alguns meses depois, quando pediu para beber água durante uma aula de cálculos avançados, o viu em uma situação difícil.

A garota descia as escadas e viu três garotos maiores agredindo-o, desferiam tapas no rosto dele, que só desviava o olhar do garoto maior que gritava:

- A próxima vez que eu passar você vai fazer uma reverência! Quem manda aqui sou eu ta entendendo? - E batia no rosto do garoto, mas quando me viram soltaram ele no chão e saíram andando como se nada tivesse acontecido.

Ele permaneceu ali, no chão, com o olhar vazio, ela se aproximou:

- Ei... Você está bem? - Perguntou, percebendo que estava envergonhado.

- Estou sim. - Levantou e a garota percebeu que era mais alta, ele ela magro e pequeno demais para a idade deles.

- Me chamo Felicya... Acho que deveríamos falar para algum professor o que eles estão fazendo com você. - Disse nervosa com a situação.

- Não! - O garoto levantou a voz, parecendo desesperado. - Você não pode contar isso pra ninguém! - A garota arregalou os olhos.

- Tudo bem...

O garoto andou até o fim da escada e recuperou seu livro, que provavelmente teria sido atirado pelos garotos maiores, limpou a poeira e guardou-o embaixo do braço, antes de sumir completamente disse:

- E eu sou... Meu no-nome, me ch-chamo... Me chamo Klyce...

A garota sorriu e voltou para a classe, passou a vê-lo todos os dias desde então.

...

Capítulo 8 - A escolha das cores.

Os garotos acompanharam os 5 mestres, Beth olhava e fazia caretas que Patri não conseguia compreender.

A plataforma de vidro dava para um pátio, estavam em uma das extremidades da Academia, andaram em silêncio por algum tempo, os mestres entraram em um dos prédios brancos e pararam em uma salinha bem confortável, com pouca iluminação:

- Todos acompanhem a gente para a próxima sala. - E todos se colocaram a andar atrás dos mestres, mas o Púrpura e a Iris logo disseram. - Você espera aqui Patri.

Ferni entrou junto com todos, mas fitou Patri que ficara para trás.

Entraram todos em uma sala e Patri pôde ver todos lá dentro sentando em cadeiras de frente para uma mesa antes da porta se fechar.

Esperou em silêncio, tirou o colar de sua mãe do bolso, estava apagado como sempre estivera, lembrou daquela noite que os raios destruíram a Cidadela, o colar estava acesso aquele dia, o que aquilo queria dizer?

Analisou o colar, e teve tempo para isso, pois os mestres demoraram dentro da sala.

Estava faminto, cansado e machucado, e ainda o fariam esperar? O que teria feito de errado?

Pensou se sua atitude teria sido a correta, trazer todos com ele, pensou também na prova, deixara em branco a prova, teria sido o único? Isso com certeza teria punição...

Pensou nas três etapas da prova, primeiro a prova e a espera, depois o senhor de turbante com o gás do sono, e por último a floresta.

O que estava acontecendo...

Se concentrou para não dormir ali, a cadeira era confortável e almofadada, todo o lugar era bonito, bem arrumado, viu luz artificial pela primeira vez na vida, ficou deslumbrado.

Não era atoa que sua mãe amava aquele lugar, olhou o colar novamente, e o colocou no pescoço pela primeira vez.

Sentiu saudades da mãe que nunca conheceu, morrer no parto deve ter sido doloroso...

Muitos pensamentos ruins no momento tomaram conta do garoto, os raios e a destruição, a mãe que nunca conhecera, e agora... Não seria aceito na Academia...

Ouviu um barulho e todos os garotos saíram de repente da sala e fecharam a porta, nem sinal dos mestres.

Se aproximaram de Patri:

- Ei, obrigado por ter trazido a gente, estamos matriculados! - Disse Catherine. - To te devendo uma...

- Sim, estamos mesmo. - Disse Calell.

E saíram do prédio, seguidos de Ferni que não falou uma palavra:

- E ai, o que aconteceu lá dentro? - Perguntou Patri a Beth que havia ficado na sala com o amigo enquanto os outros saiam.

- Escolhemos umas cores... Cada um foi enviado a uma ala diferente de acordo com essas cores. Disseram também que quem está fora da idade, o que parece ser o caso de todos nós, teremos que tirar o atraso em intensivos durante a tarde. - Disse Beth ficando sem graça de repente. - Lembrei que preciso ir... Eles mandaram você entrar...

E saiu.

Patri sentiu calafrios, encararia todos eles sozinho, seria mandado embora dali sem ter sequer entendido o que era ali.

Levantou e encarou uma porta grande de madeira, trabalhada com desenhos retalhados, desenhos de cinco formas, identificou alguns mas a maioria era desconhecido.

Antes que pudesse bater a porta se abriu e Bedelia, a cor do arco-iris, abriu a porta e fez menção para o garoto entrar, Patri engoliu seco e entrou na sala.

Sentou na única cadeira que restara, e do outro lado da mesa os cinco mestres estavam sentados:

- Chamamos você sozinho pois sua mãe era parte da Academia. - Começou o Azul, que falava surpreso. - Eu não sabia até meus colegas me contarem, não sabia que você era filho de Felicya.

Patri ficou surpreso, esperava qualquer coisa, mas não esperava que mencionassem sua mãe, não agora:

- Ela era forte! - Disse a Vermelho, Patri sorriu sincero.

- E deixou algumas coisas para você. - Completou Verde.

- Está tudo no quarto que você irá ficar, fique sabendo que sua mãe foi de grande importância para nós, uma aluna que depois passou a ser parte dos membros da equipe da Academia, temos exemplares de todos os livros que ela publicou, estão no seu quarto também. - Iris estava séria e contente.

Púrpura ficou em silêncio o tempo todo:

- Posso fazer uma pergunta? - Pediu Patri aos mestres.

Concordaram com a cabeça:

- O que é isto? - Tirou o colar do bolso e mostrou aos mestres.

Não conseguiram esconder a surpresa:

- Não podemos falar... Não até você se formar... Infelizmente. - Disse Iris.

Patri ficou intrigado com a surpresa deles, então realmente o colar era algo importante:

- Bom, pra finalizar, o que você viu quando se aproximou do homem de turbante? - Perguntou Verde a Patri.

Patri lembrou da floresta, a mesma floresta que ele havia acordado na terceira etapa, o lobo, a cobra gigante... Lembrou de dizer ao homem do turbante que queria vingança contra os raios:

- Vi uma floresta, uma cobra imensa, um lobo que uivou quando viu meu colar... - Disse Patri.

Todos se entreolharam, Patri pode ver Púrpura sorrindo, mesmo por trás das faixas:

- Sua mãe viu o mesmo. - Disse Iris.

- E o que isso significa? - Perguntou Patri.

Púrpura enfim disse algo:

- Você tem tendência ao Verde e ao Púrpura, nunca ao Azul e o Vermelho com dificuldade...

Azul fez um som de desaprovação:

- Não contamos isso aos ingressantes, ele deve escolher as cores por conta própria.

Iris riu:

- Cortesia pela mãe incrível.

Patri sorriu:

- O resto temos tudo conosco. - Disse Azul sério. - Escolha três cores.

Patri pensou em tudo que disseram, seja lá o que as cores significassem, nunca o azul... E sua mãe era igual a ele, e o vermelho com dificuldade, a escolha parecia óbvia, Iris, Púrpura e Verde... Mas Patri gostava do desafio:

- Púrpura, Verde e Vermelho! - Patri disse com convicção e Iris gargalhou de uma maneira deliciosa.

- Gostei do garoto, eu e Paula garantimos o reforço dele, pela idade!

Patri riu um pouco:

- Que seja! - Disse Azul. - Peça para alguém acompanhar o garoto para o quarto dele, as aulas começam amanha!

Saíram da sala todos menos o Azul, e Púrpura acompanhou Patri para fora do prédio:

- Boa escolha. - Disse. - Entendi o que você fez ali, e Bedelia também, não escolheu o que obviamente era a melhor opção.

Patri ficou em silêncio, fora do prédio foram reto, cruzaram a praça que Patri havia visto quando entrou na Academia pela primeira vez, e entraram em um prédio qualquer:

- Os prédios são todos conectados por dentro, de todas as cores, temos salões principais que são onde todas as cores se encontram, ou seja, pontos chaves. - Disse Púrpura como se lê-se um roteiro. - Bom, você vai entender no dia-a-dia.

Apontou uma escada para o garoto:

- Seu quarto fica no segundo andar, quarto 237.

Se despediram com um aperto de mão, e Patri subiu a escada:

- Ei. - Gritou o homem das faixas. - Meu nome é Raffaiet.

Patri sorriu:

- Sou Patrice.

E caminhou até o quarto 237.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 27/01/2016
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