A Academia - Capítulo 9

...

A garota mexia no livro dele, aquele que ele carregava pra cima e pra baixo desde que se conheceram.

Os olhos correram pela capa, que dizia "A Esquecida Escarlate.", em letras vermelhas, em uma capa toda preta, parecia um livro sinistro. As páginas amareladas, ela foleou e viu palavras como "poder", "único" e "irreversível".

Neste momento ele adentrou o quarto, estava claramente alterado, foi direto ao banheiro, passando por ela como se fosse mais um dos móveis velhos do lugar.

Ela pôde ouvir ele ligando a torneira do lavatório, o barulho de água, se aproximou:

- Klyce? O que houve? - Disse um pouco assustada, ele estava pálido e as pupilas extremamente dilatadas.

- Ess.. Ess-esse lug-lugar! - Disse ele arremessando tudo que estava de cima da pia ao chão, fazendo um barulho imenso, Felicya soltou um gritinho involuntário.

A garota estava assustada, nunca havia visto ele tão alterado, mas decidiu prosseguir:

- O que houve?

- Eles! Eles não compreendem e me podam! - Disse dando um soco na porta. - Se não bastasse a infância inteira nesse lugar apanhando, quando finalmente sou mais forte, sou podado pelos professores!

Ele saiu do banheiro com violência e correu até o quarto, abriu os armários e começou a jogar as roupas dentro de uma mala pequena:

- O que você vai fazer? Para! - Gritou Felicya, percebendo que ele iria embora.

- Eu vou para a torre da estrela! Eu sei o que eles guardam lá, Magician terá que me aceitar, eu sou o único apto a entrar naquela torre! - Gritou enfiando as roupas e os livros na mala.

- Você sabe que aquela torre é inacessível, não tem nada lá! Ou mesmo se tiver ninguém quer alguém bisbilhotando o lugar! - Disse ela tentando manter a calma, aquilo só daria mais frustração a Klyce.

Ele enfim colocou a mala nas costas, atirou o livro na cama e disse:

- Felicya, eu te amo. - E saiu do quarto.

A garota ficou parada ali, conhecia ele há anos e sentia que não o conhecia nem um pouco, olhou para o livro em cima da cama, "A Esquecida Escarlate", e viu a silhueta de Klyce sumindo no fim do corredor.

...

Capítulo 9 - A torre da estrela.

Quarto 237, Patri estava em frente aquela porta, abriu-a e se deparou com um quarto pequeno, com duas camas.

Uma das camas estava bem arrumada, com malas em volta, a outra extremamente bagunçada, roupas e cadernos atirados por todos os lados.

"Tenho um colega de quarto", pensou Patri.

Entrou e abriu as malas, roupas de todos os tipos, algumas com etiquetas verdes, outras com etiquetas vermelhas e as demais simplesmente sem nenhuma marcação.

Abriu uma outra mala, cheia de materiais, cadernos, livros, lápis e caneta, e a última bolsa que estava com um bilhete "Pertences de Felicya".

O coração do garoto acelerou, eram as coisas de sua mãe.

Abriu, viu vários objetos desconhecidos, viu outros que já estava familiarizado, e um livro.

"A Esquecida Escarlate", pegou e abriu, na primeira capa, escrito com letra de mão: "Compreende-lo, sempre."

Deu de ombros e jogou o livro na cama, logo alguém adentrou seu quarto:

- Eu não jogaria o livro fora, é um tanto raro. - Disse um garoto magricela de cabelos arrepiados. - Prazer, sou seu colega de quarto.

E entrou:

- O que é Escarlate? - Perguntou Patri.

O garoto sorriu, sorriu pela oportunidade de falar algo que sabia:

- Uma lenda urbana que corre por aqui, desde sempre. - Disse o garoto, estendendo a mão a Patri. - Sou Leran.

- Patri. - Apertaram as mãos. - Lenda urbana?

- Sim, você já deve a essa altura ter escolhido suas cores, três. A lenda diz que o professor mais sábio, mais forte, mais rápido e com o maior conhecimento de todos, reside na torre central de todos os prédios, a torre da estrela. - Patri fitava o garoto com curiosidade. - Que ele leciona a cor perdida, a cor Escarlate, ele é conhecido como Magician.

Ficaram em silêncio um tempo:

- Mas é uma lenda, não tem nada lá afinal. - Disse o garoto dando de ombros. - De qualquer forma é dificil encontrar um livro que fale sobre a cor Escarlate, eu mesmo não sei do que se trata.

O garoto se atirou na cama:

- Mas você não vai ter tempo pra isso, não se quiser algum dia chegar perto de mim no ranking. - Apontou para um quadro no corredor, a porta do quarto aberta dava visão a tudo que tinha do lado de fora.

Patri se aproximou um pouco para enxergar, um quadro branco com cinquenta nomes, numerados, e pontuações:

- Sou o quinto melhor de toda Academia. - E riu.

Patri deu um riso amarelo:

- Bom, preciso me aprontar, tenho uma aula Aquarela em breve. - E sumiu do jeito que apareceu.

"Eu hein." Pensou Patri.

Decidiu descansar para a rotina que logo começaria, deitou e olhou o livro novamente.

"A Esquecida Escarlate".

E foi comer algo, tomou um banho (nunca tinha visto uma maquina como aquela que cuspia água quente, era maravilhoso) e logo dormiu.

Dormiu a tarde e a noite inteira, sonhou novamente com os raios, mas dessa vez, eles pareciam ter donos, algo no céu lançava os raios sobre a Cidadela, matando todos que ele conhecia, algo não... alguém.

Acordou.

O primeiro dia de aulas foi cansativo, porém magnífico.

Patri se dirigiu rápido a primeira sala, a sala verde, uma das, não foi fácil achar, mas ele tinha recebido um mapa do colega de quarto assim que acordara, vestiu as roupas demarcadas com a etiqueta verde, luvas emborrachadas e botas densas e partiu correndo para a sala.

Lá o homem do turbante se apresentou como Rajish, seria nosso professor de venenos e curas, dizia ele:

- A arte de envenenar e não ser envenenado deve ser a primeira coisa que vocês do segundo ciclo devem aprender.

Leran explicou que as crianças entravam na Academia aos 7 anos no primeiro ciclo, e aprendiam um pouco de todas as cores, ao completarem 13 anos, idade em que estavam, as crianças passavam ao segundo ciclo, onde escolheriam três cores para se aperfeiçoar:

- Fico feliz de você estar na verde, podemos aprender muito juntos. - Disse Leran.

Patri viu que Ferni estava na classe verde também, séria e imponente, fazendo tudo que o professor mandava, Beth acenava de longe para eles:

- Quem é aquela? - Perguntou Leran.

- Ela chegou junto de mim.

A aula de venenos e curas era no mínimo interessante, mas Patri perdia muita coisa que os colegas aparentemente sabiam, talvez por não ter cumprido o primeiro ciclo da cor verde.

Tiveram outra aula da cor verde no mesmo dia, Zoologia. Aprendiam nesta aula tudo sobre os animais, e quais dos mitos já foram verdade um dia, era uma aula mais intuitiva, um professor jovem falava entusiasmado sobre o tema, Patri achou menos complicado este:

- Paaaaaatri. - Disse Beth gritando vindo em sua direção no intervalo. - E ai o que ta achando das aulas?

- Não da pra ter certeza, só vimos uma cor até agora. - Respondeu comendo algo que nunca havia visto antes.

Patri viu Leran se aproximando de Ferni, que não abriu um sorriso e não pareceu falar uma palavra com o garoto, Patri achou graça disso.

O intervalo terminou as dez da manha e tiveram mais uma aula com o professor jovem e entusiasmado, Plantas, da cor verde.

Essa era extremamente complicada, e Patri percebeu que precisaria de bagagem anterior.

A última aula do dia era da cor vermelha, os alunos trocaram de roupas e vestiram algo mais leve, se dirigiram todos a um campo grande, onde aquela mulher gigante estava esperando todos, e ali fizeram todos os testes de força, velocidade e resistência.

Mais uma que Patri percebeu que teria que se esforçar, terminaram rápido e enquanto todos se dirigiam até seus dormitórios para afazeres pessoais, Patri e Beth se dirigiam até o reforço, passariam todas as tardes do primeiro ano na Academia cursando o primeiro ciclo que não haviam feito.

Era puxado, a cor azul era a que Patri tinha mais dificuldades, números e formas que ele não conhecia, cálculo era a matéria mais complicada da cor azul.

Faziam ciências, que era uma mistura da cor azul e verde, aprendiam sobre a história da Academia e de todos os reinos com a cor púrpura.

Ao fim do dia, estavam exaustos:

- Minha cabeça vai explodir, tenho tantas lições e foi só o primeiro dia! - Disse Patri a Callel, se encontraram por acaso de noite entre um prédio e outro.

Patri percebeu ao caminhar mais pela Academia que todos os prédios eram mesmo conectados por dentro, corredores imensos, escadas e portas que conectavam tudo, e no centro de tudo, uma escada única e imensa que se dirigia para cima, mais alto que todas as outras, devia ser a torre da estrela:

- Se chama assim pois é lá, no ponto mais alto desta torre mais alta, que a estrela polar reside. - Respondeu Ferni em uma das aulas da cor púrpura mais cedo.

Patri andou sozinho pela Academia, de noite, os corredores parcialmente iluminados com aquela iluminação artificial maravilhosa, de vez em quando pequenas praças com o teto aberto onde alguns alunos conversavam e até flertavam entre si, alunos mais velhos.

Varandas que davam para o céu estrelado, e em uma delas, Ferni estava sentada, lendo.

Patri olhou a garota, que olhou de volta, sem fazer expressão nenhuma, e tornou a ler.

Patri se sentia bem, cansado, mas bem... Pela primeira vez estava fazendo algo de que podia se orgulhar, iria se esforçar pela memória de sua mãe.

...

Do outro lado, em um reino distante, cavaleiros, cidadãos, todo o tipo de gente, se ajoelhava perante um castelo, todos gritando a mesma palavra em sincronia:

"Execute-os"

Erguiam as mãos para os céus, sob o estandarte de um sol:

"Execute-os, ó Deus do Sol, execute-os Dieu du soleil"

E do topo do castelo, um único raio amarelo saiu, rápido e certeiro, sumindo no céu.

A multidão foi a loucura, gritavam e festejavam.

Nesta noite mais uma cidade fora destruída, desta vez por um único, preciso e onipotente raio.

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Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 04/02/2016
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