A Academia - Capítulo 11

Capítulo 11 - O raio que não caiu.

A rotina era corrida e Patri mal tinha tempo de ver os amigos que tinha feito ali, Beth, Callel a pequena Catherine ou até a moça calada Ferni.

As aulas da cor verde e vermelho eram as que mais exigiam dele, a cor verde e suas matérias complexas como DNA, ATP e ADP e coisas que Patri nunca tinha ouvido falar, e a cor vermelha com os treinos físicos exaustantes, depois de preparem o corpo, começavam a treinar movimentos de luta, adaptados para cada tipo de pessoa.

Estava a exatamente três meses nessa rotina, era início de Janeiro e o calor do sol estava no ápice:

- Nada mal! - Disse a professora Vermelha, a mulher imensa de meia idade que ensinava os golpes de luta. - Não parece ser nenhum novato, quando incluíram vocês no fim do ano letivo, imaginei que dariam mais trabalho, mas todos estão de parabéns.

Ela se referia aos amigos de Patri, todos entraram no fim de um ano letivo, passaram os últimos três meses mais em reforços do que em aulas em si.

- Treinava na minha cidade natal, coisas básicas. - Disse Patri secando o suor, não era fácil mas eu peguei o jeito.

A professor andava entre os alunos checando os movimentos e o treino, a cor vermelha era das poucas que os alunos de diversas idades e classes diferentes aprendiam juntos, Patri percebeu depois de semanas que Callel era sem dúvida o melhor entre eles.

Mostrava-se excepcional na cor vermelha, os movimentos eram velozes e precisos, a força física ajudava-o, que era o principal ponto fraco de Patri:

- Que houve? - Perguntou Beth depois de semanas sem ver o amigo. - Ta com uma careta horrível.

- Minhas mãos, estão dormente... - Disse defendendo um chute da colega.

No vestiário ouviu uns meninos falando sobre um baile de inverno:

- O que é? - Perguntou a Leran, o amigo sabe-tudo.

- É uma tradição da Academia, a cada três anos temos um baile de inverno, onde os melhores alunos de cada cor são premiados, as pessoas dançam e celebram todas juntas, alunos e professores de toda Academia. - Disse contente em ouvir o som da própria voz. - E é esse ano.

Patri se vestia para uma aula da cor púrpura enquanto pensava, baile de inverno, premiar os melhores alunos...

- Mas são ansiosos demais, o baile é só em novembro!

Patri entendia, um evento que só acontece a cada três anos, seria neste ano, tinham motivos para a ansiedade.

A caminho da aula, Patri olhava o colar da mãe, analisava com cuidado pelo menos uma vez ao dia, nunca mais havia brilhado como no momento em que os raios atingiram Nero Cidadela, o que teria sido aquilo?

Distraído, trombou em algo com violência, sem perceber, e foi ao chão, livros e cadernos caíram sobre ele junto duma pessoa:

- Desculpa, desculpa, desculpa! - Falava uma voz doce desesperada.

- Não tem preci... - Patri foi interrompido pela distração, ao perceber que havia caído sobre Ferni, com seus livros e cadernos.

A moça levantou, se limpando e Patri levantou e ajudou-a a pegar os livros:

- Patrice né? Me desculpa, de verdade! - Disse a moça.

- Patri... Não nos vemos praticamente desde o teste e agora eu te derrubo assim... Eu que tenho que me desculpar. - Disse Patri envergonhado por puxar assunto.

A moça fez uma expressão pela primeira vez, um sorriso, um lindo sorriso com um único dente torto que dava um charme inexplicável praquele sorriso.

Patri corou imediatamente, e a moça corou também percebendo:

- Preciso ir pra aula! - Disse embaraçada.

Patri viu um anel prateado nos dedos quando a garota o cumprimentou com um aperto de mãos:

- Até... - Disse vendo a moça mais bonita daquele lugar tomando distância.

Por alguns minutos, nem o colar, nem o baile, nem raio, nem Deus nenhum fez Patri tirar a moça da cabeça, mas logo teve que retomar a atenção nas aulas.

As aulas da cor púrpura era a que Patri mais se identificava, falavam sobre política, filosofia e um monte de abstrações interessantes sobre a mente e o poder do inconsciente, um monte de termos que três meses atrás o garoto não saberia diferenciar, hoje fazia parte do seu dia-a-dia.

Em uma das aulas Raffaiet contou sobre os homens de antes da Primeira Era, homens misteriosos, acontecimentos intrigantes, Patri ficava maravilhado com tudo isso.

De tarde seu reforço chegava ao fim, havia terminado o reforço de todas as cores, vermelha, verde, púrpura e até íris, onde viam sobre música e esculturas deixadas pelos povos antigos, e quadros e técnicas de como criar profundidade numa imagem, apenas azul, azul Patri estava demorando para finalizar o primeiro ciclo.

Da cor azul o que mais irritava Patri era a necessidade de concluir tudo com números, as abstrações eram interessantes, mas os números... Isso era demais.

A tarde foi cansativa, chamaram o mestre da cor Azul, o senhor ranzinza do teste para ajudar Patri a concluir um raciocínio que não estava entendendo, ele não era amigável, nem um pouco:

- São testes aplicados a crianças do primeiro ciclo, você tem a idade de alguém que está cursando o segundo-quarto do segundo ciclo! - Disse o velho ranzinza.

Patri se esforçou o máximo que pôde, mas não conseguiu.

Foi para o dormitório chateado aquele dia, as palavras duras do mestre da cor Azul atingiram de verdade.

Estava escurecendo quando saiu da sala do reforço, atravessou metade da Academia até o dormitório, tempo o suficiente para anoitecer e as luzes artificiais acenderem sozinhas, ao fim estava bem, em um lugar incrível e apenas com dificuldade em uma cor, cor essa que nem continuaria no segundo ciclo que já estava cursando.

Viu os colegas conversando no pátio central e acenou para eles:

- Vem trocar uma idéia! - Gritou Callel, estava a essa altura criando músculos que não tinha quando entrou na Academia.

- Estou cansado, com dor de cabeça, nos vemos amannha! - Disse saindo do pátio central, Beth veio atrás do amigo.

- Ei, o que houve? As mãos ainda estão dormentes? - Disse a amiga preocupada.

Patri se impressionou que ela se lembrava da reclamação que fez no início do dia:

- Agora estão menos, só estou cansado mesmo, tem sido três meses bem corridos estes. Mas estou feliz! - Disse Patri.

- Sim, eu to adorando a cor íris do segundo ciclo, temos aulas de teatro!

Patri fez sinal negativo com a cabeça:

- Teatro é tipo um monte de pessoas fingindo ser o que elas quiserem ser para passar uma mensagem... É difícil explicar, vai assistir um dia nossas aulas! Vou te deixar em paz.

Disse a amiga voltando ao grupo que acenou novamente.

Andou devagar pela Academia, na sorte de encontrar Ferni pelo caminho, o que não aconteceu, subiu ao segundo andar e se direcionou ao quarto.

Leran estava parado, dentro do quarto, imóvel, olhando para a janela:

- De novo. - Disse.

Patri se direcionou rapidamente, a tempo de ver um raio amarelo, imenso no céu, se direcionando para algum lugar desconhecido, deixava rastro por onde passava e Patri sentiu as mãos dormirem novamente.

O raio chegou em seu destino e...

- O que houve? - Perguntou Leran.

O raio não fez o barulho como de costume, não fez barulho nenhum:

- O raio não caiu... Não atingiu a cidade...

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 16/02/2016
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