A Academia - Capítulo 14

Capítulo 14 - Lisa

Era uma sala oval e bem pequena, uma janela imensa dava visão para toda a Academia, estavam alto:

- Eu disse bem vindo! - Disse a moça que não era exatamente normal, parecia jovem demais.

- Ah... Obrigado, você é... - A moça interrompeu respondendo-o antes de terminar.

- Não, não sou... Não é fácil o diálogo aqui dentro você logo vai perceber, mas to aqui pra te auxiliar por enquanto. - Ela era pequena demais, usava uma cartola com orelhas de coelho, era esquisito mas ao mesmo tempo fofinho.

Patri avançou pela sala, olhando a decoração, era tudo muito de bom gosto:

- Seus pertences estão no quarto, se você me acompanhar. - Patri ainda tentava entender o que causava tanta estranheza na moça que era extremamente pequena.

Saíram da sala oval e mais um corredor, este com várias portas fechadas e um tapete vermelho:

- Nesse corredor ficam os quartos, bom no caso só o meu e o seu... O restante não tem nada dentro então nem adianta fuçar. - Disse a garota.

- Ei, por que me chamou de Lalieth? - Disse Patri.

- Sei quem você é, agora todos sabemos. - Disse a moça. - E Lalieth era o sobrenome da sua mãe assim como o seu. Aliás vocês se parecem muito.

Patri acompanhava a anãzinha pelo corredor, até que ela parou em frente uma porta:

- Felicya Lalieth... - Suspirou. - Saudades, quando mais precisamos ela desaparece...

- Morre. Você quis dizer morre. - Patri disse franzindo a testa. - E meu pai também falava que nós nos parecíamos.

- Seu pai? - A anãzinha deixou cair umas coisas que segurava e soltou um gritinho, depois de um segundo em silêncio se recompôs. - Você tem contato com seu pai?

Patri franziu a testa mais forte:

- Meu pai morreu também... Você realmente me conhece? Parece estar me confundindo com outro. - Disse Patri.

Ela balançou a cabeça com violência de um lado para o outro:

- Chega de papo, to me enrolando toda, aqui é o seu quarto, você não tem permissão pra fuçar em nada que não esteja ai dentro e nem tente sair dessa torre! - Disse. - Aliás, me chamo Cecilia!

Patri consentiu com a cabeça, e Cecilia deu as costas e se colocou a andar de uma forma engraçada.

O quarto era muito maior que o antigo lá no segundo andar, a cama era maior, os moveis pareciam mais antigos mas muito mais caros, andou em volta e viu que tinha seu próprio banheiro, com banheira:

- É, não vai ser ruim afinal esse tempo aqui.

Viu que seus pertences estavam todos ali, suas roupas, o livro de sua mãe e até o colar.

Pegou o colar e percebeu que estava um pouco acesso, não mais totalmente pálido, deixou-o na cabeceira da cama.

...

No meio da floresta do Reino da Flecha, todos os arqueiros estavam atrás de um espião de Atelavida.

Corriam pulando de árvore em árvore, os mais experientes na frente, os recrutas no meio e os Atiradores de Elite na última linha:

- Nunca haviam mandado um deste antes. - Comentou um dos recrutas, tinha uma pele escura e os olhos avermelhados, usava um gorro que cobria metade do rosto, se chama Edwin.

- Deve ter algo a ver com aquele raio que não caiu. - Respondeu uma moça dos cabelos vermelhos, os olhos eram verdes vívidos e tinha cicatrizes espalhadas pela face.

Brenia que pulava junto dos recrutas, fazia parte dos atiradores de Elite e ouviu a conversa fiada:

- Menos papo e mais ação recrutas. - Disse sinalizando para descerem.

Todos desceram ao mesmo tempo, como se sincronizados para o solo:

- Pegadas. - Disse Brenia.

Passou o indicador e o dedo médio na pegada e esfregou entre os dedos:

- Está fresco, estamos perto.

Se posicionaram e sem aviso um dos recrutas foi atingido por um martelo de pedra que veio dentre as árvores:

- Atirem! - Gritou Brenia e os recrutas e os Elite atiraram.

A moça dos olhos verde guardo o arco nas costas e se atirou para cima de uma árvore, puxando uma adaga, o resto do grupo só ouviu depois:

- Peguei! - Gritou a garota.

Estava em cima do cavaleiro espião, usava as vestes da Ordem de Deus, o escudo estava caído, a garota estava com a faca na garganta dele:

- Desembucha! - Disse a garota.

- Não digo uma palavra, sou leal a meu Deus! - Gritou o cavaleiro caído.

- Neste caso. - A garota apertou a lâmina na garganta dele.

- É o suficiente! - Gritou Brenia. - Levaremos ele para nosso reino e o interrogaremos.

- Serei como um catalisador para os raios. - Disse o cavaleiro ironizando o sequestro.

A garota dos cabelos vermelhos não se segurou e deu um soco certeiro no nariz do cavaleiro, que pestanejou algo em um idioma desconhecido:

- Já chega. - Disse Brenia, voltaremos daqui.

- Perdoe-a Brenia, todos sabemos da história dela. - Disse Edwin. - Sua cidade foi destruída pelos raios, todos foram mortos e ainda por cima ela mesma quase morreu.

A garota agradeceu com um olhar a defesa do companheiro:

- Você evoluiu muito desde que chegou aqui garota. - Disse Brenia. - Mas segure melhor suas emoções, não podemos deixar questões pessoais interferirem.

Na volta para o reino da Flecha a garota tinha uma certeza, tiraria alguma informação do maldito cavaleiro que trabalhava para aquela ordem de assassinos de Deus, ainda sentia as dores de ser atingida pelos raios e de perder todos que um dia amou:

- Fiquei sabendo que a Academia recebeu alguém ferido de alguma cidade que foi atingida pelos raios. - Disse Edwin. - Talvez algum dos seus amigos ou familiares também tenham sobrevivido.

A garota olhou e disse honesta:

- Você viu o estado que Nero Cidadela ficou, não é possível que alguém além de mim tenha sobrevivido... Não acredito até hoje que eu tenha sobrevivido...

- Eu sei por que sobreviveu. - Disse Edwin.

- Sabe é? - Perguntou.

- Mary... Você é a garota mais forte que eu conheço, e tem uma mira perfeita.

A garota dos olhos verdes e cabelos vermelhos sorriu, sabia que ele tentava conforta-la:

- Bom, não custa tentar, podemos ir a Academia ver qualquer dia desses... - Disse Mary sem esperanças.

...

Há dias Patri não via ninguém, começava a se esquecer como pronunciar qualquer palavra, o silêncio reinava na torre da estrela.

Nem Cecilia nem Magician nem sinal de nenhuma alma viva, de dia saia do quarto e explorava a torre, as portas em volta estavam a maioria trancadas, com exceção de uma que dava a uma sala repleta de livros e um globo, mostrando todos os reinos de Nova, foi onde passou a maior parte da semana.

Começou a ler o livro da "Esquecida Escarlate", era o romance sobre a "Temida Escarlate" que era uma cor que detinha todo o conhecimento e poder da natureza, o romance de Escarlate com Branca, a cor mais pura de todas, Patri conseguia entender que isso era algum tipo de metáfora, mas não conseguia compreender os símbolos contidos ali, procurou algo na sala dos livros, mas nada além de "Genética", "Composição das coisas", "Energias" e um punhado de livros técnicos.

O globo roubou a atenção de um dia inteiro, finalmente conseguiu entender onde ficava Nero Cidadela, aparentemente fazia estava entre os dois Impérios, talvez por isso teria sido atacada, Atelavida devia ter percebido que seria uma cidade que não seria doutrinada facilmente.

No fim do corredor mais um portão bloqueava outra escada, Patri não tinha acesso aparente aquele local, seria ali que o grandioso Magician residia esse tempo todo? Deu de ombros, mais cedo ou mais tarde teria respostas.

Foi quando ouviu bem de longe o barulho de uma porta batendo, vinha lá debaixo.

Andou até a outra extremidade do corredor e abriu a porta, vendo a estátua ali imóvel, passou por ela e chegou na primeira escada, olhando novamente aquelas janelas com desenhos misteriosos, desceu e viu que o primeiro portão dourado estava fechado, e do outro lado viu alguém, sentado, mas estava escuro demais para identificar.

"É um bom lugar para se isolar." Pensou Patri. "Não devo deixar ninguém me ver aqui."

Subiu as escadas, atravessou a porta da estátua e retornou a seu quarto.

Mais um dia se passou.

Na manhã seguinte algo quebrou o silêncio que durava uma semana e meia, Patri de início não soube dizer o que era.

Levantou da cama e foi direto abrir a porta:

- Música? - Perguntou para si mesmo.

Entrou de volta correndo, escovou os dentes e se vestiu em tempo recorde, se colocou então a seguir a música.

Violinos, piano e outros instrumentos que não conseguia identificar, a música ia ficando cada vez mais alta, seguiu-a até chegar no fim do corredor, onde o portão que dava a escada não estava mais fechado.

O coração palpitou novamente e seguiu.

Essa outra escada não tinha tantos degraus, Patri logo se viu em uma sala enorme, cheia de livros, um globo mais completo com pequenos astros em volta, prateleiras com diversos objetos em volta de tudo, armários com portas de vidros e espadas, lanças, escudos. Várias maquinas se movimentavam sozinhas, o ambiente era inteiro iluminado com luzes artificiais como todas aquelas que tomava a Academia inteira. No meio um pilar vermelho e dourado que ia até o teto sem terminar, e do outro lado uma vitrola tocava um disco, era da onde vinha a música, e sentado ao lado, encapuzado, uma figura esguia estava de costas para a entrada, olhando por uma janela.

Patri se aproximou:

- Er... com licença. - A figura fez um sinal com as mãos, como se dissesse "quieto".

Patri se aproximou devagar:

- O senhor é o Magician? - Perguntou.

A mão ainda levantada, e a música chegou no ápice e finalizou com grandiosidade, a figura então se estendeu e diminuiu a vitrola, levantou e se virou.

Era uma mulher:

- Não teremos conversas desnecessárias. - Apontou para uma bola feita de vidro. - Fique ao lado daquela bola de vidro.

Patri consentiu e foi até a bola de vidro, que ficava presa no pilar vermelho e dourado do centro da sala.

Percebeu que ela fitava a bola com paciência, tirou o capuz, apontou a mão direita para o chão, completamente aberta e a fechou bruscamente, nesse momento todas as maquinas pararam de se movimentar sozinhas, a vitrola desligou e as luzes artificiais foram todas apagadas:

- Coloque as mãos na bola. - Disse fria.

Patri obedeceu, colocou as duas mãos na bola de vidro, e nada aconteceu:

- Se concentre o máximo que puder. - Disse. - Pense na sua luta com Kyra.

Patri fitou as mãos que estavam coladas na bola de vidro e fez o que a moça dizia, mas nada aconteceu.

Ela suspirou, estendeu as mãos para o chão e tudo re-ligou como se nada tivesse acontecido, ela se virou e sentou-se novamente, aumentando a vitrola.

Patri se sentiu péssimo com aquela atitude, se aproximou dela, que o ignorou:

- E-e-e... Eu me chamo Patrice Lalieth! E eu vou parar com os raios! - Gritou determinado. - Se a senhora me ajudar...

A música parou, ela se virou para o garoto e estendeu as mãos:

- Lisa. - Respondeu olhando nos olhos do garoto. - Sou o que vocês chamam de Magician.

E tornou a fitar a vitrola.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 21/02/2016
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