A Academia - Capítulo 16

...

Estava chovendo como nunca antes, uma tempestade havia atingido um dos vilarejos que rodeavam o Reino de Mastodon, as pessoas desesperadas fechavam suas casas e gritos podiam ser ouvidos de todos os lados.

"A ira de Deus cairá sobre nós!" uma voz repetia isso enquanto batia de porta em porta, as pessoas juntavam alguns pertences enquanto rumavam a saída do vilarejo:

- Não há tempo... - Disse Affilia para si mesma.

As dores de cabeça haviam retornado, ela sabia que era um aviso:

- Vamos todos morrer.

Olhou os irmãos em volta, sua irmã menor chorava desesperada enquanto seu irmão do meio tentava acalma-la, sem pai nem mãe, era Affilia que cuidava deles.

A senhora chegou em sua porta, esmurrando e gritando:

- A ira de Deus caíra sobre nós! Temos que sair daqui!

Affilia fechou os olhos, e se segurou para não chorar:

- Moça! - Gritou abrindo a porta, a senhora já partia para a próxima residência. - Leve meus irmãos com a senhora, cuide deles por favor!

A dona apenas concordou, o irmão de Affilia não entendeu o que estava acontecendo:

- Confia em mim. - Disse Affilia, partindo em direção do centro da cidade.

Aquela noite o raio não atingiu aquele vilarejo, a garota não foi vista novamente.

..

Capítulo 16 - Saturis

Patri estava decidido, iria terminar a primeira etapa em um mês!

"Serei três vezes melhor que o último aluno." Disse a si mesmo.

Sentou para meditar, meditaria o tempo necessário para chegar a resposta, para enxergar a verdade sobre a estrela.

Enquanto isso um rebuliço enorme ocorria muitos andares abaixo do garoto, a Academia recebia uma nova aluna, que virou assunto assim que foi vista pelos corredores:

- Estou morrendo de curiosidade para conhece-la! - Disse Beth para o pessoal enquanto iam para uma aula da cor Verde.

- Ela é... Diferente... - Disse Leran.

- Ela não é humana. - Disse Callel. - Ela não parece ser, ela se movimenta de forma muito diferente.

- Nossa gente, ela pode só ter alguma deficiência, como vocês são. - Disse Catherine.

Ferni acompanha o grupo, em silêncio:

- Ouvi dizer que ela chegou machucada aqui, lembra dos médicos há algumas semanas atrás? - Disse Beth que tinha informações.

Todos pensaram um pouco sobre aquela informação.

A aula correu muito bem, eles testavam tipos de venenos em animais artificiais, para detectar o que cada um deles vazia.

No fim da aula Beth ouviu um boato, e correu até o jardim do lado de fora pra confirmar, e era verdade, a garota nova estava ali sentada, mexendo nas flores.

Vestia uma manta marrom, que cobria todo seu corpo e parte do rosto, estava encapuzada, apenas seu olho direito e parte da maçã do rosto podiam ser vistas, seu braço direito também aparecia dentre o manto, parecia muito normal para Beth:

- E... Ei ... - Disse. - Me chamo Beth!

Ela não conseguiu identificar que expressão a garota tinha feito:

- Entendo... - A garota encarou Beth por algum tempo. - Poderia me ajudar?

A voz era trêmula, ela esforçava para manter o tom:

- Claro...

- Não consigo pegar as flores... - Apontou a garota para um punhado de flor branca na terra.

Beth reparou que haviam flores despedaçadas ao redor dela:

- Posso pegar pra você! - Disse Beth escandalosa pegando as flores. - Onde quer q eu as coloque?

A garota ficou em silêncio um tempo:

- Não sei se você pode ir onde eu durmo. - Disse.

Ficaram em silêncio um tempo:

- Acho que pode... Me acompanha.

A garota levantou com muito esforço, Beth se dispôs a ajudar mas ela recusou com um movimento de mão.

Beth percebeu o que os garotos diziam, ela andava de uma forma diferente, mas nada perto de inumano, pelo contrário, mostrava sua fragilidade ao andar.

Acompanhou ela até um quarto que ficava no primeiro andar, em um canto isolado e esquecido da Academia, Beth nem sabia que haviam dormitórios ali.

A garota abriu a porta e Beth pôde ver o por que da garota ter exitado por um tempo, haviam maquinas espalhadas pelo quarto inteiro, com faixas manchadas de sangue, ferramentas manchadas de sangue e a garota dormia numa espécie de maca, ligada em cabos e respiradores:

- Pode deixar na minha cama por favor? - Disse.

Beth entrou, olhando por todos os lados, curiando em tudo que era possível naquele espaço de tempo entre deixar as flores na maca e voltar:

- Por favor não pergunta o que aconteceu.

Beth só acenou com a cabeça, ambas saíram do quarto:

- Só quero alguém pra conversar e me distrair.

- Essa serei eu! Vem assistir uma aula conosco amanha. - Disse sorrindo daquela forma exagerada.

A garota de novo fez uma expressão difícil de ler apenas enxergando seu olho direito:

- Melhor não. - Disse.

Se despediu de Beth, que se colocou a andar.

Alguns dias se passaram, Beth não viu a garota mais, nem no jardim nem nos corredores.

Beth não era de se preocupar com as pessoas, muito menos tinha paciência para o sofrimento alheio, mas de alguma forma aquela garota tocou seu coração:

- Nunca mais ouvimos trovões ou vimos raios. - Leran conversava com Catherine durante uma aula. - Assim como o Patri, sumiram da forma que chegaram, de repente.

Os garotos já não falavam mais muito no colega que há tempo havia desaparecido, após a luta que não acabou, Callel se culpou por um tempo, questionaram durante dias Raffaiet, que não dizia um pio.

Beth agora tinha algo para pensar além do amigo desaparecido, que havia sido tema para suas conversas diárias, muito menos Baile de Inverno, que era conversa paralela como os raios:

- Isso pode ser um bom sinal! - Disse Catherine. - Os raios cessaram, só não pensarmos mais neles que um dia será história.

- Ou pode ser um sinal de que algo maior está vindo. - Disse Callel.

- Ou o Patri que jogava os raios. - Disse Leran e todos riram.

Beth passava seus dias no jardim, olhando as flores:

- Por que isso te comoveu tanto? Ela é só alguém que anda esquisito.

As palavras cruéis de Leran só fizeram a garota se preocupar mais, aquelas maquinas... aquele sangue...

- Ei...

Beth sabia que era ela antes mesmo dela se virar, a garota agora estava com o braço direito inteiro descoberto, porém o restante permanecia escondido no manto marrom:

- Me chamo Saturis... - Disse a garota.

Elas sorriram.

Três semanas e dois dias haviam se passado, e Patri trancado naquela sala teve um surto repentino.

Levantou agitado, e se dirigiu a janela, que era bloqueada pelas maquinas, com esforço tirou-as da frente e abriu a maior janela que havia visto até então.

Subiu no parapeito e pôde ver a Academia inteira, olhou pra cima e um brilho tão forte quanto o sol estava no topo da torre:

- Ei o que você ta fazendo! - Gritou Cecilia correndo desesperada até a janela ao adentrar a sala com a comida e ver Patri ali.

- Preciso ver algo com meus próprios olhos! - Berrou o garoto não dando tempo para a moça.

Começou a escalar e por alguns minutos desapareceu.

Cecilia desesperada começou a correr de um lado pro outro, gritando:

- Lisaaaaaaaaaaaa! - A moça foi até a janela.

- Volta aqui seu louco! - Gritava e gritava.

Do outro lado da sala o portão se abriu e Lisa saiu fazendo sinal de dúvida:

- O maluco subiu na torre, saiu pela janela!

Lisa arregalou os olhos, mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, a perna do garoto apareceu, e logo entrou de volta para a sala.

Seu olhar estava diferente, as pupilas estavam tão contraídas que mal dava para vê-las nos olhos castanhos do garoto, que não deu tempo de ninguém falar nada.

Se direcionou até a bola de cristal, estendeu a mão e fechou os olhos.

Cecilia fechou a boca, estava prestes a gritar algo, ela e Lisa prestaram atenção.

Dois minutos se passaram, até que dentro da bola de cristão uma pequena chama se acendeu, azul, quase imperceptível.

Algumas maquinas trepidaram ali, a vitrola deu um suspiro de vida, e as luzes piscaram.

O garoto de olhos fechados sorriu:

- Pelo jeito você entendeu. - Disse Lisa séria, não sabia se preocupada ou orgulhosa pelo feito.

- Nós somos estrelas... - Disse o garoto baixinho para si.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 01/03/2016
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