A Academia - Capítulo 17

Um estilhaço fora entregue a cada um deles, para lembra-los de quem um dia eles foram, mas enlouqueceram, a sanidade era derramada por entre os dedos a cada olhada nos antigos olhos, a identidade se perdeu e nenhuma estrela pode se perder.

...

Felicya ouviu boatos de uma guerra sangrenta em Atelavida, teriam atacado um dos 12 reinos e eles estavam revidando.

Decidiu que retornaria para a Academia, dois anos haviam se passado desde sua saída, sentia falta do ambiente, os amigos e tudo que aprendera que estava sendo tão útil:

- Sabia que chegaria este dia. - Disse o colega Logan. - Você não é uma pessoa que cria raízes.

Felicya sorriu:

- Nos veremos novamente Logan, o que você fez por mim poucos fizeram.

Logan era um rapaz jovem, os olhos verdes e os cabelos crespos parcialmente cumpridos, fazia parte da religião de Atelavida:

- Aproveitarei para visitar minha terra natal, a profecia tem se cumprido, Deus está retornando. - Disse sério.

Felicya arrepiava com essa afirmação:

- São tempos estranhos estes, o céu tem se comportado de maneira duvidosa...

Felicya encarava agora um céu azul e limpo, mas que há pouco estava nublado e denso:

- Retornarei em busca de respostas, e tome cuidado em Atelavida, ouvi de uma guerra...

Ele confirmou com a cabeça:

- Ouvi de fontes confiáveis também, não pretendo morar lá, gosto daqui.

Estavam em Nero Cidadela, uma cidade próximo a fronteira dos 12 reinos com Atelavida.

Se despediram brevemente e Felicya partiu em direção a estrela polar.

Não demorou a se aproximar das regiões que cercavam a Academia, porém não se sentia bem como de costume, algo a incomodava.

Era como se o céu estivesse seguindo seus passos, esses rumores de Deus, essa guerra longínqua...

Um estralo forte no céu.

Ela assustou, as nuvens ficaram densas novamente, escureceu de repente e outro estralo, uma luz amarela no céu.

Estava há poucos minutos da Academia quando mais um estralo, esse tão alto que deixou-a surda por alguns minutos.

"Chuva?"

Avistou a Academia novamente, e o que viu naquele momento fez seu coração estremecer.

Cerca de dez professores de Atelavida, incluindo Lisa uma professora que Felicya sabia que era sábia e poderosa, e que nunca era vista, estavam travando uma batalha intensa nos portões da Academia, em campo aberto.

Felicya não conseguia ver contra quem estavam lutando, as luzes amarelas batiam com mais violência no céu escuro, gotículas de água começaram a cair rapidamente, Felicya tinha que ajudar.

Se aproximou rapidamente, tirando seu colar do bolso e vestindo-o, este acendeu imediatamente.

Apertou o passo, e caiu.

Klyce... Os professores lutavam contra Klyce, que tinha sangue por toda a veste.

Estralos seguidos de estralo, o céu urrava em cima da batalha, Lisa tinha uma espada em mãos, que brilhava vermelho do sangue de Klyce:

- Isso não devia acontecer! - Gritava para ele que estava com a mão estendida, como se agarrasse o ar.

Ele apertou os dedos e nesse momento algo surgiu em volta de toda a Academia, como um pano fino rosado:

- Não adianta moleque! - Urrou o Azul. - Essa proteção foi colocada na região pelos 12 Reis! Você não ter poder o suficiente!

Klyce urrou e partiu pra cima dos professores novamente, cada um usando sua cor de maneira estratégica.

O professor verde do turbante controlava serpentes e lobos que tentavam atacar Klyce, que desviava e por pouco não tomava picadas e mordidas.

A íris usava a música a seu favor, confundindo os sentidos dele:

- Você era pra ser o melhor de nós! - Gritou Lisa.

- Eu sou o melhor! Eu tenho o apoio de Deus! - Gritou Klyce e um trovão pintou o céu de amarelo novamente.

Raffaiet estava parado só fitando o ex colega de classe, se dispôs a correr com a Vermelha, e ambos desferiram socos e chutes em Klyce, que não conseguiu se defender de todos:

- Eu vou destruir tudo! Vou acabar com essa farsa! - Gritava.

- Klyceeeeeeeeeeee! - Gritou Felicya com todas as forças que tinha.

Todos pararam, e Klyce olhou assustado, arregalou os olhos.

Ela correu em direção dele, sozinha e ninguém se atreveu a impedir.

Socos e chutes foram dados, mas as lágrimas atrapalhavam sua coordenação e Klyce facilmente escapava, mas sem reação, sem palavras:

- Por que? Por que? Por que? - Ela repetia enquanto socava a palma da mão de Klyce.

Ele fitou os professores, por cima do ombro dela:

- Eu vou voltar... Eu vou matar todos vocês... Eu vou destruir esse lugar, apagar o passado... Apagar tudo que eu sofri aqui e o erro de vocês, de todos vocês!

Voltou seus olhos para Felicya e desviou o olhar:

- Não existe mais Klyce...

- Eu... Eu... - Felicya não conseguia falar.

Ele se aproximou dela, todos os professores fizeram menção de atacar, mesmo a distância, Felicya fez um sinal para que parassem, ela queria ver... Ver até onde ele ia.

Ele chegou bem perto e ela disse:

- Não quero te ver nunca mais. - Ela disse.

Ele fechou a cara por um tempo, depois sorriu:

- Não é você que decide. - E encostou o dedo indicador na testa dela, que sentiu um formigamento correr pelo corpo todo, as tatuagens dela começaram a arder, queimar.

Ele virou as costas pra ela e se colocou a andar, mancando, estava destruído, ela o conhecia, não era apenas fisicamente.

Nenhum dos professores teve coragem de continuar a batalha, não com Felicya ali, Azul fez menção de atacar, mas Iris freou seus impulsos:

Ele se distanciou e o céu começou a clarear, os formigamentos não paravam e uma marca, quase apagada surgiu na batata de sua perna, não tinha forma nenhuma, não ainda.

...

Capítulo 17 - Poesias ao amanhecer.

- Menos de um mês, um bom número. - Disse Lisa a Patri.

Patri sorriu, poderia dormir sem preocupação com enigmas:

- Mas isso me instiga. - Lisa apenas ignorou o que o garoto disse.

- Você agora tem acesso ao próximo andar, mas não hoje, volte pro seu dormitório e tenha uma boa noite de sono e uma cama.

Patri não discutiu, em outras ocasiões o faria, mas estava realmente cansado, nesse último mês descansara mal.

Cecilia acompanhou ele até o quarto:

- Não a vejo sorrir como hoje há tantos anos Patri. - Cecilia sorria ao dizer isso. - E é tão surreal ser você a causar isso nela.

Patri estava cansado demais pra achar qualquer coisa estranha como essa fala da Cecilia:

- Descansa, amanha é outro dia. - Cecilia saiu do quarto e sumiu no corredor.

Patri tomou um banho e deitou na cama para relaxar, estava ali há quase dois meses, "ou já teria passado disso?" o garoto se perguntou.

Ouviu um sussurro vindo de longe. "Eu to cansado, não vou checar."

Mas a curiosidade falou mais alto, levantou num pulo e seguiu o sussurro que vinha lá debaixo, do corredor atrás do primeiro portão.

"Deve ser aquela pessoa lendo de novo, vou dar um oi faz tempo que não converso com alguém que não a Cecilia e a Lisa."

Desceu as escadas e percebeu que os sussurros viraram uma voz em tom normal, uma poesia?

"Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo.

que ninguém sabe quem é

( E se soubessem quem é, o que saberiam?)"

Patri se aproximou do portão e viu, Ferni estava lendo em voz alta, estava com o cabelo curtíssimo!

Seu coração se encheu de alegria.

Se aproximou e a garota percebeu ele, arregalou os olhos e levantou:

- Onde você estava? - Perguntou olhando o garoto.

Ele sorriu:

- Você está linda... - A garota corou de forma bem perceptível, ele sorriu.

Ela mostrou um livro de poesia:

- Estou lendo poesia! - Disse ela desviando o assunto. - Não sabia que estava aqui.

- Err... To estudando aqui. - Disse Patri. - E você vem sempre ler aqui?

- Sim... Faz um silêncio absoluto aqui, bem... Fazia. - Disse ela.

- E como estão as coisas lá embaixo? - Perguntou Patri mudando o foco, os dois se sentaram, cada um de um lado do portão dourado que permanecia fechado.

- Ah... As pessoas falam muito do baile de inverno, ouvi uma garota falando de você, aquela que você lutou contra... E os raios. - Ferni olhou nos olhos de Patri ao falar sobre os raios.

O garoto percebeu e tentou disfarçar o interesse:

- Ah... O baile, que legal... E a menina chama Kyra né? - Ferni corou de repente, Patri não entendeu. - E sobre os raios, caindo muitos?

Ferni levantou uma sobrancelha e disse:

- Na verdade nunca mais caiu nenhum... Dizem até que você foi o responsável por isso. - E sorriu maliciosa.

Patri franziu a testa:

- Não caíram mais...

- O pessoal vai ficar feliz de saber que você ta bem. - Disse ela mudando de assunto.

Patri abriu a boca e ficou com ela aberta um tempo antes de falar:

- Então... Seria legal se fosse um segredo, nem sei se posso descer assim.

Ela olhou ele nos olhos e os dois ficaram envergonhados:

- Por mim tudo bem! - Disse ela exagerada de repente, e corou novamente.

Ele sorriu, um estalo ecoou pelo corredor.

"Alguém lá em cima." pensou Patri.

A garota percebendo a distração não perdeu tempo:

- Preciso ir. - Disse antes dele dizer. - Tchau.

Ela levantou sem dar tempo dele falar nada e desceu as escadas do outro lado do portão.

Patri agarrou as grades e assistiu ela sumir.

Tornou a atenção pro barulho e subiu correndo as escadas, não era no andar do quarto dele, os barulhos continuaram, ele subiu o próximo lance de escada, nada na sala da estrela também.

O barulho vinha do andar que ele ainda não havia ido, ele suspirou, olhou a escada na suas costas "eu queria mesmo dormir.", suspirou novamente e avançou para o próximo portão, que estava aberto.

Subiu as escadas e se deparou com diversas portas diferentes, cada uma com uma cor e feita de um material distinto, no total contou 7 portas, e antes dessas portas um arco aberto, da onde vinha os barulhos, uma sala grande e um quarto nos fundos, um barulho de vidro quebrando vinha desse quarto, ele se aproximou.

Porém antes de chegar perto o suficiente Lisa saiu do quarto, estava toda cortada e chorando, fechou a porta, trancou e guardou uma chave branca no bolso do vestido:

- Ei você está bem? - Falou Patri aterrorizado. - Cecilia! Ajuda! - Gritou pro lado de fora, pela escada.

Correu para ajudar ela a se levantar:

- Eu estou bem... - Só preciso de um banho, não se preocupe.

Ela parecia bêbada:

- O que houve?

- Só sai daqui! - Disse ela levantando o tom de voz.

Ele não entendeu:

- Preciso te ajudar.

- Sai! Agora! Se não você ta expulso da torre!

Cecilia invadiu a sala e agarrou Lisa pelos braços:

- Pode ir Patri, eu cuido daqui. - Disse séria pela primeira vez.

Patri a viu levar Lisa para uma banheira no fundo da sala, e saiu.

Lá embaixo, um pouco antes Beth e Saturi viram Ferni descendo da escada que dava acesso a torre:

- Estranho Beth... Você disse que não tinha nada lá em cima. - Disse Saturis percebendo a garota.

- Ela sobe pra ler, não é a primeira vez que ela faz isso. - Disse honesta fitando Saturis.

- Ler? E por que ela desceu sorrindo e toda vermelha? - Elas se olharam.

Beth sorriu:

- Temos um caso a resolver Sherlock.

- Elementar. - Respondeu Saturis.

As duas estavam se dando muito bem.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 01/03/2016
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