O FRAGMENTO LUMINOSO DE UM OLHAR
Olharam-se no primeiro dia...
Embora tenha sido uma luz de curta duração.
Porém, suficiente e intensa para entender que o clarão resultante
do encontro das nuvens produzia um relâmpago aceso de paixão.
Não houve vocábulo, substantivo, verbo ou adjetivo.
Apenas entreolhavam-se no improviso sacrossanto das horas.
Ambos não sabiam os respectivos nomes do outro.
O antropônimo dado a uma criança ao nascer!
Talvez fosse, a chave primária de auspiciosas possibilidades...
Ela admirada, como quem assisti, por do sol em Ipanema.
Ele nulo, incapaz de recensear tamanha beleza?
Tremores rápidos e involuntários em consequência do encontro.
A maioria dos ônibus trafegavam pelo centro na manhã outonal.
Transmitido com brevidade ,como se tivesse um irresistível
caráter de urgência, o flash daquele olhar carregava
a força sumária de um profundo acontecimento.
Pássaros, asas em êxtases,
libravam simetricamente no céu testemunhal.
Nunca um encantamento, feito cena que não nos sai da memória
provocou tamanho impacto desmedido, simplesmente por causa
da fixação dos olhares , confluência de rios...
Que nem os barulhos das máquinas da indústria
puderam desorquestrar a inexplicável atração filarmônica
cravejada de deslumbramento e fascínio !
Diz a lenda, que os fragmentos luminosos que se desprenderam
dos olhos radiantes , audazes e irrequietos dos jovens apaixonados,
são os mesmos pedaços extraídos , que Deus utilizou
para compor a inefabilidade do alindamento
dos espetaculares , anéis de saturno.