O ANJO DA GUARDA - capítulo IV

"De cada lado do trono da rainha havia dois Pés-grandes: Ice e Branco, eram seus soldados e eram muito grandes e fortes, Har nem ousava aproximar-se deles."

Na cidade de Corvus, Malasas andava enfezado, pensando em algo para livrar-se da menina Evangeline, disse com ele mesmo:

- Bem, enquanto penso em algo, é melhor acumpridar o caminho, assim ganharei mais tempo para ter uma ideia.

E da varanda, Malasas estendeu seus braços para frente e com seu poder fez o caminho até o palácio tornar-se mais longo e depois foi sentar-se em seu trono, para filosofar, até ter uma ideia.

Ainda no caminho para o palácio de Malasas, o anjo e Evangeline caminhavam sem parar, era uma floresta de árvores elevadas e sem folhas e quando batia o vento elas se abraçavam e tremiam de frio; uma vez e outra piscavam seus olhos assombrados e levantavam suas raízes para alguém tropeçar. Havia também nesses caminhos brisas que assobiavam nos ouvidos e sopravam palavras de medo e gargalhadas assustadoras! Mesmo assim, não intimidavam os convidados. Todavia, o anjo estranhou o caminho e disse:

- Estranho... Lembro do palácio estar mais perto. Vamos, Evangeline.

A menina, muito fatigada, esforçava-se para alcançar os passos do anjo e, olhando para o céu, ela perguntou ofegante:

- Por que o dia ainda não amanheceu?

E o anjo explicou:

- Os dias nunca amanhecem nessa cidade, os seres daqui abominam qualquer tipo de luz. Porque o mal faz tramas na escuridão.

Notando o que havia dito, o anjo entendeu que estava muito exausto e falou:

- É melhor descansarmos um pouco.

Evangeline se encostou no tronco de uma árvore e o anjo da guarda sentou próximo à ela. A menina sentiu a barriga roncar e falou:

- Estou com fome.

Mas o anjo tinha conhecimento de que todos os frutos dali a fariam mal e disse com um olhar de constrição:

- Você terá que aguentar mais um pouquinho até chegarmos no palácio, lá seu tio deve de lhe preparar um grande banquete.

De repente, no ouvido de Evangeline, a árvore em que ela estava encostada murmurou em melodia:

- Sinto que sente fome e não dá para aguentar, mas o seu anjo carrega um saquinho onde dentro você vai encontrar... Doces, doces, doces! Doces, doces, doces!

A menina esbugalhou os olhos e a árvore continuou sua canção:

- Agora vá até ele e bem devagarinho, sem que ele perceba, pegue o saquinho, onde dentro vai encontrar... Doces, doces, doces! Doces, doces, doces!

Evangeline levantou-se e chegou de frente ao anjo, abraçou-o desejando boa noite e conseguiu tirar dele o saquinho, sem que ele percebesse, e voltou para a árvore. Este saquinho era cheio de balas de primavera, após um ano de vida uma bala dessas devia ser consumida, pois eram essas balinhas que faziam a pessoa crescer e era no nascimento da criança que uma fada a abençoava e entregava o saquinho com as balas de primavera aos pais da criança. Bemasas foi quem entregou o saquinho ao anjo, para que ele fosse dando as balas até os dez anos de vida de Evangeline, depois dessa idade, ela já poderia comer as balas sozinha. Ao abrir o saquinho, a boca da menina encheu-se de água e ela começou a comer as balas, sem que o anjo pudesse ver e a árvore sorria e cantava com incentivo:

- Isso! Coma uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze... Coma!

- Não aguento mais... Estou enjoada...

Disse Evangeline, massageando a barriga, mas a árvore insistia:

- Coma mais, coma tudo!

- Acho que preciso descansar...

Evangeline se deitou e largou o saquinho com balas do lado, fechou os olhos e caiu no sono, à medida que resmungava a árvore. Entretanto, enquanto dormia, Evangeline começou a crescer, cresceu e cresceu e cresceu... Até ter o tamanho de uma menina de quinze anos, em razão de que comera quinze balinhas de primavera. Levantando-se o anjo e virando-se, viu Evangeline transformada a dormir e ao lado o saquinho com as balas, então seu semblante desfaleceu e ele se sentiu demasiado culpado. Como Evangeline crescera bastante, suas roupas se rasgaram e os sapatos pularam dos pés, então o anjo voou até uma cascata ali perto e rasgou um pedaço de seu véu, com o qual voltou para Evangeline e a cobriu, foi no momento em que apareceu o homem corvo e, num tom de deboche, falou para o anjo:

- Ora, ora, ora, quem diria! O anjo que deveria proteger a filhinha de Bemasas, deixou que ela se fartasse com balinhas de primavera. Você sabe que se ela tivesse comido mais balinhas poderia ter morrido de velhice, não sabe?

E o anjo disse:

- Isso não vai acontecer.

- Olha, não sei não... Do jeito que você é atencioso...

- E você poderia ao menos me dizer o caminho mais rápido para chegar no palácio.

O homem corvo apontou um caminho à direita e falou:

- É por ali.

- Mas aquele caminho parece muito obscuro!

- Há algo que não seja obscuro por aqui? Ah, e andem depressa, o mestre já está começando a pensar que você está querendo fugir com a menina!

Já distante dali, na cidade de Estemar, o sol já nascia e Har chegou com Bemasas no trem e com mais alguns prisioneiros e foi ao encontro da rainha Casma no seu palácio de gelo, porquanto sempre nevava ali. Vendo Har entrar, a rainha alegrou-se e ele se curvou diante dela, dizendo em seguida:

- Rainha Casma, a mais bela de todas.

- Har! O que o traz aqui?

Perguntou a rainha, em seu trono gelado. Ela tinha cabelos brancos e longos e olhos de vidro. De cada lado do trono da rainha havia dois Pés-grandes: Ice e Branco, eram seus soldados e eram muito grandes e fortes, Har nem ousava aproximar-se deles.

- Vim agradecer-lhe por nos ajudar a reerguer nossa cidade depois do terremoto e trouxe alguns presentes.

Har respondeu e pediu que os soldados entrassem com os prisioneiros e ao passo que traziam um por um, Har citava:

- Anil, dos irmãos Arco-Íris; os gêmeos sábios Dici e Onário, da Cidade das Palavras; a fada da prosperidade, Grina; Manda-Chuva, servo do rei Chuva; e o mais especial de todos, que merece ir para sua coleção gelada... O anjo do bem, Bemasas, ou Asas do Bem, como preferir.

A rainha Casma se pós ligeiramente de pé quando os soldados apresentaram em sua frente o anjo. Casma se aproximou dele e deslizou suas unhas enormes em sua face, no que ele virou com revolta o rosto, e disse a rainha com um sorriso de satisfação:

- Mas, Har... Por que foi se incomodar? Isso deve ter lhe custado muito!

E falou Har:

- Me custou alguns guerreiros, mas a rainha merece.

- O anjo do bem, nas minhas mãos? E eu que achei que era um sonho impossível de realizar!

- A rainha já sabe o que vai fazer com o presente?

- Bom, acabei de reformar meu palácio, como vê, mas acho que ainda falta alguma coisa...

- Falta?

- Sim, algo que chame bastante atenção para o meu palácio, como um... Anjo de gelo bem na entrada do jardim. Que acha?

- Estupendo!

E Bemasas esbugalhou os olhos e tentou se libertar dos soldados, mas a rainha falou:

- Acalme-se, Asas do Bem! Prometo que todos os olhos estarão voltados à sua magnitude. Ice! Branco! Levem meu anjo para o calabouço!

Os dois brutamontes desceram do altar do trono e o chão estremecia quando seus pés pisavam. Har até encolheu os ombros quando Ice e Branco chegaram perto e seguraram Bemasas, levando-o preso. Por final, disse a rainha:

- Har, muito obrigada pelo maravilhoso presente e volte sempre que desejar! E se tiver um novo presente, melhor ainda!

- Só se a rainha se refere ao anjo Malasas!

Zombou Har.

- Não, querido, este eu não quero nem para decorar a masmorra!

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 14/05/2016
Código do texto: T5635612
Classificação de conteúdo: seguro