DIANTE DO MAR


Uma mulher viu-se certa manhã deixada diante do mar. Ali sozinha, na praia deserta, contemplando a longa extensão de areia e água, ela não tinha certeza se aquele mar parecia-se com algo que ela já tivesse visto. Um pouco talvez com Cururipe, quem sabe Jericoacoara ... Por momentos, parecia encontrar-se numa praia extremamente plana, quase sem declive, com poças onde a água azul parecia descansar, sem pressa de retornar à grande vastidão. Mas depois, essa impressão passava e parecia-lhe estar ao sol na areia branca e grossa, que descia em declive até o mar, onde as ondas rebentavam. Até onde seus olhos podiam alcançar a extensão toda da praia era cercada por vários coqueiros e o mar ao longe, azul, misturava-se ao céu no horizonte de seus pensamentos. O que estava ali perdido que lhe parecia inalcaçável?
Quando do céu descera, naquele ultra-leve, não imaginara que ali ficaria, sozinha a vagar. Contemplar tudo lá do alto fora muito pleno de emoção! Ela enfrentara aquilo sem medo, estar no ar. Em nenhum momento lhe ocorrera que algo poderia sair errado, flutuar deslizando sobre as dunas, coqueiros, a imensidão do mar. Com aquilo era precário! Mas era um contato tão direto com voar; não lhe sobrara tempo para refletir, analisar. Mas ali na praia, pés no chão, na areia fina ou grossa, diante do mar, como poderia sentir-se tão insegura e sem saber o que fazer, para onde ir, para onde olhar. Naquele incessante ir e vir, diante do fluxo e refluxo da maré, supôs-se incapaz de enfrentar seus sentimentos. Emudecida, ali deixou-se ficar, em contemplação, diante do mar...