Pegadas na areia

Ela despertou em meio ao nada, com a visão dúbia, dominada pelo torpor, em uma escala de zero a dez, sua confusão estava próxima a onze. Porém logo sua lucidez e seu controle voltaram ao seu domínio, tinha apenas sido divinamente guiada a mais uma etapa de sua jornada.

Sem delongas sentou-se em frente a fogueira, ajeitou-se na areia e esvaziou sua mente após uma profunda prece. A paz é o combustível que a alma precisa para resolver os conflitos mais profundos, e sem dúvida somente em momento de paz encontramos a respostas para perguntas corretas, aquelas que justificam nossa essência.

Ao observar as chamas ela viu algo interessante, tão envolvente que congelou o tempo e aguçou seus sentidos de maneira sobrenatural. O momento era tão mágico que sua alma ouvira uma canção trazida pelo refrescante sopro do oceano.

Nem longe, nem perto havia um observador, sempre há um observador, só os tolos acreditam estarem só. Enfim, lá estava ele, deslumbrado com o deslumbre, envolvido com o envolvente, congelado com o congelar do tempo da observada.

Agora ela sentia a presença de algo ou alguém, era impossível definir o que era, porém sabia que não estava só. Então o tempo voltou a correr, o fogo se expandiu e revelou quem era o observador.

Com passos calculados, marcando a areia com suas pegadas ele se aproximava da observada. O cheiro dela o atraia, a forma dela o hipnotizava, o fogo o guiava, sua mente estava tranquila e em harmonia com aquela experiencia. Era um encontro inevitável, o destino estava fazendo o seu trabalho com uma calculada perfeição.

Então ela se levanta com a destreza de uma amazona, revela seus olhos azuis em contraste com seus cacheados e longos cabelos ruivos. Sem dúvida seu olhar era a manifestação mais fiel já vista das cores do atlântico. A observada estava descalça, com um vestido antiquado para época, seu delicado corpo estava pouco revelado, a cor da sua modesta veste era o contraste da areia com as chamas da mística fogueira.

O observador a encarou profundamente, os olhares de ambos se fundiram e tornaram-se apenas um único olhar. A observada não resistiu, foi ao encontro dele, ela precisava, era necessário aquele encontro, não poderia esperar, agora a distância era mínima, somente o silencio os separavam.

A mulher se abaixou e abriu os braços, o lobo foi até ela e se rendeu ao encanto do seu abraço, agora estavam juntos novamente, nem mesmo a morte poderia separá-los, o fogo havia revelado o reencontro. O uivo da criatura foi tão profundo quanto as lágrimas da bruxa, não havia mais silencio, o fogo, o mar, a areia e o céu eram agora os observadores, e também as testemunhas.

Após séculos os amantes estavam juntos, novamente era possível o amor de um lobisomem e uma bruxa. Apenas precisam esperar a lua cheia ausentar-se e o sol entrar no seu turno, ai sim, será possível o casal consumar a paixão já consumada em vidas passadas.

Willians Rodrigues
Enviado por Willians Rodrigues em 03/03/2018
Código do texto: T6270057
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