Novo velho futuro

Eu já tinha vivido tudo que precisava, havia chegado a minha hora. Escolhi, então, aquele lugar dos tempos de criança onde os frutos caem. Um lugar bonito e simples, como quase toda a minha vida. Quase; porque, um dia, eu perdi a esperança. Ela escondeu-se, recusava-se a me acompanhar. Acho que era a certeza de que a água que foi não volta ou a idéia de que o mundo é de poucos. Não sei. E o que mais doía, eu lembro bem, era a lembrança de um lugar bonito, de um amor perfeito, de um campo de lírios. A certeza de que outros eram felizes, de que o mundo, no fundo, ainda tinha jeito. Mas fui vivendo assim: sem crença, sem amor, sem nada. Fui vivendo, aliás, sobrevivendo assim. Nada me importava... Minha mulher, antes tão propaladamente amada, se foi sem ouvir palavras de amor. Eu fiquei. Fiquei na minha, só minha, casca de noz, aliás, não só eu, já que comigo ainda carregava uma lembrança daquele belo mundo cheio de árvores e lírios, onde os frutos ainda caem.

A maturidade, com o tempo, veio carregando consigo uma nova vontade de sorrir verdadeiramente, de amar a mim e a minha vida. Essa maturidade, no entanto, chegou em uma hora imprópria: eu já não tinha minha mulher, já não podia ter filhos, eu já conseguia, naquele momento, ver o avesso da vida, eu já não poderia ser feliz... As cartas já estavam todas na mesa...

Por isso lhes peço: não se deixem descrer... ainda existem campos com frutos caindo, cheios de lírios. Basta VOCÊ querer. Basta você crer. Os frutos caem, eles ainda caem.