Rirone - Ato 7

Ato 07 – Força Tarefa, parte 2

- Mas que idéia absurda garoto! – Retrucou o Almirante Gêiser assim que Ícaro terminou sua frase.

- Semente da Vida, ora bolas, superstições não são bem vindas na nossa tropa.

Ícaro ficou muito desconfortável com o tom de voz do almirante, lembrou-se do que o mestre Shugal havia lhe dito durante o treinamento: “Não adianta tentar convencer os militares de Fe-ho, eles são em sua maioria céticos aos assuntos relacionados com os Senhores de Rirone, profecias, orações e etc.”

Enquanto os capitães Pietra, Tales e Amanda permaneciam quietos, o almirante continuava seu tique nervoso ao falar com os recrutas. Sentado impaciente, ele se levanta e começa a caminhar pela sala enquanto continuava sua fala:

- Ordens são ordens, e por isso, vocês três irão guiados por este mapa – O almirante estendeu sobre a mesa um mapa das redondezas – e devem chegar ao local do ocorrido esta noite.

Lilí e Rufus pareciam empolgados, enquanto que Ícaro ainda se sentia um idiota. Seriam todas aquelas histórias acerca de sua Semente da Vida invenções do mestre para fazê-lo conseguir entrar no exército?

- Tales, eu quero que você guie os garotos até o local, pois recrutas não tem experiência com mapas. – Gêiser deu o mapa para Tales.

- Pietra, acho que seus homens precisam de você – Intrometeu-se Amanda, garota atrevida como ela só.

- Pois você Amanda, coordene os demais recrutas em sua missão de apoio. – Respondeu o Almirante em tom de desaprovação. Pietra sorriu, fez um sinal de tchau para os três garotos e saiu da sala.

Após preparas os equipamentos que se limitavam as suas pequenas armas, um pouco de cereais e um cantil com água, os três seguiram com Tales para fora do palácio. Subiram pelas escadarias até atingirem o ponto mais alto da cidade. De frente aos enormes portões que marcavam a saída principal, os três olhavam fascinados os enormes muros que cercavam a cidade. Não que eles estivessem diferentes de antes, mas agora, muitos recrutas e soldados caminhavam sobre eles, o que fazia com que Rufus projetasse uma invasão inimiga em sua criativa mente.

Passaram pelo ponto central aonde se localizava o portão e seguiram com Tales pelo trecho que os conduzia a uma saída definitivamente menor. Uma pequena escotilha que ao ser aberta revelava um estreito corredor e do outro lado a região que um dia foi coberta por arvores e serviu de lar para centenas de animais.

Eles estavam na região de corte de madeira, e seguindo por uma trilha, chegaram finalmente na beira das Montanhas Monstruosas. Foram precisas três horas para chegarem ao ponto marcado no mapa. Durante esse tempo, Tales não disse uma palavra, a não ser quando foi obrigado a mandar Rufus parar de cantar trechos de canções militares: “Soldado de Fe-ho, forte e audacioso. Entrega sua vida pelo reino poderoso. Nunca recua e o inimigo destrói. Um soldado de Fe-ho é sempre um herói!”

- Este é o local, vocês devem aguardar aqui até segunda ordem. – Tales deu as poucas instruções e preparava-se para ir embora.

- Tales, obrigada por nos guiar. – Lilí tinha os olhos brilhando ao agradecer o comandante.

- Lilí, você é ma recruta e esse é seu primeiro dia no exército, pó isso vou perdoá-la. Tales respondeu com uma cara descontente.

- Quando se dirigir a um oficial superior, trate-o como Senhor. Entendido?

- Ah... Sim... Erhh, Senhor! – Lilí ficou envergonhada.

A noite fresca fazia com que o trio se sentisse confortável. O ruído dos animais não era estranho para Ícaro, que treinou durante anos naquela região, mas para Lilí e Rufus, que nunca haviam saído da cidade, aquilo era tão exótico quanto assustador.

Sentados envolta de uma fogueira, os três já permaneciam no local por várias horas. Rufus preparou uma guloseima feita de queijo que surpreendeu seus amigos. Nunca haviam experimentado algo tão saboroso.

- Como conseguiu isso Rufus? – Perguntou Ícaro.

- Minha avó prepara a massa. Usa ingredientes trazidos pelo meu tio que mora em Pyros. Chama-se pão-de-queijo.

Depois de jantarem a deliciosa guloseima, eles já estavam exaustos de ficarem quietos. Ícaro se propôs a ir buscar mais lenha para a fogueira enquanto Rufus já dava sinais de sono. Lili estava deitada na grama olhando o céu por entre a copa das árvores e nem escutou o que Ícaro disse.

Caminhando pela mata, Ícaro ia recolhendo os pauzinhos e se afastando do ponto de espera, mas tomando cuidado para não perder a fogueira de vista. Ficar perdido em seu primeiro dia no exército não era um bom começo.

Apanhando no chão o ultimo graveto, Ícaro já dava meia volta quando algo magnífico o surpreendeu. Entre duas enormes pedras no chão, uma luz intensa surgiu como um relâmpago e logo permaneceu fixa com a força de uma pequena vela. Segundos depois, a pequena força foi aumentando e tornou-se forte como uma enorme labareda de chamas.

Ícaro deixou que os gravetos caíssem e tentou gritar para seus amigos. Nada saiu de sua boca. Ele tinha os olhos esbugalhados e presos na imagem que se formava nas chamas.

A silhueta de uma garota foi formada e se materializando na floresta, a linda e exuberante garota de cabelos loiros saiu de dentro das chamas e com ela, um calor quase insuportável.

Ícaro permanecia atônito com acena e sentia suas pernas tremendo. Enquanto a garota se aproximava, ele tentava pronunciar o nome: “En... Enf... Enfa de Pyros!”

- Não se preocupe menino. Eu sou Enfa, a princesa herdeira de Pyros. Diga aos seus amigos que me viu partindo em direção a Pyros mas que não pôde me alcançar.

A garota parecia possuída por alguma entidade, pois suas palavras vinham numa voz grave, como a de seu mestre quando concentrava suas energias.

- Procure por Shugal, e diga que despertei minha semente. Ele tem algo para você fazer.

Enquanto Ícaro tentava voltar à realidade, Enfa desapareceu em chamas, assim como os mensageiros haviam dito.