Terra plana

Naquela época, ascendeu ao poder uma turma exótica, um cabeça de chapa que tinha raízes no crime, falava em matar os adversários, subvertia a verdade de todos os modos, escolhia ministros que serviam a seus objetivos, os quais podiam ser resumidos num simples corolário: destruir. E os seus eleitores, que deviam encontrar alguma identidade com aquele tipo que, para eles, representava o novo, o diferente – pessoas que, de maneira geral, desconheciam Calígula, com seu Incitatus, e tantas outras figuras esdrúxulas da História – boa parte de seus eleitores achavam-no o máximo, alguém que limparia o país, introduzindo em suas hostes a honestidade, a franqueza, a transparência. Ao longo dos anos de seu governo, que seria mais apropriadamente chamado de desgoverno, o tipo se especializou em frases de efeito: os mais sagazes perceberam que elas serviam para despistar a atenção do povo, enquanto realizava as suas maldades. Ele tinha as costas quentes porque lambia as botas do Império, que, naquela época, submetia nações fragilizadas, quer pelas armas, quer pelo aliciamento de suas elites. Inerte diante da situação bastante inusitada que vivia, vendo-se acuada por todos os lados, a população penava sob a fome e o desemprego.

– E então, o que aconteceu?

Um belo dia, veio a grande explosão. Um meteoro caiu sobre o palácio presidencial, devastando tudo e todos. O impacto foi tremendo. Aos poucos, o país se reorganizou: a educação, que estava no seu pior momento, foi reabilitada, a justiça reencontrou seu propósito de defender os injustiçados e punir os culpados, a imprensa preocupou-se em ser mais fidedigna. Em resumo, o país reintegrou-se na Terra, que, deixando de ser plana, voltou a girar.