O CAVALEIRO DA MORTE II

Continuação dos contos do Cavaleiro da Morte... este é o segundo conto

A ponta fina, fria, curva, encontra a pele e perfura. Um filete de sangue escorre. Um puxão. Um pedaço de carne vem junto. O osso fica exposto e com um chute certeiro se parte. Nenhum som, nenhuma dor. Só escuro, frio, morte.

A foice atacou novamente. Metade do estômago saiu presa na ponta. O sangue jorrou farto. Um novo ataque, mais sangue. O chão já se ensopava com o líquido vermelho. E ainda não havia sons, não havia dores. Só as trevas habituais do lugar. A tortura seguiu por horas sem fim.

Os restos mortais do que já fora um inimigo foi lançado, como um monte lixo, pelo penhasco a frente. Kriausxam fazia mais uma vítima. E estava cada vez mais próximo de controlar o lugar.

Partiu. Havia decidido que precisava encontrar velhos amigos. Livrar-se de mais alguns.

A paisagem do lugar era típica. Pouco se alterava por mais longe que se andasse. Árvores negras, retorcidas e sem folhas. Capim seco crescendo. Estradas longas, estreitas e sombrias. Escuridão eterna, apenas o brilho parco de uma pequena lua, eternamente cheia e fixa no céu. O clima pouco variava, mas sempre frio. Não existia fonte de calor. A terra era quase sempre plana, com alguns acidentes geográficos espalhados pela região. Pequenos casebres surgiam eventualmente em meio às estradas, mas eram mais comuns pequenos vilarejos. Só havia dois grandes centros.

No extremo sul, a cidadela Puckbal era o grande ajuntamento que recebia os recém-chegados. Era uma terra sem lei, onde o mais forte reinava. Um lugar imundo e sem graça, que demonstrava bem o que esperar de terras como aquelas.

A nordeste ficava a cidade que representava a capital, Badbbal. Terra do grande senhor do inferno. Povoada pelos mais diversos tipos de almas. É um local imundo e mal-cheiroso. Apesar de estar sob as leis diretas de seu senhor, a cidade é governada por diversas guildas. A cidade também é lar de outras figuras ilustres. Lendas dizem que na cidade há uma passagem para o mundo dos vivos e é possível voltar a vida atravessando-a. Ninguém nunca a encontrou. O lugar realiza várias festas. Todas brutais, sanguinárias, recheada de prazeres materiais. Mesmo assim, é o local tido como mais agradável naquele mundo de trevas.

Kriausxam seguia para uma pequena vila, desejava encontrar-se com Thot, o homem que o recebeu no inferno e treinou-o nas artes da guerra. Parecia um tempo infinito, pois no reino das trevas o tempo não passa, mas havia apenas dois ou três dias mortais que Kriausxam estava entre os mortos. Para ele, e para aqueles que conheciam sua fama, era uma eternidade.

Thot era um homem não muito alto. Pele negra ornamentada por desenhos diversos e intricados. O cabelo era formado por tufos, espaçados na cabeça marcada por queimaduras. Enxergava apenas do olho direito. O esquerdo era uma cratera vazia. Não possuía nariz e nem lábios. Mas conservava a pele lustrosa. Era forte e sábio. Ninguém sabia há quanto tempo Thot morava no inferno, nem mesmo o senhor das terras negras.

Kriausxam foi recebido com um forte aperto de mão. Ambos tinham muito que conversar. O Cavaleiro da Morte já havia nascido. Agora era preciso mostrá-lo o caminho a seguir. E Thot iria faze-lo. Começou a conversar com seu pupilo, e a ouvir seus relatos...