MECSTAR — O APRENDIZ DE HERÓI • 16

• Capítulo 16 — Däk •

— Agora se não se importa, caro oficial — disse o Sábio para Bongo — gostaria de me despedir do meu amiguinho em particular, se não for pedir muito.

— É claro... — Disse Bongo, estendendo suas quatro mãos para pegar o mapa.

O Sábio relutou por um segundo, mas então cedeu. Bongo enrolou o mapa e se dirigiu para sua nave.

— Não vá demorar muito, Mectá, já perdemos muito tempo aqui nesse buraco. — Disse ele antes de entrar.

— Desculpe por não ter contado antes — sussurrou o Sábio quando a porta da nave abóbora foi trancada. — Mas temo que a Bola de Gude Carambola caia em mão erradas.

— É claro. Eu entendo... um herói...

— Veja, filho, ela é um objeto muito poderoso, capaz de interferir na história de todo o universo... E.... se ela caísse nas mãos da Coroa...

Levei três segundos para entender.

— Espera... então a Coroa é do mal?

— A vida real é muito mais complexa que uma história de heróis, meu jovem. Eu não seria tão ávido em rotular ninguém como mau nem como bom... Mas, o inferno que me queime, se tem alguém que poderia sim ser rotulado como má essa é Baba-Gagá!

— Baba quem?

— Esse é o nome da Coroa.

— Quando você fala em “Coroa” se refere exatamente a o quê? Um reino, uma pessoa ou um objeto?

— Os três! Tudo isso se tornou a mesma coisa desde que Baba-Gagá pôs as mãos no cetro imperial.

— E o que deve ser feito então com a Bola de Gude Carambola?

— Isso nem eu mesmo, que sou chamado sábio, posso dizer com toda certeza. Enquanto ela existir um enorme perigo estará sempre à espreita, porém ela não pode ser destruída assim tão facilmente. Acredite, eu tentei de todas formas imagináveis! Cheguei a dá-la de comer para uma Miltopéia de Três Cabeças e Cento e Um Ferrões! Mas no outro dia, ela estava lá intacta na porção hedionda de seus excrementos. Pedi com muita educação para que um abutre a soltasse das alturas sobre as rochas do mar vermelho, e não havia se quer um arranhão em sua superfície vítrea quando a segurei em mãos. Visitei o ferreiro mais forte da galáxia no planeta Martegorna, isso quando eu ainda tinha disposição para viagens interplanetárias, e tudo me custou uma boa centena de solaris, pois Steelin o’Mettalicus quebrou sete de seus melhores martelos e três de suas melhores bigornas ao tentar, em vão, quebra o artefato. No fim ainda fiquei trabalhando para ele para cobrir os prejuízos por três anos e meio. Finalmente contatei um realmente grande sábio em Tipherath, ah, que planeta magnífico... e, bem, ele me sugeriu “atirá-la na montanha de fogo onde outrora ela tinha sido feita”... o que muito estranhei, pois, jamais havia ouvido falar que ela tinha sido feita num vulcão. Porém, como já tinha tentado de tudo, achei que não faria mal se fizesse mais esta tentativa... e a Cordilheira das Chuvas Infinitas parecia o lugar perfeito para deixá-la, de qualquer forma.

Respirei fundo.

— Então o senhor a deu de comer para um dragão? E... ficou esperando pelo outro dia, assim como fez com a Miltopéia?

— Não! Não seja precipitado, jovem Svam, jamais fiz isso. O fato de ela estar “na barriga de Thar-Dragão” é um enigma que espero que você resolva em breve. Mas já falamos demais, seu amigo verde deve estar apressado para sair “desse buraco”, como ele disse. Só lhe digo uma coisa. Se quiser ser um herói, um herói de verdade, não deixe que a Coroa ponha as mãos na Bola de Gude Carambola!

— E quanto as outras duas?

— Outros dois membros... da Ordem do Raio Vermelho ficaram encarregados de cuidar delas, mas perdi o contato com eles há alguns meses. É terrível, mas tendo a acreditar que a esta altura a Coroa já as têm em mãos.

Minha cabeça girava.

— Carambolas... eu queria mesmo ser um herói... mas jamais poderia imaginar que o futuro do universo fosse depender realmente de mim. Não em tão pouco tempo! E agora que só depende da minha vontade e coragem para fazer algo realmente heroico e entrar para a história como um verdadeiro herói... eu só o que consigo pensar é: e se eu falhar?

— Não seja tão egoísta. — Ele deu-me uma tapa na cabeça — Nada, nunca, em nenhum momento, depende de uma só pessoa. Não importe o qual importante ela pense que é. Existe uma rede na qual você e eu somos no máximo um ponto numa linha. Mas veja, eu fiz minha parte, e agora confio a você que a continue, pois sinto que meu tempo está para acabar. Você não está sozinho nessa, acredite.

— Como não? — Cocei minha cabeça que doía — O Bongo tem uma cabeça dura como uma porta. Bem mais que a minha... Não passa de um soldado cumprindo ordens cegamente. Você acha mesmo que ele vai me ajudar? Ele vai levar a Bola de Gude Carambola para a Coroa tão logo puser as mãos nela.

— Sim. A sua missão é impedir que isso aconteça, se ainda não percebeu. Sei que pode parecer muito difícil agora, mas lembre-se que não está sozinho.

Olhei para Luna farejando alguma coisa no chão.

— Tá falando dela?

— Também... Mas não só ela. Você verá. Agora vá, compre seu guarda-chuva e tenha cuidado para não perdê-lo. Sei que não tem dinheiro, mas aqui está um solaris.

Eu olhei para aquela dourada moeda brilhante. Jamais tinha visto se quer um lunaris. Tinha conseguido apenas alguns poucos terraris das vendas de minhas mercadorias roubadas.

— Tudo isso, só para mim?

— Você vai precisar. Afinal, imagino que viajará pelo espaço aberto em breve. Compre o guarda chuva, mas compre também um traje espacial. E uma arma ordinária, para não depender do seu antigo artefato sempre.

— Muito... muito obrigado, senhor... como é seu nome?

— Me chamo Queptarconpúlis Tiniberius, no meu idioma natal, mas tenho outros nomes. Pode me chamar de Däk, se quiser.

— Däk. Me desculpe, mas preciso mesmo perguntar: e você? O que vai fazer? Vai ficar aqui parado?

— Irei tentar algum contato com algum membro da Ordem do Raio Vermelho. — Ao dizer isso, o Sábio pegou novamente seu fazedor de bolhas e começou a soprá-lo enquanto se afastava de mim.

Soprava e fazia inúmera bolhas de sabão coloridas, quando já estava afastado, disse:

— Adeus, jovem Svam, desejo boa sorte e que não se afaste do seu propósito.

— Obrigado! Obrigado!

A porta da nave se abriu e Bongo apareceu.

— Podemos ir?

— Sim, mas só depois de fazermos umas comprinhas. — Falei, mostrando meu lindo solaris que refletia a tripla brilhante luz dos três sóis de Bolaranja.

Davyson F Santos
Enviado por Davyson F Santos em 30/11/2022
Código do texto: T7661696
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