O CAVALEIRO DA MORTE III

O rapaz era virgem, como Thot costumava dizer. Não sabia lutar, não sabia matar. Não tinha vícios, não tinha os desejos e a mente dos humanos. Mas, Thot percebia, o garoto merecia estar ali. O pecado devia ser grave, pois sua mente estava em cacos. Ele estava ferido, não uma ferida física, mas uma ferida na alma. Thot podia vê-la. O corte era grande, profundo e sangrava. O jovem não pronunciava uma palavra.

Thot encontrou o rapaz caído num subúrbio, destruído. Sem sentimentos, sem esperança, sem vontades. Ele era apenas dor e solidão. Thot percebeu que poderia ser útil o rapaz. Viu potencial nele. Seria um bm guerreiro, uma boa arma. Tinha planos para ele, por isso levou-o para casa. Cuidou do garoto e iniciou seu treinamento.

Kriausxam nasceu das dores do jovem, do sentimento que, mais tarde Thot descobriu, ele ainda possuía. Mas ele se tornou a máquina de morte que Thot desejava. O tutor estava feliz. Seu treinamento foi rápido, doloroso, bem sucedido. Kriausxam estava em restos do que já fora um dia. O corpo destruído, a alma sangrando, a vontade de matar presente. Nascida da dor que lhe foi imposta. Ele aprendeu a suprir sua dor infringindo dor aos outros.

Thot deu-lhe uma montaria. Um cavalo perfeito para o estado do jovem. Um enorme exemplar morto-vivo. Agressivo e inteligente. Maligno. Kriausxam gostou da montaria. Thot ainda presenteou-o com uma de suas capas velhas, que Kriausxam usou para esconder sua aparência. Mas de todos os presentes recebidos, aquele que mais agradou o garoto foi a foice. Era uma foice bem trabalhada com a lâmina numa curvatura perfeita, fina e bem trabalhada. O cabo era de madeira com aparência tosca, mas rígido. O maior atrativo era a ponta fina, poderosa, afiada. Eternamente fria.

Juntou suas coisas e partiu.

Kriausxam era agora O Cavaleiro da Morte.

Galopou rápido. Um rastro de sangue no caminho. Uma fama sendo espalhada. Um mito criado. Em cada parte do inferno O Cavaleiro da Morte se fazia conhecido. Uma lenda real que assombrava a todos.

Kriausxam adentrou a pequena vila. Não mais de dez casas e uma praça. Sacou a foice ao entrar e derrubou quatro numa corrida. Outros sete apareceram. Com um giro da foice, ele abriu dois.Um tentou flanqueá-lo, morreu com a cabeça sob as patas do cavalo. Outro investiu por trás. Recebeu um golpe na testa com o cabo da foice. O sangue esguichou, mas o homem se manteve em pé. Veio um terceiro, pulando sobre ele com uma lança em punho. Cravou-se na ponta da foice e foi lançado sobre o ferido. Sons de osso quebrando. A lança ficou na mão do cavaleiro, que a arremessou no peito de um dos homens. Restava apenas um. Mas esse era diferente.

Os olhos expressavam um desejo maligno. O rosto bonito, adornado por pirciengs, tinha um olhar sedutor. O corpo esguio e alto exibia um jeito malandro.

Kriausxam deu-lhe o primeiro soco e então tudo se calou. Havia apenas o silêncio. E assim teve inicio a tortura.

Kriausxam terminou o relato da luta. Thot olhou-o com admiração.

- E então, garoto? O que veio fazer aqui?

- Revelar-te meu destino...