O GRILO GRITANTE 

 

Grilo Gritante resolveu ir numa balada na casa da dona cigarra, que ficava na outra margem do lago. Ele queria muito se divertir, pular e dançar até o dia raiar. O mais difícil para ele era chegar ao local, tinha suas asas, mas não sabia voar, e as suas pernas já estavam cansadas de tanto saltitar, pois vinha de muito distante. ‘’Certamente que a minha presença vai agradar, sou barulhento e dançador, vou deixar o ambiente mais animado’’, pensou em voz alta. Precisava da companhia de outro inseto, não sabia bem certo o caminho. Então, ficou alojado detrás de uma árvore, para esperá-los passar. O primeiro foi a horripilante barata, se arrepiou todo, tinha muito medo, ela era grande, voadora e muito asquerosa. — Nem me pagando eu acompanharia, falou. Silencioso, permaneceu quieto e bem antenado, de repente lá vem o marimbondo, o Grilo Gritante escondeu-se e falou: — Nem morto vou com ele, tem os ferrões enormes e a sua picada é dolorida, deixa ele seguir, quem sabe passa a minha amiga, vespa. De muito longe, ouviu o zumbido da abelha, não poderia acompanhá-la, era a abelha rainha, imponente e muito valente, sempre mudava de rota para não encontrá-la. Estava cada vez mais difícil a situação, tinha que ficar atento, estava a esmo e a qualquer instante poderia ser devorado por um lagarto, sapo ou até mesmo pela aranha. “Um olho lá, o outro cá” pensava, não poderia gritar para não chamar muita atenção dos insetos peçonhentos. Ele olhou para cima e lá estava a libélula, parecia uma dançarina no ar, as suas asas compridas cintilavam feita uma estrela, as suas cores embelezavam o mundo. Não tinha como acompanhá-la, parecia uma fada encantada. Deslumbrado, permaneceu calado e resolveu seguir sozinho, as horas passavam, os minutos e cada segundo era essencial para participar do animado evento. Um pulo ali, outro acolá e, rapidinho, a mutuca passou por ele, quase que levava um ferrão, conseguiu escapar e continuou. Cantava baixinho, o vento soprava no seu ouvido, ficou impaciente, pois não gostava de barulho. Não aguentava mais, estava exausto, mas não podia desistir, já percorrera a metade do caminho, mesmo arquejando, respiração ofegante, era o jeito seguir. Como por encanto, o gafanhoto, o seu grande amigo, ágil e robusto, encostou. — Para onde vai amigo? Perguntou. — Vou ali no fuzuê da dona cigarra, respondeu. Então, mais que depressa, ele subiu sobre as costas do gafanhoto e juntos partiram, mirou para trás e gritou: fui! De longe avistaram a festa, eram tantos insetos: besouros, borboletas, mosquitos, moscas, pulgas, pernilongos entre outros. Ele chegou muito eufórico, vociferando e pulando tão alto, mais tão alto que logo atraiu a atenção de todos ao seu redor; a cigarra ficou muito contente diante das suas brincadeiras, o barulho era tão ensurdecedor que deixou todos extasiados. Do alto, a fantasiosa libélula e o iluminado vaga-lume difundiam fachos de luzes, embelezando a noite e tornando o local maravilhoso, mágico e cintilante.